“A bilheteria é o meu chapéu”

Encontro Goiano de Malabares reúne em um só palco melhores artistas de rua, teatro e circo, em eventos gratuitos na capital
 

Ao passar por um sinal de trânsito e se deparar com um malabarista de rua, qual sua reação? Como você enxerga aquele artista, ou ele sequer pode ser considerado um artista? A vida desses jovens que  animam motoristas em um trânsito cada vez mais caótico ainda é envolta por grande preconceito.
Para acabar com tais preconceitos, chega à capital a 6ª edição do Encontro Goiano de Malabares e Circo. O evento, que tem início nesta segunda, 20, e vai até o dia 26, reúne em um só palco os melhores artistas do mundo do circo, teatro e das ruas.
De acordo com o coordenador do Pontão de Cultura República do Cerrado/ UFG e também responsável pelo evento, Vir­gílio Alencar, o objetivo da ação é in­centivar grupos informais que atuam com arte de rua, como exemplo dos malabares.
Serão oferecidas várias oficinas que têm como foco formar profissionais e o público leigo para as atividades circenses. Um exemplo é a de perna-de-pau, que todos os anos atrai dezenas de pessoas interessadas em aprender a técnica e, claro, se divertir.
Algumas oficinas são gratuitas, e o restante têm inscrições no valor de R$ 5. A programação completa, com data e local de cada uma pode ser conferida no endereço www.encontrogoianodemalabares.blogspot.com.br.
A partir do dia 23, na praça Boaventura, que fica no Setor Leste Vila Nova, uma lona será montada para receber os mais variados espetáculos. E a boa notícia é que serão todos gratuitos. Artistas do cenário goiano, brasileiro e até mesmo internacional dividirão o palco, trocando experiências e levando cultura circense à plateia.
De acordo com Alencar, além de possibilitar o acesso da população à cultura artística, o Malabares tem por objetivo qualificar os personagens das rua que, em sua imensa maioria, atuam na informalidade e sem nenhum reconhecimento.
“Percebemos que essa turma tem grande potencial, e que com esse trabalho de formação podemos ajudar toda a sociedade”, comenta, contando que muitos que hoje atuam profissionalmente um dia estiveram em situação de risco, propensos a migrar para o mundo do crime. Com os cursos e amizades feitas no mundo do circo, eles perceberam que existem outros caminhos a seguir.
Se antes bastavam alguns objetos e um sorriso no rosto para fazer o espetáculo, hoje alguns elementos foram acrescentados. Com a profissionalização, muitos só se apresentam maquiados, e o nome de seus personagens se confunde com sua própria identidade.
É o exemplo de Suedemar dos Santos Nas­cimento, que há seis anos dá vida ao pa­lhaço Saracura do Brejo. Ele prefere o seu nome artístico, e até estranha quando al­guém lhe chama pelo de batismo. A frase que dá título à matéria pertence ao palhaço, que sabe muito bem as faces do preconceito.
Pertencente ao grupo Trupe-Tripe-Trapo, Saracura explica que atualmente faz cursos, oficinas e apresentações diversas para depender o mínimo possível do semáforo. Assim como ele, muitos jovens veem a atividade de rua como forma de expressar sua liberdade e encarar de frente o preconceito.
Para o palhaço Saracura, o malabarismo é uma forma de conhecer novos lugares e até mesmo “bancar” uma viagem, pois em qualquer lugar que estão, podem se apresentar. 
Já para “Bulacha”, também integrante da Trupe-Tripe-Trapo, a arte de rua, embora pouca reconhecida é, sim, uma forma de ganhar dinheiro. 
“Demiti o meu patrão. Desde adolescente procurava uma alternativa de vida, uma forma de me sustentar. Se eu pegasse algo para vender, eles tomavam de mim. Então, resolvi fazer malabares porque a arte é uma coisa que não podem me tirar”, alega.