Paulo Garcia é trunfo da oposição para 2014

O prefeito reeleito de Goiânia, Paulo Gar­cia (PT), começa a ganhar terreno na intensa briga dentro da oposição para a disputa estadual em 2014. Como os opositores ainda não tem um nome que una todo o grupo, a candidatura do petista para o governo do Estado é vista como uma segunda opção, credenciado pelo bom desempenho na eleição municipal e, principalmente, pela confiança do ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB). O próprio peemedebista está na lista dos governadoriáveis, mas caso não seja candidato pode estimular a indicação do petista, que mostrou lealdade e conquistou a sua confiança.
Por enquanto, a possibilidade de Paulo ter chances reais de ser um pré-candidato ainda é tratada de forma reservada. Isso porque Iris Rezende dá indícios de que ainda pode encarar mais um pleito eleitoral para o Palácio das Esmeraldas. 
“Eu não me esqueço da derrota em 1998 e vocês vão entender o porquê da minha referencia àquela eleição. Fizemos a campanha inteira com 70% e, de repente, no último mês, com aquela tese de renovação, eu fui caindo e acabei perdendo a eleição. Perdi por um ponto no primeiro turno e perdi por seis no segundo”, disse Iris na terça-feira, 6, em discurso  feito em um seminário promovido pela Fundação Ulysses Guimarães e que contou com a presença de lideranças do PMDB (veja matéria na página 7).
Iris é uma das primeiras opções da oposição para ser, mais uma vez, candidato ao governo. O problema do peemedebista é que ele ainda se recupera de problemas na coluna, que motivaram cirurgias para a retirada de hérnias e o afastaram do cenário político durante as eleições municipais. Ainda não há certeza de que Iris terá condições físicas de encarar uma campanha eleitoral, o que pode lhe distanciar do projeto.
A atuação de Iris Rezende na campanha de Paulo Garcia e a sua relação com o atual prefeito petista reforçam o fato de que Iris e Paulo mantêm uma relação de confiança. As­sim, caso o peemedebista esteja fora do páreo em 2014, o pe­tista pode ser o abençoado por Iris para ser o candidato. Não é algo claro e simples, apenas uma possibilidade que cresce a cada dia, na mesma proporção que Paulo Garcia se aproxima de Iris e dá provas de fidelidade ao líder peemedebista.

Cenário
PMDB e PT são hoje os dois principais partidos de oposição a Marconi Perillo (PSDB) e é natural que um dos dois indique o candidato ao governo em 2014. Os peemedebistas, porém, enfrentam uma velada disputa interna entre uma parte do partido que prega a renovação e a outra que defende a candidatura de Iris Rezende (leia na página ao lado).
Caso Iris não seja candidato e a juventude peemedebista não consiga emplacar um nome, surge o PT, que saiu fortalecido das eleições municipais. Antes, o partido tinha como possível pré-candidato o deputado federal Rubens Otoni, mas o bom desempenho de Paulo Garcia, em Goiânia, e Antônio Gomide, em Anápolis, acrescentou mais dois nomes à lista. 
A confiança de Iris em Paulo é o que dá vantagem ao prefeito de Goiânia em relação aos dois nomes anapolinos. Isto porque um nome do PT só será viável se tiver o apoio do PMDB. Abrir mão da cabeça de chapa e apoiar um nome de outro partido nunca foi prioridade entre os peemedebistas, mas caso Paulo Garcia seja realmente a preferência de Iris Rezende a história, em tese, muda de rumo.
Paulo Garcia construiu uma relação de confiança com o peemedebista ao assumir o cargo de prefeito em 2010, quando Iris se lançou candidato ao governo. Mesmo à frente do Paço Municipal, Paulo continuou a consultar Iris sobre a administração da prefeitura e teve o peemedebista como consultor número um. Com o aprofundamento das relações, Iris bancou a candidatura do petista em 2012, quando setores dentro do PMDB defendiam um candidato próprio. Atualmente, o relacionamento de ambos é baseado em trocas mútuas de elogios públicos.
“[Paulo] É um nome fenomenal. Todos conhecem meu pensamento, o conceito que tenho dele e o que ele representa hoje para a política de Goiás”, disse Iris em entrevista coletiva após o seminário. Paulo Garcia foi o único político de outro partido que compareceu ao evento e também teceu elogios ao líder peemedebista. “Se hoje sou prefeito, devo a Iris Rezende”, disse o petista em seu discurso, que também teve mais afagos ao peemedebista: “Eu, que sou do PT, tenho muito orgulho de ser liderado por Iris Rezende”.
Além da confiança de Iris, Paulo tem outras vantagens sobre os irmãos Gomide e O­toni (leia o quadro). Uma delas é que, caso ele deixe a prefeitura, o PMDB voltaria a comandar a capital com o vereador Agenor Mariano, que foi eleito vice do petista. Em Anápolis, por exemplo, isso não aconteceria, já que, se Gomide deixar o cargo, quem assume é o também petista João Gomes.
Apesar de irmãos, Otoni e Gomide também vivem os seus conflitos internos.  O primeiro já foi pré-candidato em outras ocasiões e sempre manifestou vontade de comandar o Esta­do. Já o segundo cresceu de­pois das eleições e conta com o apoio do PT anapolino, que o aponta como o melhor nome do partido em Goiás. Nos bastidores, a disputa por esse espaço entre ambos é intensa. Mais uma vez, Paulo sairia em vantagem, já que não teria que enfrentar nenhum duelo.

