Adilson dos Santos Trindade e Victor Hugo da Silva Inocêncio mataram dois jovens ocupantes de um carro que teria fechado os autores do crime no trânsito, em Senador Canedo. Eliézio Rezende Vieira Filho assassinou o vizinho depois que eles se desentenderam quando a vítima colocou fogo em algumas folhas num lote baldio entre a casa de ambos, em Goiânia. Durante uma briga de casal, Luciana Aparecida da Silva deu um golpe fatal no companheiro utilizando uma faca, em Vicentinópolis.
Os três crimes aconteceram no segundo semestre desse ano. Mas não é só isso que eles têm em comum. Todos foram praticados por causas banais. Levantamento divulgado ontem pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) revelam que casos assim representam a maioria dos homicídios registrados em Goiás. Os assassinatos cometidos por impulso ou motivo fútil correspondem a 63,77% do total.
Na capital, o índice de mortes com essas características é um pouco menor, sobretudo devido à influência do tráfico de drogas nas estatísticas. Em Goiânia, 53,9% dos homicídios tiveram motivação considerada banal (veja quadro). Os dados de Goiás foram fornecidos pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e Justiça (SSPJ) e abarcam o período entre janeiro e setembro desse ano.
As informações coletadas pelo CNMP servem para fundamentar a campanha lançada ontem pela instituição. Chamada de “Conte até 10”, a iniciativa busca prevenir a ocorrência de crimes que poderiam ser evitados caso os autores tivessem esfriado a cabeça e pensado melhor sobre as consequencias de seus atos.
A campanha será desenvolvida pelo Ministério Público de todos os Estados da federação. Em Goiás, o trabalho ficou sob responsabilidade do Centro de Apoio Operacional (CAO) da Educação do Ministério Público Estadual (MPE). Ainda neste ano, haverão inserções no rádio e na televisão, com intuito de conscientização.
Em 2013, as ações serão realizadas dentro de escolas. A política pedagógica será inicialmente voltada aos professores. “Vamos oferecer inclusive planos de aulas prontos para aplicação na sala de aula”, afirma a promotora Simone Disconsi de Sá Campos. A intenção é mostrar aos jovens outras formas de resolver os conflitos.
Além de Goiás, o levantamento do CNMP inclui dados de outros dez Estados. No entanto, não é possível fazer comparações entre eles. A inexistência de critérios unificados e períodos diferentes de amostragem impedem de traçar um paralelo. Chama a atenção o índice do Acre, no qual 100 % dos assassinatos registrados foram por motivos fúteis ou cometidos por impulso. Em São Paulo, o porcentual de crimes dessa natureza e com a mesma motivação chegam a 83%. Os homicídios culposos – quando o autor não tem a intenção de matar – foram excluídos do trabalho.
Banalidades
Entre os motivos banais para matar uma pessoa o CNMP ainda inclui homicídios causados por ciúme, embriaguez, homofobia, intolerância religiosa e racismo. A socióloga Dalva Maria Borges, da Universidade Federal de Goiás (UFG), discorda em relação a essa suposta futilidade desses motivadores. “São fúteis para quem está de fora. É preciso compreender a dimensão desses conflitos”, diz.
Dalva Borges sustenta que o problema se relaciona à nossa cultura de resolver os problemas de forma violenta. “Procura-se pouca intermediação institucional, por meio da polícia ou da Justiça, até mesmo pela descrença nessas instituições”, afirma. No conjunto de fatores que levam ao aumento do número de homicídios ela também inclui a urbanização rápida desacompanhada de serviços públicos básicos. “As condições precárias encurtam o pavio”, diz.
De acordo com a socióloga, os homicídios obedecem padrões. Existem os praticados por criminosos “profissionais” e aqueles cometidos entre pessoas com relações primárias. Esses últimos geralmente acontecem por impulso. “São crimes entre pessoas que convivem de uma forma ou de outra. A convivência desencadeia em conflitos que algumas pessoas não conseguem lidar sem violência”, explica. A socióloga considera a campanha importante, pois o lema de contar até dez é de fácil decodificação pela sociedade.“É muito abstrato quando se fala em cultura da paz. Da forma como foi colocado, é possível sim mudar atitudes”, diz.
Tráfico de drogas não é a principal causa de homicídios
Explicação recorrente para o aumento do número de homicídios, o tráfico de drogas não aparece entre os principais responsáveis pela crescente incidência dessa modalidade de crime. De acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), 36,23% dos assassinatos em Goiás tem relação com as drogas. Em Goiânia, o índice é de 46%.
