Iris é o maior cabo eleitoral de Paulo Garcia, mas...

Nos últimos meses, o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), tem adotado como estratégia política o foco no maior partido aliado que tem, o PMDB, e na sua maior liderança, o ex-prefeito Iris Rezende. Em suas ações, o petista deu várias provas que Iris possui um “passe VIP” no Paço Municipal e nas articulações políticas da aliança PT-PMDB. O problema é que com toda a atenção voltada para o PMDB, Paulo tem preterido aliados importantes. Por isso, a Tribuna foi atrás de estudiosos e aliados para saber o perigo de tal comportamento. Eles são unânimes em passar a seguinte mensagem: Iris Rezende é forte, mas, para ga­rantir a vitória, Paulo não po­derá se esquecer dos demais.
Esse excesso de foco no PMDB e em Iris tem causado descontentamento até mesmo dentro do partido de Paulo Garcia, o PT. Na avaliação de lideranças ligadas ao Paço, Paulo Garcia dispensa muita atenção ao PMDB e se esquece de focar em outras costuras políticas e demandas que são importantes para levar a campanha às ruas.
A questão que vem em mente, então, é se somente Iris é o suficiente para reeleger Paulo Garcia no pleito de outubro próximo. Para o cientista político e professor da UFG, Pedro Célio Alves Borges, a resposta é não. “Se ele deitar nesse berço esplêndido, corre o risco de perder a eleição para ele mesmo”, diz, em entrevista à Tribuna (leia na página 5). O professor ainda completa dizendo “acreditar que Paulo é muito inteligente para pensar assim (que se reelege apenas com o apoio de Iris)”.
Já para o presidente re­gio­nal do PT, Rubens Otoni, Iris é importante, mas o es­forço precisa ser somado a ou­tras ações políticas, in­cluindo as costuras políticas com outros partidos, de mo­do que a candidatura ganhe mais musculatura. "É claro que ele soma, mas sabemos que há um conjunto de ou­tros fatores para que Paulo se­ja eleito. Primeiro sua realização e depois os arranjos po­líticos e mobilização", explica.
A cientista política e professora da Unicamp, Maria do Socorro Braga, vai além dos apoios políticos e lembra que o candidato não pode ficar escorado em uma liderança de maior peso, sem ter a sua própria personalidade. "Sem o empenho do candidato, sem um projeto e resultados de sua gestão, não há cabo eleitoral de peso ou figura carismática que sustente", afirma ela.

