Cresce homicídios entre jovens

Goiânia foi a única cidade da região Centro-Oeste que aumentou número de assassinatos nos últimos dez anos, segundo pesquisa

GALTIERY RODRIGUES

Goiânia foi a única capital da região Centro-Oeste que aumentou o número de homicídios de crianças e adolescentes (de 1 a 19 anos) na primeira década dos anos 2000. Enquanto Cuiabá (MT), Campo Grande (MS) e Brasília (DF) conseguiram minimizar os índices em 2010, se comparados aos registrados 10 anos antes, a capital goiana elevou a quantidade em 2,9%. Os dados foram divulgados ontem no Mapa da Violência 2012, que levantou o impacto de causas externas nos óbitos de menores de 19 anos. 

No ano de 2000, 70 pessoas, na faixa etária, foram assassinadas, em Goiânia. E, em 2010, o total foi de 72. Os registros chegaram a 86, em 2002, e 83, em 2006. O autor do estudo, o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz considera o homicídio, dentre as causas avaliadas, o “calcanhar de Aquiles” dos Direitos Humanos no Brasil. O País é o quarto do mundo em mortalidade de crianças e adolescentes por assassinato. As taxas cresceram 346%, entre 1980 e 2010, vitimando 176.044 pessoas. Só em 2010, foram 8.686 vítimas, ao todo, com uma média de 24 por dia.

Em âmbito regional, os homicídios também têm sido a grande preocupação da Segurança Pública. Recordes históricos foram registrados este ano, em Goiás. Fora isso, na capital, casos de execução a qualquer hora do dia estão sendo noticiados com frequência. No primeiro semestre de 2011, foram contabilizados 215 assassinatos em Goiânia. Este ano, o total foi de 263. Dentre estes, não é difícil encontrar exemplos de vítimas menores. Um deles é o caso do jovem de 14 anos, torcedor do Goiás, que foi assassinado, em março, dentro de um ônibus em Aparecida de Goiânia, a caminho do jogo entre Aparecidense e Goiás.

Motivações
Um mês antes, no dia 10 de fevereiro, outro jovem, de 19 anos, torcedor do Vila Nova, também foi assassinado a tiros, quando estava no terminal de ônibus, no Setor Goiânia Viva. Crime semelhante acometeu, em janeiro, um rapaz de 18 anos, também torcedor colorado, que estava em um bar no Setor Perim. Nesses casos, a motivação foi o envolvimento com torcidas organizadas, mas, segundo especialistas, o fator principal para a morte de menores é o uso e o tráfico de drogas.

A professora e representante da Universidade Federal de Goiás (UFG) no Conselho Estadual de Segurança Pública, Bartira Macedo, pontua a droga como elemento presente em quase todos os casos de homicídios. E mesmo diante da nitidez desse comportamento, ela lembra que o poder público insiste em se omitir, não elaborando políticas públicas de combate e assistência aos usuários. “Simplesmente não existe. A preocupação com políticas públicas de segurança é recente, surgiu em 2009. Quando se fala em violência, a primeira coisa que se pensa é em indagar o Direito, mas Direito é punição, e não prevenção”, explicita a especialista. O ideal, para ela, seria a interdisciplinaridade e união de forças e funções, o que ainda não se vê no Estado.

Conforme o secretário estadual de Segurança, João Furtado, a violência entre jovens está relacionada, primeiro, ao consumo de álcool, cujo uso começaria em casa ou na companhia de amigos. Em seguida, vem a utilização de drogas, em geral, que são apresentadas por colegas de rua ou escola. “A questão de ambiência familiar ou ambiência social, pobreza e condição econômica estão entre os menores fatores impactantes na conduta do menor”, expressa. Furtado reconhece que a ação para esses casos é preventiva, não adiantando a Polícia sozinha retirar os usuários da rua. “Cadê o resto da sociedade organizada e as instituições?”, indaga Bartira.