Esperança de identificação

Grupo encontra em cemitérios na região do conflito quatro ossadas acondicionadas em panos

Alfredo Mergulhão

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Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) busca ossadas que podem ser de guerrilheiros

 

 

Quatro ossadas foram encontradas na semana passada na região do bico do papagaio, entre Pará e Tocantins, onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia. Os restos mortais devem ser levados para Brasília (DF) pelo Exército brasileiro, que participa do Grupo de Trabalho Araguaia (GTA), responsável pela busca, recolhimento e identificação dos corpos de combatentes e militares mortos nos conflitos. A expectativa pela localização das ossadas dos guerrilheiros cresceu desde que começaram os trabalhos da Comissão da Verdade, no mês passado.

A última expedição do GTA passou dez dias na região, durante a primeira quinzena de julho. Foram encontrados dois corpos no cemitério de São Geraldo do Araguaia, no Pará, com características que indicam ser de combatentes. E outros dois esqueletos foram achados num cemitério público desativado de Xambioá, no Tocantins.

As duas cidades são divididas pelo Rio Araguaia e foram palco da guerrilha entre o Exército Brasileiro e combatentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no fim da década de 1960 e no começo da década de 1970, durante a ditadura militar. Os cemitérios onde ocorreram as escavações são precários, com sobreposição de corpos em covas.

Pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), o professor Romualdo Pessoa integra o GTA e participou da última expedição. De acordo com ele, os corpos recolhidos não se enquadravam nos padrões normais: estavam fora de caixões, alguns enrolados em panos e lonas, sem os braços cruzados na altura do peito e com perfurações a bala. No entanto, ainda não há comprovação de que as ossadas são de guerrilheiros. Exames serão feitos pela Universidade de Brasília (UnB) para identificação dos restos mortais.

Os locais de escavações são definidos a partir dos trabalhos investigativos do GTA, que esbarram na participação dos militares que estiveram envolvidos nos conflitos. São poucos os que indicam onde corpos podem estar enterrados. Há também a suspeita de que houve uma operação limpeza no fim da guerrilha, com a retirada de ossadas de um lugar para serem incineradas ou reenterradas em outros pontos, como a Serra das Andorinhas, nas proximidades.

Apesar dos quatro corpos encontrados, os trabalhos do GTA têm recebido críticas. Em abril, um grupo de familiares de desaparecidos recorreu à Corte Interamericana de Direitos Humanos, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA). Eles reclamaram do “desperdício de recursos” com as expedições que até agora não conseguiram identificar os restos mortais de nenhum guerrilheiro.

As famílias também se queixaram da demora na identificação das ossadas que já foram trazidas da região do bico do papagaio. São 19 restos mortais à espera de análise na UnB. Alguns estão na universidade há mais de uma década. Em nota, os ministérios da Defesa, Justiça e Direitos Humanos afirmaram que as críticas são “improcedentes” e que “os esforços possíveis estão sendo feitos para encontrar os desaparecidos e devolvê-los às famílias”.

É um trabalho realmente difícil, como achar agulha no palheiro”, diz o Romualdo Pessoa. “Ele diz ser difícil encontrar informações precisas com testemunhas que ainda vivem na região.

 

Guerrilha

Fonte: O Popular