Termoelétricas operam no limite e incomodam

Mesmo com as chuvas dos últimos dias, os reservatórios não subiram o suficiente e as quatro termoelétricas movidas a diesel instaladas em Goiás continuam a funcionar com toda força. Com capacidade de gerar, juntas, 412 MW de potência instalada – o suficiente para abastecer uma cidade do porte de Goiânia – essas usinas são alvos de críticas e de elogios de especialistas.

Para uns, é a melhor forma de proteger o sistema nacional de um desabastecimento e, por terem um custo de instalação menor do que o das hidrelétricas, são economicamente viáveis. Para outros, os transtornos ambientais, com a emissão de gás carbônico pela queima do combustível, fazem dessa forma de geração um modelo desvantajoso.

O engenheiro ambiental Rafael Camargo enxerga aspectos negativos na geração desta energia. Ele explica que essas termoelétricas, movidas a óleo combustível, são contratadas pelo governo para ficar em espera para qualquer emergência no sistema elétrico, a exemplo da falta de chuvas que o País viveu recentemente. Elas recebem pagamento do governo mesmo quando estão paradas .

Para ficar paradas, elas ganham uma receita fixa mensal. Quando são acionadas, além da renda mensal, recebem também ajuda de custo do combustível - acima de R$ 500 o MW hora. Uma unidade de 100 MW, por exemplo, consome por dia 600 toneladas de óleo combustível. Isso significa umas 20 carretas para abastecer a unidade.

Rafael afirma que a queima de combustível para mover as turbinas que vão gerar energia é responsável pela emissão de gases poluentes. “Maior impacto ambiental produzido pelas termoelétricas são os gases. São produzidos óxidos e dióxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, monóxido e dióxido de carbono, outros gases e particulados. Ainda tem a poluição sonora”, afirma.

O engenheiro civil Rodrigo Pedroso, com especialização em geração de energia hidrelétrica nos Estados Unidos e em geração eólica na Alemanha, diz que a operação das termoelétricas também é mais cara do que as hidrelétricas. Segundo ele, o custo de energia gerada por uma termoelétrica é de R$ 1 mil por MW, enquanto nas hidrelétrica é de R$ 100 por MW.

Ele afirma, porém, que as termoelétricas são importantes para ser usadas em situação emergencial. “Elas não devem ser usadas como base do sistema como hoje”, destaca o especialista em energia.

O professor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Goiás (UFG) Enes Gonçalves Marra afirma que as termoelétrica são as formas de se produzir energia mais utilizada no mundo. Ele diz que toda e qualquer forma de gerar energia elétrica causa impactos ao meio ambiente.

“O que muda é a intensidade e a maneira do impacto de uma forma de geração para outra. Mas todas, de alguma forma ou de outra, interferem no ambiente ao seu redor”, explica o professor da UFG.

MORADORES RECLAMAM

Quem mora próximo a uma termoelétrica reclama do barulho das turbinas e da fuligem emitida pela queima de combustível. O aposentado Carmelino de Paula Filho, de 92 anos, morador do Setor Santo André, em Aparecida de Goiânia, reside próximo a uma termoelétrica e diz que o incomodo é constante quando as turbinas estão em funcionamento.

Ele tentou colocar a sua casa à venda por duas vezes, mas sem sucesso. “O corretor diz que com esse barulho ninguém quer comprar. Além disso, tem esse movimento de caminhões o tempo inteiro na usina”, afirma o aposentado.

A dona de casa Maria Aparecida de Paula, de 57 anos, moradora do mesmo setor, afirma que a fuligem da queima de combustível é o maior incômodo. O portão branco de sua casa é que mostra como a quantidade de partículas emitidas com queima incomoda. “Tenho de colocar as roupas lavadas para secar dentro de casa. É um incômodo essas usinas”, destaca.

A diarista Maria Elza Silva, de 62, relata que caminhões de diesel fazem fila todos os dias para abastecer a usina. “Sair de casa com o carro é difícil. Sem contar os buracos no asfalta que esses caminhões com carga pesada causam”, diz. “Quando está funcionando, a termoelétrica é um tormento para nossa vida.”