Corpo em Transe

O namoro é antigo. O Sonhus Teatro Ritual sempre admirou o trabalho do diretor uruguaio Hugo Rodas, que adotou Brasília como morada. Rodas, por sua vez, sempre teve boas referências acerca da linguagem cênica e do esforço de pesquisa do grupo goiano. O encontro deles resultou no espetáculo A Força da Terra, que estreia hoje, às 19 horas, no Centro Cultural UFG. Amanhã, haverá reapresentação, às 20 horas, no mesmo local. A estreia faz parte da intensa programação da 2ª Sesc Aldeia do Diabo Velho, que segue até sábado.

Após 55 anos de carreira, Hugo Rodas é reconhecido por tentar sempre se reinventar e encontrar novos modos de linguagem. É isso que ele promete ao público deA Força da Terra. “É um espetáculo muito poético, que mostra bem o amadurecimento do grupo”, explica ele, que se inspirou no filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, para criar o espetáculo. O longa, adaptação para o cinema da obra-prima homônima de Graciliano Ramos, completa 50 anos em 2013.

Alinhado ao teatro físico – e quase sem falas como no filme –, A Força da Terra é baseado na expressão dos atores. Ilka Portela, Jô de Oliveira, Nando Rocha e Pablo Angelino são os atores-criadores do espetáculo, que é dividido em três partes. Na primeira, o caos da criação, com os próprios atores montando o cenário sob os olhares do público em uma linguagem quase circense. O humor dá o tom desse início.

A segunda parte é cheia de referências ao filme de Nelson Pereira dos Santos, inclusive com a projeção de imagens dele. A seca que não é apenas da terra, mas também da emoção e da subjetividade do ser humano, é apresentada ao público. A terceira e última parte mostra a relação do homem com a terra e de que como as cidades ocuparam o espaço, realinhando a ordem do caos. O momento de reflexão aborda temas atuais como a recente onda de protestos que tomou conta das ruas do Brasil.

TEMPORADAS

Após a estreia hoje, A Força da Terra tem temporadas agendadas em Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e em Cavalcante, no interior de Goiás. “O espetáculo fala sobre as relações do homem com a natureza, a terra, com animais, e com sua própria natureza, com a formação da família e sua constituição enquanto sociedade”, explica Ilka Portela, uma das atrizes do grupo.

Hugo Rodas explica que a linguagem do espetáculo – inclusive sua divisão em três começos – tem muito a ver com a produção, que foi interrompida por alguns momentos desde 2011. “Tivemos a oportunidade de aproveitar o distanciamento de tempo e espaço, para reavaliar a ideia original três vezes. O que o espetáculo tem de mais genial, para mim como diretor, é justamente ter deixado o acaso contribuir com o resultado final”, conta o diretor, que também assina a concepção de iluminação e a cenografia do espetáculo.

Outro destaque da programação de hoje é a apresentação da tragicomédia O Silêncio, do Grupo de Pesquisas Cênicas do Sesc-DF, às 21 horas, no Teatro Goiânia. Com livre adaptação de Nos Deux Consciences, de Paul Anthelme, e inspirado no filme I Confess (cujo título em português é A Tortura do Silêncio), dirigido por Alfred Hitchcock, a peça se desenvolve num clima de suspense e mistério relacionado a um assassinato ocorrido nos anos 40, em Quebec, no Canadá.

Fonte: O Popular