Claudinei Amaral, o Alemão, paulistano do bairro de Itaquera – onde aprendeu percussão numa casa da juventude da Zona Leste –, há dez anos chegou em Goiânia como convidado de uma empreitada de arte-educação. Ministrando cursos e oficinas de construção de instrumentos numa casa no Parque das Laranjeiras, depois no Novo Mundo, Crimeia e na região central, Alemão também criou a Associação Coró de Pau, que há seis anos ocupa o DCE da UFG. Leia a seguir a entrevista que ele concedeu ao POPULAR.

 

Você foi um dos pioneiros em levar a batucada para a rua e formou vários jovens na arte de construir instrumentos musicais por meio de técnicas artesanais e de reciclagem. Como visualiza o crescimento do número de adeptos?

Hoje o nosso trabalho é muito respeitado e conquistamos um público grande também depois que tocamos em festivais de rock em Goiás e em outros Estados. Sabemos que tivemos uma grande influência na formação de novos músicos que hoje já incorporam instrumentos como tambor e alfaia nas suas bandas de rock. Antes, quando as pessoas viam ensaios de batucada no Setor Universitário, já diziam que era o Coró de Pau. Agora eu fico feliz em ver o Passarinhos do Cerrado, o Cega Machado e o Vida Seca, que tiveram músicos que começaram no Coró de Pau, terem sucesso em seus projetos solo. O Umbando surgiu paralelo com a gente, na mesma época, e está aí fazendo sucesso nacional.

 

O que considera como sua principal influência?

Nem a banda nem seus integrantes têm qualquer influência religiosa, mas o candomblé e a cultura africana são referências fortes para todo o Coró de Pau, bem como para outros que trabalham com percussão. O candomblé e a umbanda marcaram toda minha vida, inclusive fui iniciado num terreiro ao culto como ogã, que foi a minha grande escola na percussão. Até hoje recebo muitas pessoas querendo aprender esses ritmos, algo que só entramos em contato dentro do candomblé. Eu morei em Ubatuba um tempo por conta de uma ONG e lá tive contato com a congada, muito forte naquela região. Tem ainda o cateretê paulista, a folia de reis, o caboclinho do litoral. Em Itaquera, aos 17 anos, eu aprendi a fabricar instrumentos muito antes de começar a tocar e agradeço a chance que tive de conviver com mestres como Evaldo Correia e Cabral Lobato.

 

Você já rodou por várias regiões com projetos musicais para jovens, apoiados pelo poder público. Por que o governo deixa a desejar nesse projetos?

Aqui caminha-se numa velocidade própria de desenvolvimento e não existem políticas voltadas para os problema mais duros. Em vez de internar criança de rua, deveriam pensar mais na criação de projetos sérios nessa área. Deveriam dar outras alternativas e informações, bem como atividades de lazer e cultura. Falta acesso de pessoas carentes a cultura e diversão. No início, nosso público era mais universitário, depois de 2007, constatamos que os moradores da periferia também queriam cultura, mas não tinham acesso muitas vezes. Todos os sábados oferecemos ensaios abertos e gratuitos no fim de tarde dos sábados, no DCE da UFG, onde estamos há seis anos. Lá existe facilidade de aprender outras formas de arte, como teatro, capoeira, dança.

 

Além do novo disco, qual outro projeto do Coró de Pau?

Continuamos com as oficinas de construção de instrumentos, pois esse trabalho já conseguiu profissionalizar muitas pessoas que têm sua própria oficina e vivem dessa atividade de produção de tambores, alfaias, atabaques, instrumentos de percussão. Nosso grande projeto neste mês de aniversário será uma semana de atividades, que vai do dia 17 a 25 de novembro. Vamos fazer um festival com palestras, shows, participação das baterias formadas em universidades. Receberemos visitas de percussionistas que comandam oficinas de construção de instrumentos em cidades do interior como Pirenópolis, Cavalcante, Catalão e cidade de Goiás.