Iris teme decidir sobre candidatura agora

Ex-prefeito celebra Goiânia. Ele diz ter receio de tomar decisão sobre candidatura ao Governo e depois ter que voltar atrás|

Na semana em que Goiânia faz 80 anos, o ex-prefeito e ex-governador de Goiás, Iris Rezende (PMDB) destaca a importância da Capital para o Centro-Oeste e até mesmo como influência para construção de Brasília no centro do país. Iris recebeu a Tribuna do Planalto em seu apartamento, no Setor Oeste, no dia 16 de outubro e afirmou que Goiânia tem muito a comemorar pelo desenvolvimento que conseguiu promover desde a sua fundação. Disse que sua expansão conseguiu superar muito as expectativas do seu fundador, Pedro Ludovico Teixeira, a quem classificou como iluminado na vida pública. Considerado a principal liderança individual do PMDB, Iris não quis falar muito sobre política partidária, mas comentou sobre a sucessão eleitoral em 2014 e criticou a atual gestão de Marconi Perillo, que segundo ele, tem deixado o Estado caminhar para um “abismo”. Em relação ao prefeito da Capital, Paulo Garcia (PT), disse que ele vai bem na administração, mas que enfrenta problemas naturais de ter sucedido uma boa gestão. Mais uma vez deixou dúvida se será candidato ou não ao governo do Estado. Diz que em política não se pode cantar pedra antecipadamente porque os quadros mudam rapidamente. Afirma que corre o risco de dizer uma coisa hoje e mais na frente a situação caminhar para outros rumos e ele ter que mudar o seu posicionamento e ficar desmoralizado perante a sociedade.


Tribuna do Planalto - O que Goiânia tem para comemorar com seus 80 anos?
Iris Rezende - Goiânia é das poucas cidades brasileiras que tem motivo para comemorar, diária e permanentemente sua existência. É uma cidade que conseguiu superar todas as expectativas, inclusive, de seu idealizador e construtor Pedro Ludovico Teixeira. Aquela época planejaram uma cidade para 60 mil habitantes em 50 anos e em menos de 20 anos ela já estava com mais de 100 mil habitantes. É uma cidade que cresceu evitando defeitos e corrigindo os que surgiam em seu processo de desenvolvimento. Basta dizer que Goiânia é a cidade brasileira, principalmente, entre as de seu porte, sem problemas sociais graves. É desprovida de favelas, o poder aquisitivo de seu povo é elevado, se transformou em um dos maiores centros de ensino superior do país e um dos grandes centros de tratamento e saúde. Os médicos de Goiânia disputam o conhecimentos uns com os outros, isso é salutar. Pessoas do Brasil inteiro buscam nossa Capital. Goiânia aos seus 80 anos pode se proclamar como cidade que deu certo.

Tudo isso teve parte fundamental o seu fundador, Pedro Ludovico Teixeira?
Claro, ao comemorar os 80 anos não devemos falar de Goiânia sem se lembrar de Pedro Ludovico. Um dos iluminados nesse país na vida pública. Ele, entendendo que a capital de Goiás cresceria e que não haveria espaço para sua expansão, decidiu construir uma nova capital e fez com muita propriedade. Naquela época, outras cidades disputavam a construção na cidade nas suas proximidades, mas veio justamente aqui para Campinas, que era uma cidade que já contava com quase 120 anos. Naquela época era um das cidades mais importantes de Goiás, porque era sede dos padres redentoristas, que sediava aqui os seminários para formação de padres. Pedro Ludovico escolheu Campinas justamente pela existência do Rio Meio Ponte. Ele pensou longe e acreditou que a cidade no futuro iria precisar de água para o seu abastecimento e esgotamento. Pedro foi um idealista, um administrador correto e de grande alcance (ao prever o) que poderia ocorrer de desenvolvimento em Goiás. Getulio Vargas à época também já se preocupava com o Centro-Oeste, quando criou a Fundação Brasil Central e lançou a Marcha para o Oeste. Trouxe linha telegráfica cortando essa região até as margens do Araguaia e Barra dos Garças, construiu duas pontes no Rio Garças e Araguaia. Tudo isso propiciou a ocupação do nosso território. Com a Marcha para o Oeste e a construção da capital as atenções do Brasil, mesmo com as dificuldades de comunicação da época, se voltaram para o Centro-Oeste brasileiro.

