As mudanças globais e os professores fast-food

2012 está chegando ao fim e a sensação de dever cumprido se instala no rosto dos trabalhadores brasileiros. É o momento de alimentar esperanças rumo a um mundo melhor e pensar sobre os caminhos percorridos e os novos desafios a serem enfrentados. É certo que o mundo mudou bastante de uma década para cá, mas não como deveria. 

Na política, escândalos relacionados à corrupção e as incansáveis promessas absurdas de nossos representantes municipais, estaduais e federais têm marcado essa esfera social. No mundo do trabalho, percebe-se um aumento estrondoso do desemprego e do mercado informal. As empresas elitizadas estão ficando cada vez mais seletivas, mudanças que, aos poucos, nos remetem aos desejos de concorrência e competição. As indústrias investem constantemente na terceirização de seus serviços e na produção de mercadorias para diminuírem gastos com funcionários e mão-de-obra. Na economia, as mudanças se dão em âmbito global, fazendo surgir novos territórios desiguais e conflituosos. Na educação, também encontramos mudanças, sejam nas novas leis aprovadas pelo congresso que não possuem nenhum fundamento, sejam nas diversas formas que professores têm encaminhado seus trabalhos pedagógicos.

Ainda sobre a educação de nosso País, as mudanças não têm agradado muita gente, principalmente porque os professores são chicoteados pelo governo por conta do fracasso das escolas. Para fins de esclarecimento, tomemos como exemplo o colapso do discurso governamental de tornar facultativo o uso do uniforme escolar. É a fórmula mais clara que o governo encontrou para justificar a sua ausência de investimentos. Enquanto isso, as escolas enfrentam dificuldades para manter uma organização interna e para identificar os verdadeiros alunos da instituição.

As mudanças na educação não param por aí. Há, ainda, a questão da aprovação de alunos sem nenhuma condição moral e intelectual de enfrentar os novos desafios colocados pela sociedade global. Os professores, personagens que atuam em uma realidade imposta pelo poder público, são condicionados a aprovar alunos analisando o histórico de vida e não o histórico de construção de conhecimentos ao longo do ano. Dessa maneira, seria uma forma de, mais tarde, excluir os futuros cidadãos do mundo da concorrência e da competição? Penso que sim, pois chegará o dia em que esses conhecimentos serão exigidos dos formandos e, quando aprovados com baixa competência e habilidade, com certeza enfrentarão o principal problema da humanidade: a exclusão.

A escola mudou tanto e de uma maneira incrível que ficou quase impossível a reprovação. E isso é o que os nossos governantes desejam: formar analfabetos funcionais, capazes de esquecer as roubalheiras, de não formarem força política para lutar por direitos e, assim, construir uma sociedade discriminatória racial e socialmente. Tudo isso em nome de um índice chamado Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que aumenta gradativamente quando alunos são aprovados, independentemente se possuem ou não conhecimento específico à série que cursou. Diante dessa calamidade, os governantes desejam “professores fast-food”: aqueles que buscam recuperar em três dias ou uma semana o atraso gerado pelo alunado no decorrer do ano.  Esses profissionais estão ficando mecânicos e mestres em apressar os processos educacionais porque o Estado precisa cumprir metas de aprovação para se gloriar em investimentos e crescimentos na educação. Ainda é preciso muitas mudanças educacionais para a melhoria de vida de nosso povo. É claro que novas oportunidades também devem ser criadas e ampliadas, mas sem o comprometimento do poder público será impossível falar em mudanças significativas na escola.

 

(Weyber Rodrigues de Souza, graduado em Geografia pela PUC- GO e acadêmico do 3º período do curso de Artes Cênicas da UFG. Professor da rede pública da região metropolitana de Goiânia, weyberucg@yahoo.com.br)

Fonte: Diário da Manhã