Como evitar amputação

Hospital público mostra tratamento de excelência: trabalho visionário e humano

“Cheguei de chinelos. Arrastando os pés. E agora posso calçar um sapato”, diz, emocionado, o aposentado Adealdo Pereira dos Santos. Ele conta como recobrou a esperança de cura de uma enfermidade na pele que foi tratada por equipe multidisciplinar do Hospital de Dermatologia Sanitária (HDS), unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).

Com diagnóstico de uma úlcera ocasionada por complicações vasculares, Adealdo sofreu por anos com uma ferida que não cicatrizava.

 Já Zita Meireles Mendes, dona de casa, que chegou ao hospital com diagnóstico de amputação recebeu alta com apenas dois meses de tratamento. “Foi Deus Quem iluminou essa equipe e hoje estou sarada”, comemora Zitao fim de uma história de sofrimento.

Feridas, machucaduras que não cicatrizam em decorrência do diabetes, complicações vasculares e úlceras são as maiores causas de amputação de membros no mundo, segundo o doutor em epidemiologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Ivan Maciel.

Médico titular do HDS, uma unidade da Secretaria de Estado da Saúde, Ivan diz que credita os casos de sucesso da unidade ao tratamento diferenciado oferecido aos pacientes.

  “O que temos aqui é obediência a protocolos internacionais preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Sociedade Brasileira de Tratamento Avançado de Feridas (Sobratafe)”, explica. 

O histórico de pacientes desenganados que chegamao HDS fadados à amputação é relevante. Assim como a reversão desse quadro onde muitos são curados de feridas muito profundas. “Utilizamos aqui curativos modernos, medicamentos de ponta, além de treinamento técnico específico. Condição indispensável para o êxito do tratamento”, explica Ivan.

Pacientes de outros Estados, inclusive, têm procurado o HDS como último recurso para alcançar a cura de suas enfermidades. “Fazemos um trabalho especializado porque usamos insumos de alta qualidade”, explica Ivan.

O especialista relata que o custo benefício desse procedimento e excelente haja vista que pacientes que passam anos, até mais de 30, em tratamento dessas doenças com produtos ineficazes, podem curar-se em trinta dias, com um bom produto de mercado. “A nossa próxima etapa será a busca por curativos à vácuo e uso de Câmara Hiperbárica (que trata a ferida com emissão de oxigênio)”, explica.

Esse tratamento, conhecido como oxigenioterapia utiliza o oxigênio sob pressão como medicamento. Uma vez melhor tratadas com oxigênio, as células chamadas fibroblastos voltam a ter a sua função normalizada, com consequente estímulo na formação de novos capilares sanguíneos, aumento da ação bactericida e bacteriostática dos antibióticos, e formação de células responsáveis pela estrutura da pele.

Isso culmina com a  aceleração de cicatrizações e melhora o combate as infecções, além de aumentar a eficácia de determinados antibióticos.

Desta forma, o equipamento pode auxiliar a reduzir ou até mesmo evitar procedimentos cirúrgicos mutilantes e excessivos, proporcionando uma recuperação mais rápida e com melhores resultados clínicos.

 “Estamos em busca, também, de parcerias para cirurgias de enxerto que reduzem o tempo de resolução da ferida de 6 meses para 40 dias. Além da internação aqui no HDS de pacientes mais graves que precisam de acompanhamento terapêutico regular”, diz. 

Todo esse cuidado tem como principal objetivo aliviar a angústia de pacientes que muitas vezes já se encontravam esquecidos.  A equipe do HDS é formada por especialistas em Endocrinologia; Oftalmologia; Cardiologia; Geriatria; Ortopedia; Psiquiatria; Cirurgia Geral; Psicologia e Serviço Social.

 ARTE  SUPERA  

DORES sofridas

 Arte em cores, amparo psicológico e técnicas avançadas em tratamento de feridas dermatológicas são ferramentas poderosas na cura de doenças

 O uso das cores e da arte como meio para superar processos dolorosos foi o caminho encontrado pelo pintor e artista plástico, Tadeu de Oliveira, 44, para vencer as sequelas deixadas pela hanseníase.

 Morador da antiga Colônia Santa Marta, em Goiânia, Tadeu, cujo destino seria a reclusão para tratar a doença, encontrou na Casa Viva – unidade Terapêutica do Hospital de Dermatologia Sanitária Santa Marta (HDS) da Secretaria de Estado da Saúde (SES) – um alento para as dores que sofria com os curativos e autoestima para driblar o preconceito que ainda resistia em relação à enfermidade.

 “Antigamente a internação para quem tinha ‘hansen’ era compulsória. Você não tinha escolha. Era obrigado a isolar-se nas colônias para tratamento. Cheguei aqui sem rumo. Mas foi com os pincéis e telas que retomei minha dignidade e descobri uma profissão”, diz.

 Atualmente, pacientes que são acometidas por essa enfermidade podem ser tratadas em casa. Isso porque a pessoa que está em tratamento não corre o risco de contaminar outras. 

O espaço terapêutico Casa Viva conta com trabalho de reabilitação de pacientes que já foram amputados em consequência da enfermidade e com pacientes de outros tipos deferimentos no HDS. Na terapia psicológica e ocupacional usa-se muita guache, tinta a óleo, itens de decoração e tapeçaria, que dão o tom do lugar.

 Tadeu trabalha com arte e retira dela o sustento para casa. Pinta com talento e cores vivas retratos e outras obras. “Tenho influência do artista Paul Cezanne, gosto da geometria dele”, diz. Já o expressionismo de Salvador Dali pode ser reconhecido em sua arte com as pinceladas de cores vivas.

 Foi na Casa Viva que Tadeu e outros pacientes venceram o medo da incapacidade e as dores provocadas pelo tratamento. “Fazer os curativos era doloroso. Mas o envolvimento com meu trabalho tirava de mim “o foco” daquela ferida e me ajudava a vencer a doença.

 Para o grupo de psicólogos que trabalham há mais de 20 anos no HDS a terapia em grupo traz ao paciente um outro significado para a vida. Isso porque ele canaliza energia para a arte. E o prazer em criar algo novo os ajuda a suportar melhor a dor do tratamento que pode levar dias ou até meses. 

 “Se esse paciente recebe uma massagem terapêutica e participa, nas reuniões,da dor do outro, ele adquire força eesperança em cicatrizar a doença que o aflige”, diz a psicóloga Margareth de Morais, terapeuta de grupo.

 Para o psicólogo, Lindomar Tomé Lopes, a terapia por meio da arte permite que o paciente encontre equilíbrio emocional para vencer as dores e poder chegar ao final do tratamento com sucesso. “Também trabalhamos a respiração como forma de alívio desse sofrimento. Quanto mais relaxada a pessoa fica, mais equilíbrio terá para suportar a dor”, explica.

 A terapia com arte ou “Arteterapia” tem como base a crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas.

Por meio do criar em arte o indivíduo aumentar a autoestima, lida melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, além de desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais para desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

Fonte: Diário da Manhã