Goiânia também teve uma importância para a construção de Brasília...
Uma coisa importante de Goiânia, que é motivo para comemoração de toda população, é que se o Pedro (Ludovico) não tivesse construído Goiânia, Juscelino Kubitschek não teria se inspirado e tomado a coragem de construir também a nova capital federal. Indiscutivelmente, se não fosse Brasília, o Centro-Oeste não seria o que ele é hoje. Goiás não estaria com sua produção agroindustrial já consolidada. Mato Grosso não seria o Estado que é hoje, superando o Paraná em produção de grãos. Isso se deve a presença do governo federal no centro do Brasil. De forma que Goiânia, além proporcionar o desenvolvimento o local, uma nova vida para os goianos, ela inspirou Juscelino a construir a Capital Federal. Pra mim, Brasília é um dos grandes feitos da humanidade. Juscelino não pensava em construir um nova capital e no decorrer de sua campanha tomou essa decisão. Em cinco anos de governo, Juscelino projetou Brasília, que não é um projeto qualquer, desapropriou terras na área do Distrito Federal e construiu Brasília. Estou certo que Goiânia, se torna a cada dia, um centro de irradiação de desenvolvimento na área industrial, cientifica, cultural, em todas as áreas. Goiânia é como um foco de luz plantando no centro do país para irradiar influências para o Brasil todo e principalmente para região norte e parte do nordeste e centro-oeste.

Quando o senhor foi eleito pela primeira vez, Goiânia já tinha trinta e poucos anos. Naquele momento, ela já não era aquela capital projetada por Pedro Ludovico, já tinha superado a população para que foi projetada. Quais eram os grandes desafios naquele momento?
Vou deixar a modéstia de lado. Quando assumi a prefeitura estava com 32 anos de idade. Era jovem. Fui tomado de sentimentos que à época nem sempre eram motivos de preocupação do mundo político administrativo e comecei a tomar atitudes. Goiânia era ocupada a cada dia, a cada mês por centenas de famílias que chegavam de toda parte do Brasil e iam tomando ruas e praças, se instalando no que chamavam à época de invasão, que são as favelas de hoje. Assumi a prefeitura e entendi que precisávamos fazer em Goiânia uma cidade desprovida de favelas. Aproveitei a criação do BNH (Banco Nacional de Habitação), criamos a Cohab e construímos naquela época milhares de casas. Vila Redenção, União, Canaã e Vila Alvorada. Aquela época não era de graça não. A prefeitura tinha que comprar terrenos. Ali onde é a Vila União e Canaã era um descampado. Na época disseram que estava tirando o pessoal das praças e jogando no mato. Eles não tinha a dimensão do que era Goiânia e eu já tinha o alcance, mas não ficou só nisso. Goiânia foi planejada para 50 mil habitantes em 50 anos após a sua fundação e assumi a cidade já com mais de 200 mil habitantes. E o que fiz? O BNH, paralelamente a construção de casas, abriu uma linha de crédito para cidades com população superior a 200 mil habitantes para elaboração de plano diretor. Imediatamente credenciei Goiânia. Foi aprovado o financiamento, que era de uma linha de recursos internacionais e abrimos uma concorrência de âmbito internacional, que era exigência do BNH, para a contratar a empresa que viesse fazer o novo plano diretor de Goiânia. Quer dizer, tivesse me acomodado, não cuidasse de um planejamento da cidade, um futuro, Goiânia não seria essa cidade proxima da perfeição. Contribui, entendendo que Goiânia precisa se estruturar tecnicamente para evitar os futuros defeitos. Foi feito o plano diretor, que estava aí até pouco tempo. Outros prefeitos tomaram outras atitudes.

