Para conhecer Goiás

Livro de professora da rede municipal pretende ocupar espaço deixado vago por obras adotadas pelas escolas para a disciplina de Geografia
 

É possível que muitos goianos conheçam mais detalhes da Geografia de São Paulo, por exemplo, do que da de Goiás. Segundo a professora da rede municipal de ensino de Goiânia Sélvia Carneiro de Lima, doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), isso acontece porque os autores dos livros didáticos, em maioria, são paulistas. 
“Nessa hegemonia dos livros, todos os mapas e os contextos apresentados são do autor que os escreve”. A notícia boa é que a tendência editorial atual aponta para as obras que valorizem as características regionais no ensino. Mais do que isso, livros que contemplem a realidade local são um pedido dos próprios professores. 
Sélvia trabalhou durante seis anos na reorientação curricular do estado de Goiás. E o que os professores mais conversavam com ela era sobre a falta de material. “Também senti isso na rede municipal. Falta material didático para os alunos e material de acesso para os professores sobre tudo que diz respeito à cultura local”, afirma. 
A professora enfatiza que falta condições para que os professores e os estudantes conheçam a realidade em que estão inseridos. A carência existe tanto na esfera municipal quanto na estadual e na federal, segundo ela. Sélvia escreveu um livro em parceria com dois outros professores tentando suprir essa carência.
Obra regional
Na verdade, o convite para escrever “Projetos Regionais: Goiás - Geografia” foi feito a Silas Marins, que foi assessor da rede estadual durante um tempo. Já autor, paranaense, mas morador da capital paulista, ele entendeu que seria melhor se um professor do estado contasse o que é a geografia daqui. 
Marins convidou Sélvia, que, por sua vez, convidou o professor Valney Dias. Assim nasceu a obra. Os três, juntos, descreveram ali os aspectos naturais, físicos e sociais de Goiás, sem dividir o conhecimento. “O livro nasce da nossa experiência da sala de aula, do diálogo que nós três temos com as redes de ensino”, explica a autora.

MEC
Segundo ela, a obra foi bem recebida pelo Ministério da Educação (MEC), tanto que está entre as indicadas no Guia de Livros Didáticos de 2013 do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). As escolas tiveram até o mês passado para escolher as obras que desejam adotar para o próximo ano. Os professores goianos puderam escolher o livro regional também como opção.
“Os professores que já conhecíamos deram bom retorno a respeito da qualidade das informações, das discussões”, justifica Sélvia. Para ela, o grande ganho é a priorização do diálogo. A obra direciona o professor a agir a partir do que o aluno já sabe. “Nosso objetivo é que o aluno faça a relação do local em que ele vive com o plural, o global, e perceba como o território é construído.”
Outro cuidado adotado pelos autores foi apresentar a diversidade étnica e cultural de Goiás. “A maior parte dos goianos não sabe que temos aldeias indígenas. Propomos no livro discussão sobre cada grupo indígena, cigano, quilombola, etc”, considera. Ela ainda acrescenta que há na obra muitos mapas,  inclusive sobre a diversidade étnica, e também um miniatlas. 
O livro é voltado para o 4º e o 5º ano do Ensino Fundamental, mas Sélvia informa que mesmo professores que estão se preparando para mestrado e doutorado estão à procura de exemplares. “É uma tendência muito forte no Brasil a valorização do estudo do lugar. Abre espaço para que esses livros sejam muito bem-aceitos.”