Na TV, cidade sem problemas

Primeiro programa de prefeitáveis recebe críticas de cientista política por mostrar cidade sem maiores desafios e propostas equivocadas

Programa de Paulo Garcia: ninguém citou estudo das Nações Unidas

Um dia após estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) apontar Goiânia como a cidade mais desigual da América Latina, os primeiros programas eleitorais dos candidatos a prefeito da capital no rádio e na TV mostraram uma cidade completamente diferente da relatada pelo organismo internacional. Acolhedora, pujante, manjedoura, lugar de conquistas foram alguns dos termos usados até mesmo pela oposição, que precisa apontar que a administração da cidade está no caminho errado.

“Todos amam a cidade e se colocaram como se estivessem aceitando a missão de administrá-la. Parece a cidade mais maravilhosa do País”, ilustra a doutora em Ciência Política e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Heloisa Dias Bezerra.

Lastimável foi o termo utilizado por ela ao opinar sobre o primeiro dia do principal instrumento que os candidatos têm para angariar votos nas eleições. “Parece que são todos situação. Eles não marcaram diferença. Parece que não há uma disputa de projetos.”

Com vídeos que mais pareciam de uma campanha para a candidatura da cidade como uma das sedes da Copa de 2014, as propagandas pouco acrescentaram para a formação de opinião dos eleitores. “Espero que a tônica mude, para que se possa perceber as diferenças e ajudar o eleitor a decidir”, aponta Heloisa.

CRÍTICAS

E as críticas não poupam ninguém. Para a doutora em Ciência Política, Paulo Garcia, do PT, não conseguiu dar destaque para a condição de candidato que é prefeito, além de apontar soluções pouco condizentes com a plataforma de desenvolvimento sustentável, principal bandeira do projeto da coligação PT/PMDB. “Não estão entendendo nada de cidade sustentável. Em uma cidade plaina como Goiânia, não dá para falar em transporte público focado em ônibus. Leva o eleitor a acreditar que a política de transporte vai continuar a mesma.”

O programa de Jovair Arantes, ela cita como equivocado. A aparição do candidato apenas no final do programa é um dos pontos citados. “Ele passou um tempão sem aparecer, usou poesias rasteiras e passou o programa inteiro sem politizar. Creio que foi o pior. A qualidade do material é muito ruim.”

Ela lembra que nem mesmo as candidaturas mais à esquerda, como os do PSTU e PSol, se posicionaram como oposição, criticando projetos ou apresentando alternativas.

Para ela, algumas especulações podem explicar as atitudes generalistas dos candidatos. Uma delas seria a dificuldade de se polarizar o debate político devido ao fato dos partidos que disputam a vaga a prefeito fazerem parte da base governista no Estado e em âmbito federal. Com isso, eles teriam dificuldade em se enfrentarem diretamente.

Outro seria uma avaliação de que os partidos tendem a ir para o centro da esfera política, onde está concentrada a maioria dos eleitores e, com isso, igualarem seus discursos e suas ações .

Fonte: O Popular