Letras da história

Livro que será lançado hoje conta a história dos 50 anos da Faculdade de Letras da UFG, instituição que se tornou referência na cultura e na educação em Goiás

Rogério Borges06 de novembro de 2012 (terça-feira)

Todo começo é difícil, mas há alguns que parecem ser mais complicados. O nascimento da Universidade Federal de Goiás, com todos os riscos que correu de não sair do papel, é um desses casos. Ficou famosa a história do primeiro reitor da instituição e um de seus fundadores, o professor Colemar Natal e Silva, literalmente correr atrás de Juscelino Kubitschek e de seu ministro da Educação para que o decreto da criação da UFG fosse assinado, no apagar das luzes do governo JK, antes que Jânio Quadros, que já havia se posicionado contrário à instalação de uma universidade federal em Goiás, tomar posse, em 1960.

Uma das unidades da instituição pode testemunhar, como poucas, os percalços do início e o desenvolvimento que se seguiu no meio século que viria. O curso de Letras da UFG comemora esta semana 50 anos de existência, com direito a lançamento de um livro que conta sua história e a inauguração de um novo prédio.

A obra 50 Anos de Letras na UFG – Um Projeto em Construção (Cânone Editorial), da professora Vera Maria Tietzmann, será lançado hoje, às 20 horas, no Espaço Cultural da UFG, na Praça Universitária. Nele, ela faz um amplo apanhado dos episódios, dificuldades e conquistas da unidade nesse meio século de existência. “Eu fui testemunha ocular de boa parte dessa história, já que dei aula na Faculdade de Letras durante mais de 30 anos”, afirma.

A obra indica que caminhos foram trilhados pelo curso de Letras que o fizeram ser uma das grandes referências na cultura e na educação do Estado. Nessas cinco décadas, as contribuições da unidade nesse sentido foram enormes, da formação de gerações de professores que lecionaram e lecionam em escolas e universidades públicas e privadas de Goiás à pesquisa de um sem-número de autores e livros em níveis de graduação e pós-graduação, além de uma forte presença, também, na extensão e em projetos interdisciplinares.

“Este livro é fruto de um projeto de pesquisa que eu coordenei por muitos anos, mas que acabou tendo alguns contratempos. A ideia original era a de fazê-lo para os 40 anos do curso de Letras, mas não foi possível”, conta Vera Tietzmann. “No início, eu havia pensado em elaborar um livro que contivesse a contribuição de várias pessoas que viveram o curso em diferentes momentos de sua história. Pedi textos a companheiros e ex-companheiros de faculdade, como também a ex-alunos, em que dessem, num formato mais cronístico, o testemunho de suas vivências na unidade, mas a adesão não foi tão grande assim. Recebi poucos textos como resposta.” Foi quando, numa conversa com a professora Maria Zaíra Turchi, atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás, Vera foi aconselhada a mudar o perfil do trabalho.

OUTRO FOCO

A sugestão foi aceita e a professora, que é uma referência nacional em estudos de literatura infanto-juvenil, já tendo sido agraciada com o Prêmio Jabuti – o mais importante da área no Brasil – por um de seus livros, mudou o foco de apuração. “Resolvi eu mesma contar essa história, dividindo-a em capítulos, cada um contemplando uma década. Ouvi muita gente para isso. Cheguei a propor um encontro entre ex-alunas da primeira turma do curso e fiquei lá, escutando e tomando notas de suas histórias”, recorda.

Ela, que queria fazer uma coletânea de textos que trouxessem a memória sentimental de quem passou pelo curso, acabou elaborando um livro diferente, mas que respeitou muito esse espírito. “Evitei fazer um relatório porque isso é muito chato, ninguém lê. Coloquei um pé na narratividade para contar uma bonita história.”