Pontos fracos
Mesmo com todos estes pontos a seu favor, Paulo Garcia também tem inúmeras costuras para ser o candidato da oposição em 2014. O projeto Paulo-2014 ainda não convence ninguém: nem peemedebistas, nem petistas e nem mesmo especialistas da área política. Assim, o atual prefeito de Goiânia terá de vencer uma desconfiança interna e externa se quiser realmente unir a oposição em torno de seu nome.
“Paulo Garcia e Antônio Gomide estão em condições de igualdade para 2014”, defende o cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Célio Alves Borges, que, no entanto, reconhece o bom momento vivido pelo PT. Ele, porém faz ressalvas: “Dois fatores mostram que o PT pode ter protagonismo. Um deles é o vínculo com o governo federal e o outro é o bom desempenho nas eleições municipais. Mas essa é uma análise feita a partir do quadro que as eleições deixaram e isso pode mudar muito até 2014”.
Do lado do PMDB, a análise é a de que o partido não trabalha com opções de candidatos que sejam de outras siglas. Os deputados estaduais Daniel Vilela e Bruno Peixoto foram questionados individualmente, mas deram respostas quase idênticas. 
“Não há possibilidade do PMDB não ter candidato”, diz Bruno. “A única possibilidade é uma candidatura do PMDB. Não há outra opção”, explica Da­niel. Outro deputado peemedebista, Wagner Siqueira, é mais comedido, mas também deixa claro que a sigla quer a ca­beça de chapa. “Tenho certeza que as oposições ao governo vão andar juntas. E ninguém tem uma capacidade maior de aglutinar as pessoas do que o PMDB”.
Paulo Garcia ainda não con­vence os aliados e, de fato, o petista pode ter problemas para se cacifar ao governo. A­pesar de já estar à frente da prefeitura de Goiânia há mais de dois anos, só agora ele foi eleito como cabeça de chapa. Assim, deixar o cargo com pou­­co mais da metade do mandato traria desgastes para ele.
Mais importante do que isso, é o fato de que Paulo ainda não conseguiu fazer uma boa administração em Goiânia. O petista ainda vive do espólio das obras iniciadas por Iris Rezende e não mostrou ainda que pode imprimir uma marca pessoal na gestão. Como consequência, mesmo como administrador da capital, o atual prefeito ainda é desconhecido em outras regiões do Estado.

Disputa interna
Por causa dessa dificuldade de se destacar, Paulo não é unanimidade nem mesmo entre os petistas. “Hoje o me­lhor candidato é o [Antônio] Gomide”, declara o deputado estadual Humberto Aidar (PT). A opinião do petista é baseada justamente na maior experiência política do prefeito anapolino. “O Gomide já tem quatro anos de mandato em Anápolis e, se for candidato, terá mais de seis anos como prefeito. O Paulo já está no cargo, mas só foi eleito pela primeira vez agora e teria essa dificuldade de deixar a prefeitura de Goiânia”, explica.
Humberto é um defensor da candidatura própria do PT. Em 2008, ele sustentou uma pré-candidatura à prefeitura de Goiânia para enfrentar o então prefeito Iris Rezende, mas acabou sendo preterido, já que o partido ficou com a vice na chapa do peemedebista. Além disso, Aidar segue a mesma linha interna de Rubens Otoni no partido. 
Outro argumento usado por Humberto segue uma linha de fortalecimento do PT em Goiás. Com a prefeitura de Goiânia nas mãos, o partido tem o maior colégio eleitoral do Estado, com 850.777 eleitores, o que representa mais de 20% do eleitorado goiano. Assim, se Paulo sair, o partido perde força.

Os prós e contras das opções petistas para o governo

Paulo Garcia

Cargo: prefeito de Goiânia;

Prós: 
* É da confiança de Iris Rezende;
* Teve bom desempenho na eleição municipal;
* Mostra prestígio com a presidente Dilma Roussef;
* Se deixar a prefeitura, PMDB volta à capital, o que atrai o partido;

Contras:

* Fez muitas promessas para a segunda administração em Goiânia;
* PT não quer perder a prefeitura da capital;
* Nome ainda desconhecido em partes do Estado;

Situação:

* A confiança de Iris pode ser determinante para uma candidatura, mas o fato de ter que deixar a capital com pouco tempo de mandato pode ser determinante para o seu enfraquecimento.

Fonte: Tribuna do Planalto