Abertura política na UFG

No início dos anos 1980, o País vivia um clima de abertura política, embora lenta e gradual no compasso estabelecido pelo regime. Setores da sociedade civil, contudo, procuravam ir além dos limites estabelecidos. Por outro lado, houve resistência à abertura, daí ser importante registrar o contraponto de setores próximos aos militares, evidenciada em acontecimentos como o do Rio Centro e o da queima de bancas que vendiam jornais alternativos (leia-se esquerda), entre outras manifestações. A evidência é de que esse movimento contra a abertura política teve apoio e presença de segmentos militares e nas vilas militares. Tudo isso torna esse período importante para a construção da democracia brasileira.

A reorganização sindical; o crescimento da oposição política ao regime, expresso no processo eleitoral pelo crescimento do MDB; o movimento pela anistia dos punidos pelo regime militar; o movimento pela abertura política, caracterizado pelo que ficou conhecido por Diretas Já. Toda essa movimentação mostra momentos ricos pelo inconformismo e pela mobilização havida.

A bandeira da abertura política teve reflexo além deste contexto, foi também assumida por segmentos da universidade brasileira. Em Goiás na UFG, professores, servidores e estudantes tanto se envolveram no movimento político pela anistia como trabalharam por mudanças na administração e na estrutura de poder da UFG. A criação das Associações de Classe (Asufego, Aduf e da Andes) faz parte deste contexto.

Em linhas gerais, as propostas exigiam um repensar a universidade, fazendo críticas à estrutura de poder estabelecida nas Instituições de Ensino Superior (IES), após o golpe de 1964, notadamente pela Reforma Universitária de 1968. A eleição de dirigentes, especialmente de reitor, apresentou-se como primeira reivindicação. A indicação do reitor era competência do Conselho Universitário que se reunia para compor a lista dos seis candidatos. A lista sêxtupla era encaminhada ao Ministro da Educação para a devida nomeação do reitor. Pedia-se o fim da lista sêxtupla e a participação da comunidade acadêmica no processo eleitoral, com votação direta de professores/funcionários/alunos.

Ainda no reitorado de José Cruciano de Araújo (1977-1981), a comunidade mobilizou-se para eleger diretamente o reitor. Embora tenha havido candidatos e escolha direta, o Conselho Universitário não endossou o processo eleitoral, organizando a lista sêxtupla com nomes de sua própria indicação.

No reitorado da professora Maria do Rosário Cassimiro (1982-1985) a movimentação teve mais peso, com relativo apoio da própria reitora e do Conselho Universitário. Esta gestão deu continuidade à política extensionista e de interiorização da universidade, com o estabelecimento de Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (Crutac) e implantação de Câmpus Avançado, inicialmente em Picos (PI), dentro do Projeto Rondom, posteriormente em Nerópolis/Firminópolis (Crutac), além de câmpus em Porto Nacional, Jataí, Catalão, Goiás e Rialma.

O reitorado do professor Joel Pimentel Ulhôa (1986-1989), primeiro reitor eleito pela comunidade acadêmica, coincide com a Nova República e com maior envolvimento da sociedade brasileira com a política. Talvez por isso a pressão por mudança tenha aumentado. A crítica à Reforma Universitária imposta pelo regime militar em 1968, e à decorrente estruturação do ensino superior brasileiro, movimenta a UFG. Um debate a partir das unidades acadêmicas foi concluído com um seminário que resultou em mudanças, sendo a principal delas o retorno ao regime seriado. No debate, a crítica à extensão, especialmente ao Projeto Rondon por desligar o estudante da sua realidade, fez com que os Campi Avançados fossem vinculados à graduação e se tornassem campos de estágio. A extensão foi esvaziada.

Uma nova configuração da universidade foi buscada na proposta da reitoria e aprovada pelo Conselho Universitário de uma Assembleia Constituinte Interna, composta por representação dos três segmentos – professores, alunos e servidores. Instalada, muita discussão e debates vão envolver os constituintes. Caminhou-se, contudo, para um impasse. Postura ideologizada, especialmente de servidores e de alunos, levou à radicalização de posições e não decisões em questões importantes da vida acadêmica – propostas que levariam a uma universidade popular dificultaram o andamento das discussões, levando a Constituinte a não apresentar resultados.

A democratização e reconfiguração da universidade mereceram a atenção dos próximos reitores (Ricardo Freua Bufáiçal, 1990-1993; Ari Monteiro do Espírito Santo, 1994-1998). Ousar, como queria Ricardo Bufáiçal, apresentava-se como exigência dos desafios colocados pelos avanços tecnológicos de uma ordem mundial que já se configurava diferente e até ameaçadora. Esse novo momento tem tido continuidade, com as gestões da professora Milca Severino e do professor Edward Madureira. Nesta atual gestão, aquelas reivindicações históricas apresentam-se superadas, mas a internacionalização e as novas pautas da Ciência e Tecnologia mostram-se desafiadoras.

Fonte: O Popular