45 bairros têm 58% dos casos

Levantamento aponta que assassinatos estão concentrados em poucos setores da capital. Pedro Ludovico lidera lista

Vandré Abreu e Paula Falcão 05 de dezembro de 2013 (quinta-feira)

Cresce o número de homicídios em Goiás

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Há três dias, Joana (nome fictício), de 35 anos, dorme com os filhos no chão da sala de casa com medo dos tiroteios que escuta quase todas as noites, no Setor Pedro Ludovico. A escolha pelo desconforto se deu a partir das 22 horas do último domingo. Ela havia acabado de colocar o filho de 5 anos para dormir e, para sua sorte, o garoto ficou menos de cinco minutos na cama e foi para a sala. Foi o prazo para iniciar um tiroteio na Alameda Botafogo. Uma das balas entrou pela janela do quarto da mulher e parou em seu guarda-roupa.

“Meu filho está traumatizado, está morrendo de medo de ficar por aqui e eu tenho de sair para trabalhar”, conta a mãe, que diz estar revoltada pela falta de segurança em seu bairro, o mais violento de Goiânia neste ano. Até o final de novembro, 19 pessoas foram assassinadas no setor que lidera as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgadas ontem.

Junto com o Pedro Ludovico, outros 44 bairros concentram 58% dos 528 homicídios registrados pela SSP em 2013. O número é menor do que o divulgado pelo POPULAR, pois a secretária não inclui mortes em confronto com policiais militares. Com estas, o número total sobe para 556 até novembro. Ao todo, 179 bairros registraram pelo menos um assassinato. Outros 509, nenhum.

É importante ressaltar que estes bairros onde ocorreram homicídios são habitados por 68% da população. Para especialistas ouvidos pela reportagem a densidade demográfica é fator relevante para entender o índice de violência. De fato, os dois bairros com mais mortes (Pedro Ludovico e o Jardim Novo Mundo) são, respectivamente, o terceiro e o segundo bairros mais populosos.

Apesar dos dois bairros mais violentos estarem na Região Leste e Sul, são as regiões Sudoeste, Noroeste e Oeste que lideram, praticamente empatadas, o número de homicídios por região (entre 95 e 97 mortes cada uma). Em fevereiro, a SSP implementou a primeira Área Integrada de Segurança Pública (AISP), na região Noroeste da capital para diminuir a incidência de homicídios, porque de janeiro a novembro de 2012 o local foi cenário de 112 mortes violentas. No mesmo período neste ano foram 16 homicídios a menos. “Nos últimos meses, depois que houve uma concentração da polícia na região Noroeste, houve migração para outras regiões da cidade de Goiânia”, frisa o secretário Joaquim Mesquita.

Hoje, são sete AISPs na cidade, mas cada uma com um enfoque diferente, que varia com a demanda de cada lugar. Mas, isso deve mudar. “Estamos direcionando a atuação para estas outras regiões”, conta Mesquita.

Liderança trágica

A alta concentração de pessoas, mais de 25 mil, e a localização entre bairros nobres são justificativas que, para especialistas, explicam a liderança do Setor Pedro Ludovico na lista dos bairros mais violentos de Goiânia. Agentes da segurança pública ainda relacionam o índice de homicídios do bairro à forte presença de bocas de fumo no setor, mas sociólogo afirma que não é possível condicionar os assassinatos ao tráfico de drogas.

Porta voz da Polícia Militar, tenente-coronel Divino Alves acredita que a alta densidade populacional e os bolsões de desigualdade que formam o bairro fizeram com que a região sempre fosse problemático para a segurança pública. Segundo o militar, o bairro é marcado pela disputa pelo tráfico de drogas e o acerto de contas entre traficantes e usuários. “Não é apenas uma ação policial que vai melhorar esse número. Necessita-se de ações sociais e mudanças na legislação.”

O sociólogo Dione Antônio de Carvalho, doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS-UFG), observa que os índices de segurança em Goiânia, de fato, não podem desconsiderar a desigualdade social e a concentração de renda na cidade. Carvalho considera que todos os rankings de violência por bairros mostram que os números são maiores em bairros periféricos. “O fato de o Pedro Ludovico ser cercado por bairros considerados nobres é simbólico, embora não possamos dizer que só isso cause altos números de assassinatos”, diz. Para o professor, nem mesmo o tráfico de drogas justifica o índice. “A polícia diz que 80% dos crimes são motivados por tráfico, mas a polícia só elucida 20% dos crimes, então não há prova de que isso ocorra.”

O titular da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), Murilo Polati, acredita que o tráfico de drogas é sim uma das causas para o aumento de assassinatos. No caso do Setor Pedro Ludovico, Polati cita as bocas de fumo da Vila Lobó, por exemplo, região próxima ao Estádio Serra Dourada.

Fonte: O Popular