O outra face do Face

A histórica abertura de capital do Facebook na bolsa de valores não passou de especulação

Thaís Lobo

 

Nascida em Havard em 2004, o Facebook logo se espalhou pelo mundo, chegou às telas de cinema e ainda se tornou instrumento de revoluções, como na Primavera Árabe. Agora, a maior rede social do mundo está também nas bolsas de valores, mas o sucesso não se repetiu no competitivo mercado financeiro. 
Há três semanas, no dia 18 de maio, o Facebook iniciava uma nova estratégia comercial: a abertura de seu capital para a venda nas bolsas de valores. Avaliada em mais de 100 bilhões de dólares, a empresa fez história ao fixar o preço de 38 dólares por ação, a maior oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) já registrada na Nasdaq, a bolsa de valores de tecnologia americana.
As inúmeras especulações sobre novos investimentos e o crescente avanço da rede gerou otimismo nos investidores. No primeiro dia de venda, as ações chegaram a 42 dólares, superando - e muito - o valor real da empresa.
Contudo, a resposta do mercado não foi favorável. Dois dias depois de sua estreia na bolsa, as ações do Facebook despencaram, chegando a ser negociadas a 26,83 dólares. Em duas semanas, a empresa gerou um prejuízo de 26 bilhões de dólares. 
Até mesmo Mark Zuckerberg, o famoso co-fundador da empresa, não escapou das perdas financeiras. Perdeu 5 bilhões de dólares em 15 dias e deixou de figurar na lista das 40 pessoas mais ricas do mundo. 
De acordo com o professor de webpublicidade da UFG, Marcilon Almeida, um dos motivos da queda das ações é que o modelo de negócios do Facebook não se mostrou sólido para os investidores.  “Um exemplo recente foi a General Motors que anunciou que não vai investir em publicidade dentro do Facebook, porque o resultado disso para empresa era mínimo. E muitos investidores ficaram assustados com isso e começaram a fazer o mesmo”, analisa Almeida. 

Fraude?
Além disso, hoje o Facebook e os bancos que inseriram as ações da empresa na bolsa de valores estão sendo processados. A ação é movida pelos acionistas que alegam que a rede social escondeu, antes da abertura do IPO, informações a respeito do crescimento da empresa, que seria mais fraco posteriormente. 
Para o professor, a suspeita de fraude também afasta os investidores. Mas enquanto o Facebook tenta resolver suas pendências jurídicas e financeiras, os usuários podem esperar por muitas mudanças. 
De acordo com Almeida, com a abertura do capital, a maior rede social do mundo deve se dedicar mais aos retornos financeiros do que com a inovação. “Eles vão passar a ter uma pressão externa dos acionistas. Então aquilo que era divertido, que era o campo novo a ser explorado, passa a ter uma nova realidade de gerar retorno para os investidores”, ressalta.
Com isso, muitas coisas podem mudar na rede como, por exemplo, a publicidade. “O Facebook tem uma licença de uso muito ampla que permite que eles façam uso de muitos dados seus para gerar receita. E você pode ter certeza que isso vai acontecer de agora em diante”, alerta Almeida.

O Face em números


* A maior rede social do mundo tem 900 milhões de usuários ativos
* 83% de sua receita total vem de publicidade. Isso representa 3,15 bilhões de dólares 
* 12% da receita do ano passado veio de games e aplicativos produzidos pela Zynga
* Em 2011, o lucro líquido da empresa foi de 1 bilhão de dólares 
* A cada 24 horas, 300 milhões de fotos são postadas
* Diariamente, 3,2 bilhões de pessoas postam comentários ou curtem alguma página 
* No ano passado, o Facebook gastou 28 milhões de dólares com publicidade 
* O site concentra hoje 17,7% da receita de publicidade online de display, mais do que Google (9,3%), Yahoo (13,1%) e Microsoft (4,9%)

Fonte: Tribuna do Planalto