Goiânia sempre tem uma mítica de ser de oposição. Na maioria das vezes tem prefeitos que não são ligados ao governador. O sr. acha isso, que Goiânia é de oposição é por quê?
Não existe bem isso. É claro que a população de Goiânia, é politicamente avançada, porque quantos mil universitários temos em Goiânia. A população de universitários de Goiânia para qualquer cidade do Brasil é muito grande e o estudante, o universitário, é sempre exigente, cheio de ideias e preocupação com futuro. Consequentemente está disposto a discutir política e comportamentos e nem sempre os governantes estão aptos para acudirem as exigências da juventude. É uma cidade altamente politizada. Goiânia é sede da OAB, do Conselh de Medicina, do governo estadual, de (órgãos) do governo federal. Então, são pessoas altamente qualificadas que compõem esses quadros administrativos. É natural que essa gente seja mais exigente politicamente. Não sou arrogante, sou humilde, mas da minha parte posso dizer que se Goiânia vive como vive, a minha participação não se resumiu somente com plano diretor, com política habitacional, foi muito mais. Quando assumi o governo de Goiás em 1983, apenas 40% da cidade era abastecida de água tratada. Nós imediatamente aumentamos o volume da estacão de bombeamento do Ribeiro João Leite, mas senti que não era o suficiente e partimos para a construção do sistema de captação, bombeamento e tratamento no Rio Meia Ponte, na Região Noroeste. Isso foi nos anos 1980. E hoje, Goiânia está quase que 100% abastecida de água por aquele sistema de água do Meia Ponte, que construí em um mandato. Você já pensou o que seria de Goiânia hoje sem esse sistema de captação e tratamento de Água? Pensei longe, pensei a frente 30 anos. Não pensei apenas no resultado daquela época. Porque naquela época a obra era ainda para a Goiânia que não existia. Em outras áreas atuamos fortemente, porque Goiânia foi superando tudo. Goiânia tem hoje o seu Tribunal de Justiça, tem o Fórum na Capital construídos por mim no meu primeiro mandato de governador. Isso há quase 30 anos. Goiânia tem uma rodoviária digna. O visitante que chega de ônibus logo se gratifica com a cidade que o está recebendo. Um dos pontos mais fortes que atuei a época também no primeiro mandato foi no ensino superior.

O sr. chegou a trabalhar pelo ensino superior no Estado?
Quando assumi Goiás contava com apenas dois cursos de ensino superior. Era a escola de Eduação Física aqui em Goiânia (Eseffego) e uma escola de economia e administração em Anápolis. Lutei muito pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Fui a Brasília inúmeras vezes, quando o presidente ainda era pelo regime ditatorial. Conclui que aquele jovem inteligente, sonhador do interior, quando terminava o segundo grau se seu pai tinha poder econômico, ele vinha para estudar em Goiânia ou ia estudar em Brasília. Se não, ficava aprendendo a jogar bilhar nos bares das esquinas e ali estava o Estado a perder um potencial de ideal e de conhecimento. Criamos faculdades estaduais no interior de Goiás e aquela época Goiás e Tocantins ainda eram um Estado só. Fomos plantando curso de ensino superior de ponta a ponta no Estado, construindo sede para essas faculdades, foi quando criamos a Universidade Estadual de Anápolis (Uniana). Era esse nome porque Goiânia já tinha duas universidades. Era preciso deslocar um pouco a administração. Depois o governador Marconi (Perillo) mandou uma lei para a Assembleia mudando o nome de Universidade Estadual de Anápolis para Universidade Estadual de Goiás (UEG). E quis enganar o povo como se fosse ele o criador do ensino superior em Goiás. Não deixo que me tirem esse mérito. Foi enxergar longe, enxergar futuro nos nossos jovens abandonados no interior. Foi pensando nisso que tomei aquelas atitudes. E Goiânia é que me inspirava.

