A festa da democracia. E o que mais?

É comum ouvirmos as pessoas chamarem as eleições de festa da democracia. Embora isso seja verdade, a escolha de nossos representantes também pode ser entendida como o momento em que dois atores políticos – candidatos e eleitores – buscam conciliar seus interesses. Os primeiros, em grande medida, almejam as benesses do poder; os segundos, representantes honestos, políticas públicas eficientes e maior bem-estar. Nesse sentido, a decisão do voto deve ser vista como uma ação de eleitores racionais e autointeressados, dispostos a investir em uma determinada legenda e/ou candidato para alcançarem seus objetivos oriundos da atividade governamental.

É dentro desta perspectiva que devemos analisar o recado das urnas, mesmo que nem sempre seja fácil decifrá-lo. Em Goiânia, nesta última eleição, aos menos duas mensagens foram enviadas pelos eleitores: a da continuidade, ainda que de maneira pouco efusiva, vale dizer, e a do protesto, através do chamado não voto, ou seja, brancos e nulos.

De todas as capitais brasileiras, Goiânia foi a que apresentou maior porcentual de votos nulos em 2012: 12,92%. Isso é mais que o dobro da média nacional – 5,58% – e que a média histórica da própria cidade – 5,92% –, contando as eleições municipais desde 1996, incluindo o primeiro e o segundo turnos (quando este ocorreu). Goiânia também foi a capital com maior porcentual de votos em branco: 5,8%. Isso é quase duas vezes mais que a média nacional – 3,39% – e o dobro da média histórica da cidade: 2,68%.

Ao mesmo tempo, salta aos olhos um outro dado, ainda pouco comentado. De todas as capitais, Goiânia ficou entre as cinco com menores porcentuais de abstenção: 12,41% (a média nacional foi de 16,5%)! Isso é menos do que a média histórica da cidade – 16,69% – incluindo os dois turnos, ou apenas o primeiro turno – 15,37% –, quando a abstenção é menor.

É pouco provável que esses números sejam frutos da aleatoriedade. Mesmo porque, no final de outubro de 2011, o porcentual de eleitores dispostos a votar nulo era de 9,6%, de acordo com pesquisa Serpes divulgada pelo POPULAR. Em maio de 2012, esse valor chegou a 25,2%. O propulsor desse movimento, muito provavelmente, foram os eventos ligados à Operação Monte Carlo, que abalaram a credibilidade de figuras políticas importantes do Estado e geraram no eleitorado um sentimento de indignação.

Mas eleitores insatisfeitos poderiam simplesmente ter-se abstido de votar. Não o fizeram. Ao contrário de demonstrar desinteresse e resignação, os goianienses preferiram ir às urnas votar em branco ou nulo. Esse recado deve ser interpretado como um claro indicativo de que os eleitores não são tolos. Eles se preocupam com as políticas públicas, avaliavam a performance dos governos e a personalidade dos postulantes aos cargos políticos. Dada as opções que lhes são oferecidas, e as informações que estão disponíveis, a maioria deles age da maneira mais racional e responsável possível. Felizmente, para a democracia, esse não é um tipo de comportamento recente ou com hora marcada para terminar.

 

Pedro Santos Mundim é doutor em Ciência Política pelo Iuperj e professor adjunto de Ciência Política da UFG

Fonte: O Popular