Benefícios da bicicleta

Especialistas afirmam que pedalada auxilia ciclistas na musculatura do corpo. Além disso, é um bom transporte que ajuda na redução de poluentes do meio ambiente

Texto por Francisco Costa

Apesar da maioria dos brasileiros, 89%, acreditarem que a bicicleta é um ótimo meio de transporte, apenas 8% da população a utilizam regularmente, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).

O veículo, que relembra projetos de Leonardo da Vinci (século XV), ganhou notoriedade com suas formas em 1885, nos Estados Unidos e Europa. No Brasil, o Paraná foi o pioneiro a adotar o meio de transporte e, de 1895 para cá, os modelos não pararam de surgir.

Ainda no século XIX, o veículo foi oficializado com o esporte, fazendo parte, inclusive, da primeira edição dos Jogos Olímpicos modernos, em Atenas, no ano de 1896. Mas a bicicleta não é somente um meio de transporte ou um esporte, é um excelente exercício aeróbico, além de uma amiga do meio ambiente.

Em uma pedalada, o ciclista consegue trabalhar quadríceps, glúteos, panturrilha, musculatura posterior da coxa, extensores da coluna, musculatura abdominal e também ombro, braço e antebraço. Mesmo assim, ainda existem ressalvas ao se desenvolver o hábito de fazer uma pedalada regular.

 

Precauções

Especialista em clínica médica, o alergista e imunologista Francisco Geraldo Sarti de Carvalho recomenda o exercício, mas desde que a pessoa esteja em condições clínicas satisfatórias para seu desempenho. “É preciso verificar tanto as vias aéreas, pulmões, ver se há problemas cardiológicos e ortopédicos. Fazer um check up antes de começar a atividade.”

Para o médico, mesmo que o praticante dos exercícios tenha algum problema, ele poderá procurar um educador físico para adequar suas atividades. O importante é não ir além de suas condições. “Não pode abusar sem preparo prévio. Tem que entrar em um programa de exercícios. Ir mudando aos poucos a condição física.” Ele afirma que o exercício é ótimo na queima de calorias, mas o resultado dependerá de cada faixa etária e cada condição clínica. “Sempre respeite a idade e a condição”, recomenda o médico.

De acordo com ele, o ideal é utilizar a bicicleta em horários em que a umidade seja maior, principalmente para quem tem rinite ou outros problemas similares. Ele sugere que se evite andar em horários próximos ao meio-dia. “O ideal é de manhã ou no fim da tarde.”

O médico diz que se o local for propício, praticar o ciclismo pode ser muito bom para aliviar o estresse, mas o contrário também acontece. “Trânsitos intensos, poluição podem agravar.” Ele também afirma que o exercício da bicicleta pode ser melhor que a natação. “No caso da tríade atópica, que envolve a asma, a rinite e a dermatite atópica, a bicicleta é melhor. Especialmente no caso da dermatite atópica, que é uma reação na pele por sensibilidade, onde o contato com a água pode agravá-la”, conclui.

Ecociclismo

O auxiliar de escritório Danilo da Cunha Neves, 23, utiliza sua bicicleta para fazer trilhas e ecoturismo nos fins de semana. Durante a semana, ele pedala pela cidade para se exercitar e para seu lazer. O ciclista conta que desde pequeno já andava de bicicleta, mas o que o motivou a fazer trilhas foi conhecer dois goianos em uma viagem à Bahia, que estavam atravessando o País de bicicleta.

Para Danillo, fazer academia é muito difícil, pois ele acha a atividade chata. “Com a bicicleta tenho lazer e esporte”, comenta. De acordo com o rapaz, ele fica a semana inteira esperando pelo sábado e domingo para ter o contato com a natureza em sua bicicleta.

Um dos problemas que o auxiliar de escritório destaca é o valor para montar um veículo pronto para a atividade. “Hoje em dia, montar uma bicicleta é muito caro. Nem todos têm condição, são impostos demais nos produtos nacionais.” Outro ponto negativo, para ele , é a estrutura da cidade e de muitas empresas que não incentivam o ciclismo. “Até usava como transporte quando trabalhava no Centro, mas agora preciso do carro, pois trabalho muito na rua. No outro trabalho tinha chuveiro, então podia me trocar lá.”

O corretor de imóveis Lorenzzo Vieira Rodart Valente, 24, concorda com Danillo sobre os problemas de estrutura para ciclistas na cidade. “Já usei como transporte, mas não compensa, pela falta de segurança. Ia para a faculdade, mas desisti. Atualmente, só utilizo para trilha.”

Ciclista há 15 anos, Lorenzzo afirma gostar muito de estar em contato com a natureza e acredita que o ecociclismo possa lhe trazer muitos benefícios. “Para mim é uma terapia. Estou mais calmo e tranquilo, minha cabeça está mais limpa.  É um jeito de se preparar para enfrentar a semana. Te dá mais força e energia”, garante o corretor.

 

Benefícios Urbanos

Somente em 2007 pedestres e bicicletas foram inseridos no plano diretor de Goiânia, mas só agora a cidade começa a criar ciclovias e melhorias nesse sentido. A primeira delas foi a ciclovia da Rua 10 à Praça da Bíblia, no Setor Universitário, mas ainda é pouco.

A arquiteta e doutora em transporte urbano Érika Cristine Kneib afirma que foi um primeiro passo importante, mas diz que as ciclovias não podem parar por aí. “É apenas um pedacinho, tem que ser uma rede na cidade inteira.”

Ela ilustra dizendo que cidades com grande qualidade de vida como Paris, Amsterdã e Barcelona possuem sistemas avançados de ciclovia e que isso reflete no modo de vida das pessoas. Mas garante que qualquer cidade pode inserir ciclovias e conscientizar o cidadão sobre o uso de bicicletas, pois é uma alternativa barata. “Quando falamos em ciclovia, parece algo pequeno, mas se for feita de forma correta e as pessoas começarem a usar, tem poder de transformar a cidade, que será melhor planejada para as pessoas e não para os carros”, observou ela.

Com mais ciclistas, a cidade diminui seus congestionamentos de veículos e tem que trabalhar melhor o paisagismo, que deixa a cidade mais bonita e engrandece o espaço urbano. Outro benefício que Érika cita é a facilidade e rapidez do veículo. “No horário de pico, a bicicleta é o veículo mais veloz para até 8 km, além de não poluente.”

Mas a doutora ressalta que não são apenas ciclovias que irão melhorar a situação. “Os ciclistas precisam de bicicletários, vestiários públicos e apoio das empresas para se trocarem no local de trabalho.” Ela cita como avanço os terminais de ônibus que já possuem bicicletários para que os ciclistas possam guardar suas bicicletas, intercalando o transporte coletivo em seu trajeto.

 

Fonte: Diário da Manhã