O sr. avalia que faltam políticos que pensem a cidade para 20, 30 anos? Cada vez que vejo um jovem assumindo um espaço na política, seja na Câmara ou Assembleia, quer na prefeitura ou onde for, me sinto reforçado no sentimento de busca de um mundo cada vez melhor. Agora, muitas vezes tem faltado orientações por parte até das nossas próprias universidades. Tenho falado isso constantemente quando sou convidado para paranifar formandos. Deixo o recado para eles com o pedido de que em sua atividade acompanhe, tire um pouco de seu tempo para acompanhar a política. Se for possível candidate. Mas se não tiver tendência para candidatura acompanhe. Pesquise em quem vai votar e ajude o povo a pesquisar quem lhe pedir a voto. E eleito acompanhe a vida dele. Porque o dia que o povo acompanhar os passos dos políticos não vai haver picareta na política e o povo vai aplaudi-los. Por que existe tanto picareta na política? Porque existe espaço para ele.

O sr. se arrepende de ter deixado a prefeitura de Goiânia no seu último mandato, em 2010?
Não. Tomei aquela decisão diante de um apelo emocionado que me faziam prefeitos e deputados estaduais. Se não tivesse tomado aquela atitude, seria um homem frustrado. Me sentiria com detentor do pecado da omissão. Se o governo do Estado tivesse bem, correspondendo a expectativa, não seria candidato. Fui porque senti que o Estado estava caminhando a passos largos para o precipício, como está hoje. O Estado está se desabando. O maior indutor do nosso desenvolvimento está acabando: a Companhia Energética de Goiás (Celg). A estrutura da saúde de Goiás está acabando. A nossa estrutura de Segurança Pública está acabando. Está acabando tudo. Estamos à beira do precipício. Com esse sentimento é que deixei a prefeitura. Não ganhei. Na democracia prevalece a vontade da maioria. Quando deixei a prefeitura não sabia que tinha tanto dinheiro escondido para se gastar naquela campanha, como se gastou.

O sr. foi um eleitor forte do atual prefeito, Paulo Garcia. Um fiador da reeleição dele. Como avalia sua administração?
Ele vai bem. Nós temos que levar em conta uma coisa, quando você sucede uma administração fracassada, qualquer coisa que você fizer você sai bem, aparece. Quando você sucede uma administração exitosa, você tem de fazer demais para aparecer. O Paulo sucedeu uma administração que eu e ele deixamos para esse segundo mandato dele um nível alto. Goiânia é um cidade que a cada dia vem a conviver com problemas que não existiam: esse tumulto que se vê no transporte e a preocupação do servidor com a correção dos seus salários, que a cada dia a vida está a exigir das pessoas maiores gastos. O que passo a medir em primeiro lugar na vida de um administrador é a sua formação moral, correção a sua honestidade. O Paulo é um cidadão extraordinário, é um homem honesto, bem intencionado. E naturalmente enfrenta essas dificuldades, mas elas são naturais.

‘Tem jogadas na vida da gente que é preciso ter ousadia’

