Vídeos para ouvir

  As ruas silenciosas de um fim de semana em Campinas. A garagem no Balneário Meia Ponte onde nasceu o rock psicodélico que rompe fronteiras. A cozinha da mãe de um músico que prepara seu arroz com pequi. Todos esses locais já serviram de locação para o Som de Lugar, série independente publicada no Youtube e produzida pela Saraivada Produções Culturais, coletivo cultural de Goiânia, em parceria com a TV UFG.

A ideia é ótima: registrar em vídeo artistas novatos ou veteranos, prioritariamente goianos, de todos os gêneros musicais, cantando e tocando em lugares inusitados da cidade. No ar desde setembro, o Som de Lugar foi inspirado em um dos projetos brasileiros mais legais de vídeos na internet, o Música de Bolso. Nele, os produtores utilizam ferramentas virtuais gratuitas para disseminar o trabalho de músicos consagrados ou não.

O Música de Bolso já gravou Tetê Espíndola lavando pratos, Mariana Aydar rodando no chapéu mexicano e Filipe Catto na mercearia, entre outros. Fazem “música para ver” e “vídeos para ouvir”, como eles mesmo definem. Por aqui, a ideia foi adaptada por Bruno Fiorese, membro da Saraivada e idealizador do Som de Lugar. “Desde que assisti ao Música de Bolso no Youtube, nasceu a vontade de fazer algo parecido em Goiânia. Levei a ideia ao nosso coletivo e fomos discutindo até formatar o atual modelo”, explica o rapaz. A equipe do projeto é formada por profissionais e estudantes de diferentes áreas da comunicação.

Nesta primeira leva de trabalho, eles já produziram material audiovisual de 15 artistas. Mais três programas devem ser gravados até o fim do ano. Já passaram pelas lentes do Som de Lugar artistas como a banda Boogarins, o duo Carne Doce, a cantora Mila Tulli e André Mols, vocalista da The Not Yet Famous Blues Band. Nesta semana, o convidado foi o cantor e compositor Carlos Brandão, que gravou sua participação nos bastidores do Teatro Goiânia.

Os convidados, apesar de não receberam cachê, estão adorando o projeto. “O pessoal da Saraivada é formado por uma galera nova, que está ocupando a cena cultural de Goiânia. Acho o projeto Som de Lugar um barato. A maneira como eles divulgam os artistas da música local é muito bacana, moderna e eficiente”, avalia Brandão.

Indie

O esquema de gravação é no melhor estilo uma câmera na mão e uma música na cabeça. O Som de Lugar não conta com nenhum tipo de apoio financeiro. A única parceria é com a TV UFG, que cede materiais para a gravação e, em contrapartida, tem o direito de exibi-los nos intervalos de sua programação. “A parceria foi fundamental porque precisávamos de equipamentos de áudio de qualidade e também de boas ilhas de edição”, explica Bruno.

Os vídeos são também publicados todas as terças e quintas-feiras no canal do projeto no Youtube (migre.me/gZbmv) e na página do Facebook da Saraivada (www.facebook.com /saraivada). De lá, se espalham por outras redes sociais, sites, blogs, tumblrs e afins. Na internet, nos dias anteriores à postagem, fotos e textos sobre o artista convidado são publicados pelo coletivo. Cada músico grava dois vídeos de canções e uma pequena entrevista. O inusitado aqui fica por conta da criatividade do coletivo.

A ideia do grupo não é produzir clipes musicais no padrão MTV, mas registrar pequenas apresentações que acontecem em lugares escolhidos pelos próprios convidados. “O diálogo é fundamental. Queremos gravar em locais que tenham significado para os artistas. É uma forma também de mostrar para o público um pouco da história por trás do som de cada um deles”, ressalta Bruno.

A direção de vídeo e a fotografia seguem a pulsação artística das músicas interpretadas. O videografismo de Lucas Mariano dá um toque orgânico ao resultado final.

Fonte: O Popular