Governos precisam se adaptar às manifestações
Analistas acreditam que autoridades devem tentar mudar forma de se relacionar com protestos
Diferente do que esperavam as autoridades brasileiras, a maioria das notícias sobre o País na imprensa internacional às vésperas da Copa das Confederações foram negativas, principalmente sobre a onda de manifestações que tomou conta de várias cidades brasileiras e a forte reação policial.
Por aqui, a população tenta ainda entender o que o significa essa série de manifestações, espalha de norte a sul do País. Especialistas divergem sobre a origem dos protestos, mas são unânimes em um ponto: os governos vão ter que aprender a lidar com manifestações desta natureza.
Para Nildo Viana, doutor em sociologia e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), elas são reflexo de uma conjuntura nacional e internacional, que começou ainda em 2008. “Houve uma diminuição do poder econômico e determinadas políticas estatais que não atacaram (isso). Nesse contexto de indignação e com o aumento da passagem, tudo acaba acirrando os ânimos. Esse conjunto todo dá uma expectativa de medo e há um aumento da tensão.”
Para Viana, os movimentos que estão surgindo são espontâneos, o que os diferencia dos que ocorria na época da ditadura. “Uma das novidades é que não são mais como nos anos 1960, 1970. Não é organizado por partidos. Tem os grupos políticos, mas não é o que move os movimentos. ”
O professor da UFG e pesquisador de comunicação e política, Luiz Signates, também não acredita na presença preponderante de partidos políticos na organização dos protestos. “O pessoal está falando em infiltração de partidos políticos. Normalmente partidos se inserem, aproveitando a onda, mas esses pequenos partidos não têm força. Podem até estar ajudando a organizar, mas não têm capacidade de mobilização deste tamanho.” Ele cita como exemplos manifestações históricas como Diretas Já e o Fora Collor, que contaram com grandes colisões partidárias.
Já o sociólogo da Universidade de Brasília, Antônio Flávio Testa, aponta uma outra posição. Para ele, os protestos foram sim organizados por partidos políticos de esquerda, principalmente PSOL e PSTU, contra o governo. “O que está por trás disso são as eleições do ano que vem. Vão surgir várias manifestações, de vários tipos”, comenta Antônio Flávio.
Ele complementa o raciocínio dizendo que as manifestações já estavam sendo planejadas antecipadamente. “Os caras já sabiam do aumento e aproveitaram isso. Foi uma decisão de movimento político.
Reação
Independente de quem tenha organizado os eventos, a reação por parte do Estado é ponto passivo entre os especialistas ouvidos. “O Estado perdeu essa guerra. A verdade é essa”, diz Testa, ao citar o episódio de São Paulo, na última quinta-feira, quando policiais tentaram impedir que manifestantes chegassem à avenida Paulista. “A opinião pública está contra ele (o Estado). É como a cavalaria atacar estudantes na ditadura.”
Signates acentua que o poder público precisa perceber as mudanças da sociedade, principalmente na comunicação, e isso compromete sua imagem. “Hoje, tudo que se faz em público se torna mais visível. A população tomou conta da comunicação. O aparelho repressivo do Estado tem que se adequar a isso.”
Na manifestação de São Paulo, imagens disponibilizadas pela internet puseram em xeque pronunciamentos oficias do governo.
Para Nildo Viana, a reação dos governos tende a fomentar ainda mais os movimentos no País. “ O governo tem que se posicionar. A grande questão é a forma como está se posicionando. A partir do momento que você está insatisfeito e a parte não quer negociar, a revolta aumenta. O governo está dando razões à revolta.”
Outro ponto citado por Viana é de que a pauta de reivindicações tende a aumentar. “Qual o papel da polícia? Vai ter outra reivindicação, que vai se juntar a outra e assim por diante. Em 1968 foi assim. Isso vai influenciar vários setores”
Em Santa Catarina, protestos há 10 anos
Florianópolis - Protestos contra o reajuste anual das tarifas de ônibus ocorrem há pelo menos dez anos consecutivos em Florianópolis, segundo o sindicato das empresas.
A maioria deles terminou em confrontos violentos entre policiais e estudantes --boa parte ligada ao MPL (Movimento Passe Livre).
Os dois mais graves foram registrados em 2004 e 2005, quando as tarifas aumentaram 15,6% e 8,8%, respectivamente.
Neste ano, o prefeito Cesar Souza Júnior (PSD) disse que as tarifas não serão reajustadas.
Fonte: O Popular