O sr. quando foi prefeito, quando encontrava problemas na cidade, ligava para cobrar que o responsável pela área mandasse tapar o buraco ou limpasse o lixo em determinado ponto. O sr. continua com esse hábito com o Paulo e sua equipe ou está mais tranquilo?
Eu tenho a cautela. A minha primeira preocupação de homem público é nunca dar margem a interpretação erroneas. Quando deixei o governo de Goiás, onze meses antes de seu termino para ocupar o Ministério da Agricultura, fui licenciado, porque existia uma jurisprudência de que João Pessoa quando deixou o governo da Paraíba para ser ministro de Estado, ele o fez licenciado. Então não renunciei ao mandado, fui licenciado. E o Onofre Quinan governou por onze meses com o meu secretariado. Nunca telefonei para um secretário meu, telefonava para o Onofre. Depois fui decisivo na eleição do Santillo. Ele já estava perdendo a eleição para Mauro Borges e eu me desloquei de Brasília por três meses, durante os finais de semana, para percorrer o Estado todo com ele e nós reviramos. Ele foi muito gentil comigo e perguntou quem eu queria nomear como secretário e falei o que é seu, é meu. O que colocar está bom. Nunca telefonei para um secretário do Santillo, telefonava pra ele e assim foi com Maguito. Ele é um irmão politico que tenho na vida pública. E por que isso? Para não dar ideia que tem dois mandando. Isso é muito sério. Se houver essa ideia de que há dois mandando, humilha quem? Aquele que está com o poder na mão. Então, com o Paulo tem sido assim. Um dia disse pra ele, 'lhe telefono várias vezes porque não quero dar essa ideia para o pessoal'. Então sempre que nos encontramos discutimos, trocamos ideias e aquela coisa toda, mas eu respeitando a posição dele como prefeito. Pode perguntar para ele se um dia me extrapolei. Nunca, em hipotese alguma. Tenho uma facilidade de me desligar de poder que ocupo de forma extraordinária. Raramente me veêm na Câmara. Na Assembleia, fui deputado e presidente, mas raramente passo por lá. Fui senador por oito anos. Voltei ao Senado um dia quando a Iris (de Araújo), como suplente do Maguito, foi tomar posse. E nunca mais fui. Passo pela Praça Cívica e nem olho para o Palácio. Me desligo inteiramente. É uma força mental que poucos têm.
O Paulo Garcia é um dos nomes citados como possíveis candidatos no ano que vem. O que o sr. pensa dessa possibilidade dele deixar a prefeitura para tentar ser candidato a governador ou a vice?
Tudo depende do momento. Você não pode cantar a pedra faltando um ano para as eleições. Você imaginava, há um mês, que a Marina (Silva) estivesse com o Eduardo Campos? Ninguém imaginava, mas foi por que o partido dela não foi registrado. De repente, mudou-se o quadro nacional. Você imaginaria que o (Ronaldo, deputado federal) Caiado, de repente, deixasse o Vanderlan (Cardoso)? E deixou! Tenho cautela. Quando perdi a eleição para senador, sofri um pouco com a derrota, embora democrata como sou. Perdi por pouco, mas perdi. Decidi largar a política. Fui embora para a roça, voltando para as minhas origens. Fui plantar soja e fiquei seis meses sem vir em Goiânia. Quando vim passar o fim do ano na capital, fui ao cemitério, num velório de uma senhora de Campinas, cuja família fez questão de me avisar. Chegando lá, um casal, ainda jovem, de mais ou menos 50 anos, me chama a atenção dizendo que meu comportamento era inaceitável. Assustei. Ele disse que havia saído uma nota no O Popular falando que tinha deixado a política. E foi numa época em que o PMDB estava acabando. Eles disseram que eu não teria o direito de fazer aquilo. Expliquei que em outro local e oportunidade conversaríamos sobre o assunto, mas voltei para casa um tanto arrasado. No dia seguinte, sai no jornal a data da convenção do PMDB. Dois candidatos a presidente: Nailton (de Oliveira), prefeito de Bom Jardim, e Marcelo Melo, de Luziânia. Chamei ambos, em horários diferentes, e disse que concorreria com eles, mas com a condição de que, indepentende de quem ganhasse, ambos se ajudariam. Nailton, então, disse que fez a chapa porque, se não fosse isso, não haveria diretório em Goiás. Ele acabou sendo meu vice. Acabei sendo presidente e visitei mais de 150 municípios de carro, sem ninguém saber, porque, se o governo soubesse, atrapalharia meu serviço. Acabei sendo candidato a prefeito e ganhei. A melhor coisa que aconteceu na minha carreira política foi ser prefeito de Goiânia de novo. Esta é a cidade em que vou morrer. A nova geração, essas crianças e adolescentes, não me conheciam, porque me distanciei. E, além deles, milhares de pessoas que chegaram à cidade nos últimos 20 anos também não sabiam quem era o Iris. Nesse mandato tive a oportunidade de me tornar conhecido por quase toda a população de Goiânia. É impressionante o carinho das pessoas comigo quando saio na rua. Falo isso para mostrar que hoje sou um homem extemamente realizado e feliz.
