Em um futuro apocalíptico, quando máquinas e humanos disputam a sobrevivência, vive Antônio Euclides, personagem principal do livro BioCyberDrama Saga. A obra, primeira HQ publicada por uma editora universitária no País, será lançada hoje, às 21 horas, no Centro Cultural UFG. Os responsáveis pela empreitada são o artista multimídia e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG Edgar Franco, o ilustrador e desenhista Mozart Couto e a Editora UFG.
Durante a festa de lançamento, a banda Posthuman Tantra, do professor Edgar, responsável pelo roteiro de BioCyberDrama Saga, fará um show performático. “A apresentação acontece no mesmo universo da história em quadrinhos. Vai ser como se fossem quadrinhos ao vivo fazendo música dentro da ficção científica”, antecipa o professor, conhecido no câmpus da universidade pelo visual incomum, marcado por roupas escuras, cartolas e referências ao universo ficcional de seus estudos acadêmicos.
São nesses estudos que Edgar Franco buscou inspiração para o roteiro de BioCyberDrama Saga, que é dividido em três partes. A primeira foi lançada em 2003, tendo ótima repercussão de crítica e de público. As duas últimas são inéditas.
Prêmios
Na época do lançamento da primeira parte, a HQ foi indicada aos prêmios HQmix, uma das mais tradicionais premiações dos quadrinhos brasileiros, de melhor roteirista e melhor edição especial nacional de 2003. A obra recebeu o prêmio Ângelo Agostini de melhor desenhista de 2003, concedido a Mozart Couto.
Mozart trabalha no mercado de quadrinhos há quase 40 anos e colaborou com revistas das editoras Marvel Comics, DC Comics, Acclaim Comics, entre outras. O novo trabalho editado pela UFG, apresentado na forma de um álbum luxuoso com mais de 200 páginas, inclui a saga completa, a descrição detalhada do universo ficcional da Aurora Pós-humana, criado por Edgar, além dos bastidores do processo criativo da obra.
“Como sou orientador do doutorado e mestrado em Arte e Cultural Visual, pesquisa sempre foi um campo que me interessou. A HQ é influenciada pelo meus estudos sobre a interação entre os homens e as novas tecnologias, a robótica, a nanotecnologia. Temas como carne e silício, hibridação e transgenia fazem parte dos meus estudos há 15 anos”, explica.
Os autores
04 de outubro de 2013 (sexta-feira)
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Mozart Couto
Ilustrador e autor de histórias em quadrinhos, tem trabalhos publicados em vários países da Europa e nos Estados Unidos. Produziu para diversas editoras do eixo Rio–São Paulo, recebendo, em 1986, o prêmio de melhor desenhista da Associação de Quadrinistas e Cartunistas de São Paulo. É um dos principais divulgadores do Gimp, software de ilustração gratuito utilizado como alternativa ao Photoshop.
Edgar Franco
Arquiteto, artista multimídia, fanzineiro, pesquisador, desenhista e autor de histórias em quadrinhos no suporte papel e no meio digital. Atualmente é professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG. Desde a década de 1980 mantém uma intensa produção de histórias em quadrinhos poético-filosóficos.
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Universo futurista
04 de outubro de 2013 (sexta-feira)
A primeira parte de BioCyberDrama Saga narra o dilema de Antônio Euclides, um jovem “resistente” que aos poucos vai sendo seduzido pelas promessas de vida eterna ou plena oferecidas pelas culturas predominantes do universo futurista, os tecnogenéticos (seres híbridos de humano com animal e vegetal) e extropianos (ciborgues com a consciência de um humano transplantada em um chip).
Antônio se depara com a grande questão de sua vida: tornar-se extropiano, tecnogenético ou continuar resistente. A segunda parte de BioCyberDrama dá continuidade à saga de Antônio Euclides e seus “dilemas pós-humanos”, apresentando uma tensão ainda maior entre as espécies do universo fictício. A parte três, conclusão da saga, tem inspiração na história de Canudos e de Antônio Conselheiro, reinventadas para um contexto pós-humano.
“Crio um deslocamento conceitual para discutir temas atuais como as pressões que os jovens sofrem para pertencer a grupos sociais”, compara Edgar. Além de roteirista de quadrinhos e líder da banda performática, o professor é arquiteto e urbanista de formação pela Universidade de Brasília (UnB), onde iniciou suas pesquisas sobre a linguagem dos quadrinhos e suas conexões com a arquitetura. Chegou a publicar o livro História em Quadrinhos e Arquitetura, pela editora Marca de Fantasia em 2004.
Em seu mestrado em multimeios na Unicamp estudou as HQs na internet, batizando essa linguagem híbrida de quadrinhos e hipermídia de HQtrônicas (histórias em quadrinhos eletrônicas), pesquisa que serviu como base para o livro HQtrônicas: Do Suporte Papel à Rede Internet, editado em 2005. Em 2006 concluiu o doutorado em artes na ECA/USP.
Sua pesquisa de doutorado, Perspectivas Pós-Humanas nas Ciberartes, foi premiada no programa Rumos Pesquisa 2003 do Centro Itaú Cultural. Em 2011 concluiu o pós-doutorado em artes no Programa de Pós-graduação em Arte da UnB.
Apesar da consistente obra acadêmica sobre HQs, Edgar admite que o tema ainda sofre preconceitos dentro das universidades no País. “Há uma resistência, sim. Acredito que falta a compreensão que a HQ é uma forma de expressão artística tão legítima como o cinema e a literatura, por exemplo. É uma forma de arte tão importante quanto qualquer outra”, defende. BioCyberDrama Saga integra a coleção Artexpressão, da Editora UFG, dedicada a livros de arte.