Educação Indígena avança e mostra resultados no Tocantins

por Josélia de Lima

 

No Tocantins, a Educação Indígena ganha passos significativos e os alunos e professores começam a se destacar em diversas atividades, como o jovem Marlon Apinajé, da Escola Indígena Tekator, localizada em Tocantinópolis, região Norte do Tocantins, que foi escolhido para acender a Tocha Olímpica durante a solenidade de abertura dos JETS – Jogos Estudantis do Tocantins. Marlon representou diversos indígenas que competiram nas modalidades dos JETs.

Outro destaque na Educação Indígena é Júlio Kamêr Apinajé, 25 anos, que administra sete escolas indígenas. Ele fica na Aldeia Matriz e de lá orienta professores, caciques, pais e alunos sobre os desafios de manter vivas a língua e a cultura materna.

Júlio cursa Licenciatura Intercultural Indígena na UFG - Universidade Federal de Goiás e já prepara o seu trabalho de conclusão de curso sobre a alfabetização indígena. Ele defende que primeiro as crianças deveriam ser alfabetizados na oralidade cultural do seu povo e, só em um segundo momento, aprenderiam a ler. “É um processo próprio de alfabetização para o povo Apinajé, primando pelos discursos, pela oralidade, pela contação de histórias e pelas cantorias”, afirma Júlio, que estuda com colegas de 12 povos diferentes e considera muito importante essa interculturalidade e troca de experiências.

Falando nos avanços da Educação Indígena, Júlio conta que há um diferencial considerável, em 2009, por exemplo, era comum encontrar pessoas não indígenas sendo diretores de escolas. Agora, com a formação indígena, melhorou a autoestima e, com gestores e professores indígenas, a escola passou a ser mais atrativa e a produzir melhor.

Apostamos no conhecimento tradicional próprio Apinajé para melhorar a qualidade do ensino”, frisou Júlio. O desafio maior é construir um currículo que atenda as especificidades de cada povo, a língua e a cultura.

Ele fez parte da equipe que se reuniu nas edições regionais da Flit – Feira Literária do Tocantins para discutir a elaboração do Projeto Político Pedagógico das Escolas Indígenas. Coordenaram as oficinas as professoras Lídia Soraya e Jandira Aquino de Oliveira.

A professora Maria Célia Apinajé, da Escola Tekator, mãe de quatro filhos, explicou que gosta de repassar aos alunos a cultura do seu povo, as danças, a pintura e gosta de compartilhar o que a escola produz com outras instituições.

A professora de História, Maria Lucileia, que trabalha desde 2007 na Escola Indígena Tekator, conta que sua maior dificuldade de trabalho ainda é a língua indígena, mas que, com o tempo, passou a se comunicar melhor. “Gosto de trabalhar com os indígenas por ser um povo acolhedor. Não temos problemas de indisciplina e percebemos que os nossos alunos possuem uma habilidade em desenhos e outras artes”, diz a professora.

Na última década, houve avanços significativos na política para a educação indígena. A começar pelo reconhecimento à escola como um direito e não mais um serviço de assistência”, explicou Gersem Baniwa, coordenador geral da Educação Escola Indígena do Ministério da Educação.

Perfil da educação indígena no Brasil

A educação indígena teve sua garantia na Constituição de 1988, parágrafo 2º do Artigo 210, que assegura aos povos indígenas o ensino fundamental em Língua Portuguesa, além de suas línguas maternas. No Brasil, são 2.836 escolas e cerca de 200 mil estudantes na rede de Educação Básica, segundo dados do Censo Escolar ano referência 2010. São 12 mil professores indígenas. No Brasil, são 234 povos indígenas, que falam 180 línguas.

Tocantins

No Tocantins, o Governo do Estado atende 5.540 indígenas, sendo 1.643 alunos Krahôs; 157 estudantes do povo Xambioá; 539 javaés; 1.213 filhos do povo Xerente; 873 Apinajé; 1.073 do povo Karajá e 42 do povo Krahô Kanela.

São 350 professores que trabalham em 92 escolas sendo oito delas na Diretoria Regional de Ensino de Araguaína; oito na DRE de Gurupi; 30 na DRE de Miracema; 22 na DRE de Pedro Afonso; 12 na DRE de Paraíso e 12 na DRE de Tocantinópolis.

Foco na pedagogia indígena

De acordo com a assessora especial para assuntos indígenas da Seduc - Secretaria da Educação, Orcidália Martins Feitosa, a secretaria, ao longo do processo de transição de competência quanto ao atendimento da educação escolar indígena, buscou primeiramente o fortalecimento estrutural das unidades escolares por ela recebida, construindo novas unidades, reformando e ampliando onde existia necessidade.

Depois da construção de novas escolas, o trabalho teve foco no equilíbrio entre as práticas pedagógicas próprias de cada povo e os conteúdos mínimos exigidos nacionalmente em cada etapa do ensino, ou seja, nos dias atuais a preocupação é com o currículo e a aprendizagem dos alunos.

Orcidália também ressalta que a Secretaria da Educação buscou fortalecer a autonomia dos povos por meio de instrumentos de controle social e participação efetiva das comunidades na implementação das diretrizes educacionais. Exemplo disso é o funcionamento do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena e a realização periódica de reuniões do Comitê Indígena, composto por representantes da Seduc, Ministério Público Estadual (MPE), FUNAI, Diretorias Regionais de Ensino e Indígenas.