Quando o sr. vai deixar de ser candidato a alguma coisa?
Não sou candidato a mais nada. Não era mais a governador e fui. Para se ter uma ideia, uma semana antes, quando a imprensa começou a noticiar que eu seria candidato a governador, chamei o Paulo no meu gabinete e disse que estava vendo materiais sobre isso e que toda vez que isso era veiculado, mexia no subconsciente de uma pessoa, no dele. Mas, se amanhã isso não acontecer, ele ficaria muito frustrado. Então, eu o chamei para dizer que em hipótese alguma seria candidato a governador. Depois de 20 dias chamei-o novamente para avisar que mudou tudo (risos). Se chegar amanhã e o partido não tiver candidato, não posso deixá-lo desamparado. Na época, Adib (Elias, ex-prefeito de Catalão) teve problemas em Catalão, o que inviabilizou sua candidatura. Fico com medo de dizer que hoje, em hipótese alguma, serei candidato, mas daqui a seis meses vir a ser e ficar desmoralizado com vocês.
O sentimento de que Goiás está num abismo e precisa de um salvamento ainda persiste?
Sim. E foi o que me levou a largar a prefeitura e ser candidato em 2010. Eu tinha consciência de que o Estado estava caminhando como está. É do mesmo jeito hoje, ou pior ainda.
Quando o sr. se viu candidato a prefeito de Goiânia, de certa forma o sr. se surpreendeu?
Indiscutivelmente, minha candidatura foi, no fundo, uma aventura. Não nego. O político que se preza também não peca por omissão e indiferença. Com esse sentimento é que muitas vezes assumo uma posição que, no momento, é injustificável. O Estado de Goiás ficou contra mim quando larguei o governo antes do tempo e fui ser ministro da Agricultura. Estava muito bem aqui, com muita coisa para inaugurar. Mas pegunto, se tivesse negado aquilo, Goiás estaria hoje numa posição de respeitabilidade a nível nacional? Querendo os meus adversários ou não, Goiás foi ganhando notoriedade quando tive o atrevimento, a coragem de realizar a primeira concentração pelas Diretas Já. Nos éramos sete governadores eleitos (de oposição ao regime militar), que ninguém sabia o que seria após o evento, se seriamos presos no dia seguinte ou estaríamos cassados. Porque eles abriram as urnas para o povo eleger o governador, mas  não revogaram os poderes de cassação. Quer dizer, foi ousadia. Assumi o ministério e, de repente, aquele povo lá do Sul, que reagiu fortemente, porque se consideravam donos do Ministério da Agricultura, mas de repente minha presença lá passou a ser um instrumento de consolidação de uma eleição para deputado federal. Virei ídolo no Sul. Cheguei um dia lá em Assis, em São Paulo, porque era colheita do trigo, arrebentei praticamente um muralha que proibia praticamente o plantio de trigo e o trigo como safrinha é um instrumento muito valioso para o agricultor. Fui recebido lá em carro aberto para dar início a colheita do trigo. Quer dizer, nós abrimos caminhos. Goiás teria ministros nos tribunais superiores, não teria. Então você vai notando que politico não pode ser omisso ou indiferente. Como cheguei ao ministério da Agricultura e deu certo? Estava numa sexta-feira e o Estado a 200 km/h em tudo e o Sarney me telefona e ele queria ver um mutirão nosso. Levei ele no mutirão no Jardim Liberdade, onde fizemos 700 casas. Ele ficou louco com aquilo. Mas aí ele me telefona numa sexta-feira, no final do dia, perguntando o que iria fazer no sábado. Disse que presidente não perguntava não, que ele me falasse o que queria que fissesse naquele dia. Nos encontramos no dia seguinte e esse homem me procurando convencer a ser ministro da Agricultura. Chegou em um ponto que falei que era honroso, que o ministério na hierarquia era o segundo da república. Mas que o tempo médio de um ministro no cargo era de oitos meses e que quem mandava no ministério era o ministro da Fazenda. Mas aí ele me disse: 'assumo o compromisso que se você aceitar o convite, quem vai definir tudo é você' e no final ele não me deixou dizer não. Eu disse sim e fui pensando que não podíamos perder a oportunidade. Na época deixei de ser Senador, porque na época ia deixar o governo pra ser candidato a Senador. Mas valeu, ele cumpriu a palavra comigo. Então tem jogadas na vida da gente, que é preciso ousadia.

Fonte: Tribuna do Planalto