O número repetido pelas autoridades de segurança pública no Estado é bem maior. A constatação de delegados e militares é de que 80% dos crimes têm relação direta ou indireta com o tráfico de drogas, o que ajuda a explicar o recorde de 477 homicídios cometidos na capital em 2011, que está preste a ser batido neste ano.
Delegada geral da Polícia Civil, Adriana Accorsi reconhece o problema, mas argumenta que a falta de critérios para definição não é um fenômeno local. “Um rapaz viciado em crack mata o pai e a namorada. Como o caso vai ser classificado sendo que nem mesmo o autor sabe qual foi o motivo do crime?”, questiona.
Para a delegada, o importante é conscientizar que as mortes tem ocorrido por razões fúteis. “Acontecem mortes até por engano, quando alguém acha que foi ofendido”. Accorsi também cobra rigor na lei. “Um homicida não pode se apresentar e ser liberado para responder processo em liberdade”.
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Homem invade casa e mata idoso por R$ 200
Goianápolis, a 40 quilômetros de Goiânia, amanheceu ontem abalada pela forma brutal como o aposentado José Ferreira de Souza, o Zé Mateus, de 75 anos, foi morto e sua filha, Keila Ferreira de Souza, de 32, atacada e ferida, após um homem armado com uma faca ter invadido a residência deles, próximo ao Fórum da cidade, na madrugada. O suspeito queria roubar a família e após matar Zé Mateus levou R$ 200. A mulher do aposentado, Marcelina Ferreira de Souza, não foi agredida.
O criminoso conseguiu entrar na casa sem arrombar a porta ou as janelas. Como uma cópia das chaves havia sumido dias antes, a polícia acredita que a mesma pessoa que entrou ontem na casa as pegou. Ele foi até o quarto do casal, acordou Zé Mateus e o atacou. Desferiu diversos golpes de faca. Depois, quando Keila acordou com os gritos da mãe e foi até o quarto dos pais, o suspeito a atacou, tentando violentá-la. A intervenção de uma vizinha, que ouviu os gritos e chamou pela família no portão, impediu que o criminoso consumasse o estupro.
Zé Mateus chegou a ser socorrido no Hospital Municipal de Goianápolis, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. A filha dele, foi atingida por quatro golpes de faca - dois na mão e dois no abdomem - e foi levada para o Hospital de Urgências de Anápolis (Huana), em estado que ainda inspira cuidados.
Identificação
A partir de informações colhidas com as vítimas, a delegada de Goianápolis, Karla Pontes Poubel, chegou a um suspeito e já entrou com pedido de prisão preventiva. Ele se encontra foragido. A delegada acredita também uma mulher tenha ajudado o criminoso.
A morte de Zé Mateus, que era conhecido na cidade, deixou os moradores indignados com o crime.
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Donos de pit dog são executados em Goiânia
Diomício Gomes
Casal fazia lanches há cinco anos no Setor Pedro Ludovico
O casal Dilvano da Conceição Silva, 37 anos, e Claudia de Oliveira, 36, foi executado no início da madrugada desta quinta-feira no pit dog da família, no bairro Jardim das Rosas, em Goiânia. Eles trabalhavam no local quando dois homens chegaram e pediram sanduíches. Enquanto preparavam o alimento, eles receberam disparos que teriam sido desferidos por um homem alto, moreno e de cavanhaque. O comparsa deu cobertura para a execução e um terceiro homem aguardava o desfecho nas proximidades dentro de um veículo Parati, que serviu para a fuga.
Dilvano e Claudia estavam casados há vários anos. Eles deixaram um casal de filhos, uma adolescente de 16 anos e um menino de 3. A tragédia chocou os vizinhos próximos à lanchonete. Com medo, eles disseram que o casal tinha muitos amigos e se dava bem com todo mundo. Foi com o Pit Dog Victória, montado há cerca de cinco anos na confluência das Ruas Homero Rosa e Dona Florinda, que a família vinha se erguendo financeiramente.
Como nada foi levado do local, a polícia trabalha com hipótese de vingança. A família não acredita na possibilidade, mas um irmão contou que anos atrás, em Brasília, quando era menor, Dilvano teria matado outro menor. “Meu pai era tranquilo, não tinha inimigos”, disse a filha do casal.