Goiás supera média e tem 65% mais candidatos do que em 2008

De acordo com o TRE, 25.905 pessoas se registraram para concorrer a prefeito ou vereador em todo o Estado

Macloys Aquino

 

Se por um lado há descrença em partidos e em instituições políticas, por outro existe um movimento crescente de busca por estas instituições. Entre as eleições municipais de 2008 e as deste ano, houve um crescimento de 40% no número de registros de pessoas que querem ser vereador ou prefeito em todo Brasil. Goiás supera a média nacional com aumento de 65% no número de registros, o terceiro Estado com maior crescimento, atrás de Acre (73%) e Rio de Janeiro (65,7%).

Os números do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) mostram 25.905 pessoas buscando vaga nas Câmaras de Vereadores ou nas prefeituras dos 246 municípios goianos este ano, diante os 15.698 registros das últimas eleições municipais. O Estado com maior número de pretendentes à carreira é São Paulo: 88.886. Os dados são preliminares. Pode ainda ter havido erros nos registros, o que levaria a uma variação para baixo quando o dado final for fechado.

Ajuda a entender esse crescimento o aumento no número de vagas a vereador no período. Devido ao aumento populacional, as 51.992 cadeiras existentes hoje passarão a 59.708 em todo País a partir de 2013.

Goiás tem 239 novas vagas em 62 cidades a serem preenchidas no próximo ano. Além disso, também ajudaria a entender o crescimento de candidatos a criação do Partido da Pátria Livre (PPL) e do Partido Social Democrático (PSD), que estreiam nestas eleições, elevando as legendas existentes de 27 para 29.

Mas parece haver, entre os partidos pequenos, um movimento de independência em relação às grandes legendas, o que teria modificado os perfis das coligações. “Um maior número de siglas pode estar ocupando as suas vagas de candidatos, registrado chapas próprias às Câmaras de Cereadores ou coligando-se num escopo menor”, arrisca o professor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG Pedro Célio Borges, especialista em Sociologia Política.

A lógica do segundo turno abre espaço para que os partidos menores utilizem esse procedimento, sem romper com seus aliados mais fortes, que em geral apresentam candidatos majoritários capazes de lhes asseguram a perspectiva de poder”, acrescenta.

Para o cientista político mineiro Rudá Ricci, a crise de representação que atinge principalmente os polos do sistema partidário (PT-PSDB no Brasil e PSDB-PMDB em Goiás) “diminuem a margem de certeza dos pequenos partidos se aliarem aos vencedores”. “Com o grau de insegurança cada vez maior, os pequenos partidos procuram aumentar sua estabilidade com chapa com possibilidades de vitória. Há uma tendência em segmentar as chapas coligadas para candidatos proporcionais por tamanho dos partidos, diminuindo a possibilidade de serem apenas escada para eleger vereadores dos partidos maiores”, disse ao POPULAR.

FRONT

Com trabalho intensificado nas alianças proporcionais nos municípios – já que seu partido não terá cabeça de chapa nas principais cidades goianas – o presidente estadual do PSDB, Paulo de Jesus, tem notado essa tendência de independência a cada negociação partidária que é realizada.

Muitos partidos menores que não lançavam candidatos, passaram a lançar, deixando de juntar com a base (aliada ao governador Marconi Perillo, PSDB)”, verifica o dirigente.

Um exemplo seria o PSDC. Em 2008, o partido lançou quatro candidatos à Câmara de Goiânia, numa coligação proporcional com o PMDB. Conseguiu eleger Virmondes Cruvinel, que acabou expulso por migrar para o PSD. Este ano, o PSDC terá 53 candidatos em Goiânia, com chapa pura nas eleições proporcionais.

Os partidos têm a perspectiva de ganhar eleições e de reafirmação, necessidade de sobrevivência. Tudo se preparando para 2014”, enxerga Paulo de Jesus. É de 2012, entende Paulo, que sairão “os soldados para lutar nas eleições dos deputados estaduais, federais e do governador em 2014”.

CUSTO ELEVADO

Com gasto estimado em pelo menos R$ 15 bilhões, a campanha eleitoral nos municípios este ano será a mais cara do Brasil. Com um preço tão elevado, deputados e candidatos a cargos executivos teriam interesse em fazer um grande número de candidatos proporcionais, de vários partidos, até para baratear as campanhas. É uma hipótese do cientista político Ruda Ricci.

Esses aspirantes também se transformam em operadores da campanha, distribuindo material dos candidatos majoritários e do partido. Efetivamente, diminuem o gasto geral de campanha”, diz.

O cientista político lembra ainda que partidos coligados normalmente recebem recursos do candidato majoritário de outro partido. “Justamente para movimentar seus candidatos a vereador”, afirma.

É a mesma lógica. O partido principal, que disputa a prefeitura, paga aos candidatos a vereador seus santinhos, gasolina e algum dinheiro. O número de candidatos está, muitas vezes, relacionado a esta negociação”, diz. Deputados federais e detentores de cargos executivos também teriam interesse em espalhar candidatos de vários partidos durante as eleições municipais. Os próprios candidatos a vereador se tornam cabos eleitorais de suas próximas candidaturas. Estariam comprometidos com o projeto de reeleição, por exemplo.