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O mercado de trabalho já não é mais o mesmo de 20 ou 30 anos atrás. Neste 1º de maio de 2013, o Brasil vive uma nova realidade no mundo do trabalho: sobram vagas e faltam trabalhadores para ocupá-las. Com o crescimento econômico e a demanda maior que a oferta de mão-de-obra, algumas profissões que não exigem alto grau de escolaridade hoje já oferecem bons salários, maiores até que algumas ocupações de nível superior.

Nos últimos anos, o Sine não tem conseguido preencher nem 30% das vagas ofertadas (veja quadro). Com o aumento do nível de escolaridade, as pessoas buscam ocupações de maior status, dificultando o preenchimento de vagas em funções antes tidas como de “menos prestígio” pela sociedade, como a construção civil e o trabalho doméstico.

Com menos trabalhadores disponíveis, os salários estão subindo nessas áreas. De acordo com a Pesquisa Mensal do Emprego, divulgada pelo IBGE, os trabalhadores domésticos e da construção civil foram os que tiveram o maior incremento do rendimento médio entre março de 2012 e março de 2013.

O encanador Eglésio Ferreira de Santana veio do interior do Maranhão para Goiânia em 2008, em busca de uma oportunidade de trabalho. Lá, a única ocupação era o trabalho na roça. Ele começou como ajudante de encanador, ganhando um salário mínimo numa grande construtora. Aprendeu o ofício e fez curso de mestre de obras.

Como encanador e trabalhando por produtividade, ele conta que chega a ganhar quase R$ 7 mil por mês. Com apenas 23 anos, Eglésio já comprou 48 hectares de terras no Maranhão e está comprando a casa própria. “Em outra área de trabalho, eu não teria conseguido tanto”, reconhece.

Um cenário como esse era difícil de se imaginar há décadas atrás, quando milhares de brasileiros deixavam o Brasil em busca de melhores oportunidades no exterior. Hoje, o País recebe trabalhadores do Haiti para a construção civil e de países sul-americanos para o setor confeccionista.

“Atividades manuais, como pedreiro ou mecânico, têm remunerado mais que algumas com graduação. Em muitos cursos do Senai, o aluno está saindo empregado”, ressalta o professor Sandro Monsuetto, coordenador do curso de Economia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e especialista em mercado de trabalho.

Ele lembra que o trabalhador hoje tem mais escolaridade, mesmo que isso não signifique qualificação para um determinado trabalho. Essas pessoas não querem mais trabalho braçal, serem chamadas de “peões de obra”. Querem o conforto de um escritório, por exemplo. Mas, para Sandro, também há muita desinformação entre esses trabalhadores, que ainda não sabem que essas ocupações manuais hoje estão pagando bem. “Ainda há uma ilusão de que um trabalho no escritório é melhor remunerado”.

Enquanto isso, cresce o número de novas empresas no mercado que precisam de trabalhadores e que precisam investir mais na formação dessa mão-de-obra. Para o professor, essa nova realidade obriga a uma mudança de visão da sociedade e dos próprios trabalhadores. “Profissões como médico e engenheiro dão mais status. Porém, outras funções, como os trabalhadores da limpeza, são essenciais para a sociedade”.

Para Sandro Monsuetto, isso vai exigir uma mudança de cultura, o que já aconteceu com outros países desenvolvidos. Hoje, quem quiser uma empregada doméstica nos Estados Unidos, têm de desembolsar uma verdadeira fortuna.