Governos precisam se adaptar às manifestações

Analistas acreditam que autoridades devem tentar mudar forma de se relacionar com protestos

Pablo Santos 16 de junho de 2013 (domingo)

 

 

Diferente do que esperavam as autoridades brasileiras, a maioria das notícias sobre o País na imprensa internacional às vésperas da Copa das Confederações foram negativas, principalmente sobre a onda de manifestações que tomou conta de várias cidades brasileiras e a forte reação policial.

Por aqui, a população tenta ainda entender o que o significa essa série de manifestações, espalha de norte a sul do País. Especialistas divergem sobre a origem dos protestos, mas são unânimes em um ponto: os governos vão ter que aprender a lidar com manifestações desta natureza.

Para Nildo Viana, doutor em sociologia e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), elas são reflexo de uma conjuntura nacional e internacional, que começou ainda em 2008. “Houve uma diminuição do poder econômico e determinadas políticas estatais que não atacaram (isso). Nesse contexto de indignação e com o aumento da passagem, tudo acaba acirrando os ânimos. Esse conjunto todo dá uma expectativa de medo e há um aumento da tensão.”

Para Viana, os movimentos que estão surgindo são espontâneos, o que os diferencia dos que ocorria na época da ditadura. “Uma das novidades é que não são mais como nos anos 1960, 1970. Não é organizado por partidos. Tem os grupos políticos, mas não é o que move os movimentos. ”

O professor da UFG e pesquisador de comunicação e política, Luiz Signates, também não acredita na presença preponderante de partidos políticos na organização dos protestos. “O pessoal está falando em infiltração de partidos políticos. Normalmente partidos se inserem, aproveitando a onda, mas esses pequenos partidos não têm força. Podem até estar ajudando a organizar, mas não têm capacidade de mobilização deste tamanho.” Ele cita como exemplos manifestações históricas como Diretas Já e o Fora Collor, que contaram com grandes colisões partidárias.

Já o sociólogo da Universidade de Brasília, Antônio Flávio Testa, aponta uma outra posição. Para ele, os protestos foram sim organizados por partidos políticos de esquerda, principalmente PSOL e PSTU, contra o governo. “O que está por trás disso são as eleições do ano que vem. Vão surgir várias manifestações, de vários tipos”, comenta Antônio Flávio.

Ele complementa o raciocínio dizendo que as manifestações já estavam sendo planejadas antecipadamente. “Os caras já sabiam do aumento e aproveitaram isso. Foi uma decisão de movimento político.

Reação

Independente de quem tenha organizado os eventos, a reação por parte do Estado é ponto passivo entre os especialistas ouvidos. “O Estado perdeu essa guerra. A verdade é essa”, diz Testa, ao citar o episódio de São Paulo, na última quinta-feira, quando policiais tentaram impedir que manifestantes chegassem à avenida Paulista. “A opinião pública está contra ele (o Estado). É como a cavalaria atacar estudantes na ditadura.”

Signates acentua que o poder público precisa perceber as mudanças da sociedade, principalmente na comunicação, e isso compromete sua imagem. “Hoje, tudo que se faz em público se torna mais visível. A população tomou conta da comunicação. O aparelho repressivo do Estado tem que se adequar a isso.”

Na manifestação de São Paulo, imagens disponibilizadas pela internet puseram em xeque pronunciamentos oficias do governo.

Para Nildo Viana, a reação dos governos tende a fomentar ainda mais os movimentos no País. “ O governo tem que se posicionar. A grande questão é a forma como está se posicionando. A partir do momento que você está insatisfeito e a parte não quer negociar, a revolta aumenta. O governo está dando razões à revolta.”

Outro ponto citado por Viana é de que a pauta de reivindicações tende a aumentar. “Qual o papel da polícia? Vai ter outra reivindicação, que vai se juntar a outra e assim por diante. Em 1968 foi assim. Isso vai influenciar vários setores”

 

Em Santa Catarina, protestos há 10 anos

(Folhapress) 16 de junho de 2013 (domingo)

Florianópolis - Protestos contra o reajuste anual das tarifas de ônibus ocorrem há pelo menos dez anos consecutivos em Florianópolis, segundo o sindicato das empresas.

A maioria deles terminou em confrontos violentos entre policiais e estudantes --boa parte ligada ao MPL (Movimento Passe Livre).

Os dois mais graves foram registrados em 2004 e 2005, quando as tarifas aumentaram 15,6% e 8,8%, respectivamente.

Neste ano, o prefeito Cesar Souza Júnior (PSD) disse que as tarifas não serão reajustadas.

Fonte: O Popular