Riscos e benefícios da cirurgia

Goiana que se submeteu à mastectomia dupla, como a atriz Angelina Jolie, relata a experiência

A cirurgia para a retirada das duas mamas sem ter tido câncer detectado a qual a atriz Angelina Jolie, de 37 anos, se submeteu (leia mais na página 5 do Magazine) não é uma atitude tão incomum como muitas pessoas podem pensar. Para outras mulheres que, como a premiada atriz, presenciam o sofrimento de familiares de primeiro grau com cânceres agressivos e até chegam a perder essas pessoas, a realização da uma mastectomia preventiva se torna um alívio, uma maneira de tornar a vida mais tranquila. Mas a cirurgia não é indicada para todos os casos e pode ter complicações, como a perda de sensibilidade e até necrose, alertam médicos.

Mesmo assim, algumas pacientes acham que vale a pena. “Foi a melhor coisa que eu fiz na vida. Me sinto mais jovem e me livrei totalmente daquilo que tanto me incomodava: o medo de ter câncer.” A declaração é da bancária aposentada Simone Severiano Miranda, de 44 anos, que se submeteu à mastectomia preventiva no ano passado em Goiânia. Simone conta que sempre teve medo de ter câncer porque várias pessoas da sua família desenvolveram a doença, incluindo a sua mãe, que teve câncer de mama. “Tive tias, primas, pai, mãe e as duas avós com câncer. Sempre tive muito medo de ter também”, diz.

Segundo a bancária, há quatro anos, sua mãe sofria com uma calcificação nos seios e por isso resolveu pesquisar na internet sobre o que poderia ser feito para melhorar a situação dela. “Li sobre a mastectomia preventiva e que no Japão era um procedimento comum. Procuramos um médico e ele disse que seria uma boa solução para o problema da minha mãe”, lembra. Quando a mãe de Simone foi realizar os exames para a cirurgia acabou descobrindo que estava com câncer de mama. “Foi difícil o tratamento da minha mãe e eu passei a ter um pensamento constante de que eu também ia ter a doença”, conta.

“Não queria esperar um câncer aparecer em mim e que as minhas duas filhas passassem pelo que eu passei com a minha mãe”. Conforme a bancária, suas filhas de 21 e de 17 anos também pensam em se submeter à cirurgia no futuro.

Prevenção

Ao anunciar ontem que se submeteu à mastectomia bilateral, Angelina Jolie justificou a iniciativa como uma forma de viver com tranquilidade para criar os seis filhos diminuindo o risco de ter a doença que matou sua mãe. “Sempre falamos da ‘mamãe da mamãe’, e eu me vejo tentando explicar a doença que a levou de nós. Eles perguntaram se o mesmo pode me acontecer”, escreveu Jolie.

O mastologista Ruffo Freitas Júnior, diretor da Escola Brasileira de Mastologia e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), elogiou a atitude da atriz. “Ela foi muito sensata porque muitos tumores de mama são extremamente agressivos e vale a pena prevenir”, disse.

Mutação

O médico explica que Angelina Jolie chegou a fazer um exame que detecta se os genes BRCA 1 e BRCA 2 sofreram mutação. “Existem genes no nosso corpo que estão ligados ao câncer. Todo mundo tem. Eles protegem o corpo das células defeituosas, que podem se multiplicar causando o câncer. Quando esses dois genes sofrem mutação eles perdem a capacidade de destruir ou consertar as células doentes”.

Com a mutação dos genes BRCA1 e BRCA2 a pessoa passa a ter até 80% de chances de desenvolver câncer de mama e de ovário. “A mastectomia profilática consiste na retirada da parte interna das mamas, preservando a pele e os mamilos. Os seios são preenchidos com próteses de silicone”, informa o mastologista (veja quadro nesta página). A paciente que se submete à cirurgia, conforme Ruffo Freitas, diminui em 90% as chances de ter câncer.

 

Exame custa até R$ 12 mil

15 de maio de 2013 (quarta-feira)

Para detectar se os genes de uma paciente, que tem histórico familiar de câncer, sofreram mutação, existe o exame chamado de sequenciamento de genes. “O que impede que muitas mulheres façam o exame é fato de que nem o Sistema Único de Saúde (SUS) nem os planos de saúde particulares cobrem o procedimento. O custo vai de R$ 6 mil a R$ 12 mil”, revela o mastologista Ruffo Freitas Júnior.

Mesmo sem o exame, muitas mulheres optam pela mastectomia preventiva para se livrarem do medo de desenvolver câncer. “Temos programas que detectam matematicamente se a pessoa tem probabilidade de ter a doença. Para algumas mulheres isso é suficiente”, destaca.

Há também casos de mulheres que têm a grande probabilidade de desenvolver câncer de mama, mas têm medo de se submeter à mastectomia preventiva. Segundo o mastologista, antes da cirurgia os profissionais explicam que pode haver problemas. “Os seios podem ficar diferentes um do outro, a mulher pode perder a sensibilidade nas mamas, o que afeta a sexualidade, e pode acontecer a necrose dos mamilos”, diz. No Brasil, o câncer de mama é o segundo tipo mais frequente da doença, o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano.

Fonte: O Popular