Mudança de lado
A prioridade que Paulo Garcia deu ao ex-prefeito Iris Rezende e ao seu partido irritou aliados do prefeito durante o ano. Alguns preferiram se­guir outro caminho. Foi assim com o PC do B de Isaura Lemos. O prefeito não conseguiu dar prosseguimento às negociações políticas e o resultado foi o lançamento da candidatura de Isaura, que concorrerá contra Garcia pela cadeira número um do Paço Municipal.
Em entrevista a Tribuna, há alguns meses, Isaura reclamou da pressa em que o prefeito o PC do B, sem antes conversar e negociar com as lideranças. Na oportunidade, a deputada estadual disse que Paulo a havia lançado candidata à prefeitura sendo, inclusive, irônico. “Ele (o prefeito) disse: “lança sua candidatura”. Então, agora mais do que nunca, sou candidata”, frisou.
Um exemplo outro foi a posição do ex-peemedebista Vanderlan Cardoso, que disputou o governo do Estado em 2010. Ao deixar o PMDB, há duas semanas, o empresário a­firmou ter certo grau de insatisfação com a falta de voz nas articulações políticas do projeto eleitoral de Paulo Garcia. Disse, inclusive, que não saberia dizer se apoiará o prefeito em seu projeto de reeleição. Na semana passada, Vander­lan conversou muito com o pré-candidato Jovair Arantes (PTB) e pode apoiar o petebista.
Com a saída de Vanderlan do PMDB, o PSC também pode não apoiar o prefeito petista. Vale lembrar que o partido é controlado pelo ex-candidato ao governo e tem sua esposa, Izaura Cardoso, como vice-presidente regional. O vereador Simeyzon Silveira, outra liderança do PSC, também é fiel a Vanderlan.
O PSB do ex-deputado Barbosa Neto e do empresário Júnior Friboi também mostrou indisposição com o que chamou de prefeitura dupla entre PT e PMDB. Por vários dias pairou no ar certa tensão e não se sabia se o partido seguiria com Paulo. Interna­mente, lideranças chegaram a afirmar que apoiar o prefeito seria danoso, uma vez que o mesmo “só serviria a interesses do PMDB”. Nos bastidores, comenta-se que todo o burburinho lançado por Friboi, inclusive o suposto lançamento da candidatura de Barbosa Neto (op­ção que chegou a ser especulada) teve como objetivo principal mandar um recado ao prefeito e mostrar que o partido quer ser ouvido e, assim como o PMDB, também tem peso.
No discurso de Barbosa Neto na convenção do partido realizada na quarta, 27, não faltaram exigências ao prefeito. Segundo Barbosa, atualmente “existem duas prefeituras”, referindo-se à influência peemedebista na administração de Paulo. “Temos que dar a Paulo um mandato legítimo dado pelo povo de Goiânia, que ele não tem”, ressaltou.
Para alguns petistas, é arriscado focar apenas no fenômeno de transferência de votos, até porque nunca se sabe como isso ocorrerá. Para eles, o prefeito não conseguiu imprimir uma marca própria na prefeitura e peca pela inabilidade política de articular – tudo isso somado à inércia da candidatura até o momento. 
Segundo lideranças, não há até o momento nenhum tipo de mobilização a fim de planejar a campanha nas ruas e o corpo a corpo tão necessário em uma disputa municipal. Nesse sentido, a crítica petista pode se somar à crise vivida pela base aliada do governador que teve dificuldades enormes ao longo do processo de pré-campanha. Mas na avaliação dos correligionários de Paulo, com a máquina municipal nas mãos e a possibilidade de fazer um governo petista, Paulo foi ineficiente e não empolgou os aliados e muito menos o PT. Talvez apenas o PMDB.
Paulo Garcia, porém, também tem seus defensores. O se­cretário de Planejamento da prefeitura de Goiânia, Lívio Lu­ciano, diz que ele tem se esforçado para atrair lideranças para o seu projeto, "mas já era esperado que esse processo fosse mais longo e que nem to­dos os partidos o apoiassem de fato".

Aliança com PMDB foi prioridade

Com a derrota de Iris Re­zende na eleição de 2010, e o fraco desempenho das lideranças petistas a favor do peemedebista, a aliança entre PT-PMDB chegou a ser questionada internamente no partido de Iris. Com o sinal amarelo ligado, Paulo atuou para manter o seu maior aliado. Atualmente não há petista que não reconheça o empenho de Paulo em manter a coligação. O prefeito se esforçou para valorizar a importância do PMDB durante todo o período em que esteve à frente do Paço – não tomou decisões importantes sem antes consultar o líder máximo do PMDB. Este, por sua vez, cumpriu o sua parte e manteve o seu partido com Paulo.
Para o deputado federal Rubens Otoni, o prefeito demonstrou habilidade política ao trabalhar pela manutenção da aliança. “Todos nós sabemos que não era fácil, e que o Paulo trabalhou de modo a atender o PMDB e construir uma relação sólida com as lideranças do partido”, disse Otoni.
Para se ter uma ideia do grau de entrosamento do prefeito com as lideranças peemedebistas, a última reforma administrativa no Paço foi feita às barbas de Iris em seu apartamento. Otoni enxerga a aliança com bons olhos e afirmou que o PMDB dá mais segurança à candidatura petista. Na eleição deste ano, PT e PMDB estão juntos na proporcional e esperam fazer 15 vereadores. 
Para o professor Pedro Célio, Iris será importante na disputa, mas é preciso prestar atenção em outros aspectos importantes, especialmente em virtude do alto índice de indecisos e a falta de solidez do nome de Paulo Garcia, que apesar de ser prefeito ainda sofre por não ser plenamente reconhecido como tal – em partes devido à forte imagem de Iris que permanece no imaginário popular.
De acordo com o presidente do diretório metropolitano do PT e deputado estadual Luis Cesar Bueno o ex-prefeito é referência na administração e será importante para a reeleição de Paulo. “Ele foi o gestor mais bem avaliado na história de Goiânia. Asfaltou toda a cidade, investiu em infraestrutura e deixou para os goianienses o legado de habitar na cidade com melhor qualidade de vida”, elogiou o deputado.
Otoni preferiu não dizer qual será o papel de Iris na eleição de Paulo, mas acredita que diante do contexto político atual, o PMDB participará ativamente das discussões. “Ve­jo a conexão dos dois com bons olhos e creio que isso será po­sitivo para a segunda administração de Paulo e também, é claro, durante o período eleitoral”. 
Lívio Luciano lembra que o PT tem como aliado “o maior partido da cidade”. Segundo ele o partido de Paulo Garcia se esforçou para ter esse apoio, inclusive ao abrir a chapa proporcional. “O PMDB é um partido que traz peso porque é o mais forte em Goiânia”, disse ele.
Não há dúvidas que Paulo Garcia ganha tendo o PMDB e Iris Rezende ao seu lado. Várias lideranças, inclusive, fazem a análise de que sem Iris a reeleição de Paulo Garcia estaria comprometida. Os sinais que os partidários de outras agremiações dão, porém, é que Paulo pode perder muito se não se abrir e, principalmente, buscar o diálogo. Apesar de serem coadjuvantes, querem ser tratados como protagonistas. Cabe ao candidato, ou seja, a Paulo, saber fazer o jogo político e estancar a hemorragia de aliados de sua chapa. (P.C.)

