Cirurgia de transexuais

A propósito da cirurgia de transexuais no Hospital das Clínicas, acho estranho que um hospital carente, com necessidades emergenciais de infraestrutura (espaços desatualizados e inadequados para o tamanho da demanda, sucateamento de instalações ambulatoriais, falta de ressonância magnética, etc.), pessoal (faltam médicos em diversas áreas, pois a contratação só pode ser autorizada na esfera federal), serviços (até o momento não estão estruturados serviços básicos como a neurocirurgia do pronto-socorro, a unidade de transplantes é muitíssimo limitada) e até mesmo material de consumo básico (algumas vezes não temos nem mesmo analgésicos injetáveis comuns para o tratamento de dores), tenha recursos e arregimente tantos funcionários para um programa caro, o de cirurgia de transexuais.

Não tenho absolutamente nada contra os transexuais, a quem muito respeito, mas é importante que se esclareça à população que estes procedimentos envolvem aspectos bioéticos muito sérios (a cirurgia é irreversível e alguns transexuais se arrependem depois, além do que os índices de suicídio e distúrbios emocionais após a cirurgia são expressivos).

O caso dos dois transexuais que vieram a público denunciar a cirurgia é sintomático e eles devem ser ouvidos com toda atenção. É importante dizer que os pacientes candidatos não passam por qualquer avaliação especializada médico-psiquiátrica antes do procedimento (o que seria muito importante para afastar doenças cerebrais que podem fazer a pessoa rejeitar ou ter raiva do próprio corpo por causa, por exemplo, de uma depressão ou um transtorno dismórfico corporal ou ainda transtorno de personalidades múltiplas, no qual a pessoa assume uma personalidade transgressora e depois volta ao normal e se arrepende das coisas que fez).

Esta cirurgia, inclusive, não é unanimidade na comunidade científica mundial nem na brasileira, e em muitos locais não é autorizada por envolver graves riscos à saúde física e mental (alguns argumentam, inclusive, que é de caráter ainda experimental porque ainda não entendemos a extensão e gravidade dos riscos e efeitos em longo prazo da mesma).

DR. LEONARDO FERREIRA CAIXETA
Hospital das Clinicas da UFG

Fonte: O Popular