As derrotas dos aliados de Iris Rezende

Apesar de ser um bom cabo eleitoral, o ex-prefeito Iris Rezende nem sempre conseguiu eleger seus aliados, tanto em Goiânia, quanto no Estado. Confira alguns candidatos apoiado pelo peemedebista e que não obtiveram êxito nas eleições que disputaram:

1996 – Derrota com o Palácio nas mãos

*  Nion Albernaz (PSDB) – 247.833 votos (55,71%) X Luiz Bittencourt (PMDB) – 197.029 votos (44,29%)*
* O então peemedebista, deputado Luiz Bittencourt, perdeu para o ex-prefeito Nion Albernaz. Na época Maguito Vilela era governador. A vitória tucana deu as base para a aliança que colocaria Marconi Perillo no Palácio das Esmeraldas, dois anos mais tarde;


2002 – Derrota dupla do PMDB no Estado

 * Marconi Perillo (PSDB) – 1.301.554 votos (51,20%) X Maguito Vilela (PMDB) – 833.554 votos  (32,79%)***
* Na reeleição do governador Marconi Perillo, o PMDB mostrou que ainda não estava preparado para vencer o tucano. Após sair na frente (segundo pesquisas), o ex-governador Maguito Vilela não conseguiu nem levar a disputa para o segundo turno. Iris perdeu embate para o Senado.


 2000 – Fiasco após derrota de 1998

* Pedro Wilson (PT) – 201.336 votos (37,18%) X Mauro Miranda (PMDB) – 32.164 votos  (5,94%)**
* Após perder o governo dois anos antes, o PMDB entrou em fase de reestruturação e teve um desempenho pífio nas eleições de Goiânia. Mesmo com Iris como cabo eleitoral, Mauro Miranda não chegou nem a 6% dos votos, e candidatura morreu já no primeiro turno.


 2006 – Favorito, Maguito perde de virada

* Alcides Rodrigues (PP) – 1.508.024 votos (57,14%) X Maguito Vilela (PMDB) – 1.131.106 votos (42,86%)****
* Novamente apoiando Maguito Vilela para o governo, Iris Rezende viu o seu partido perder outra disputa, desta vez para o governador Alcides Rodrigues, que conquistou a reeleição. Alguns aliados reclamaram de suposta falta de apoio de Iris, na época prefeito da capital.


* Votação para a prefeitura de Goiânia, dados do segundo turno (TSE); ** Votação para a prefeitura de Goiânia, dados do primeiro turno (TSE); 
*** Votação para o governo do Estado, dados do primeiro turno (TSE); **** Votação para o governo do Estado, dados do segundo turno (TSE);