Contra o lazer inflacionado

Inspirada na ideia surgida no Rio, página Goiânia $urreal, do Facebook, mobiliza consumidores contra preços considerados abusivos de bares e restaurantes da capital

 

Rodrigo Alves 08 de fevereiro de 2014 (sábado)

 

A imagem principal é uma foto do empresário Alexander de Almeida – que virou “meme” (piada recorrente de redes sociais) como o “Rei do Camarote” –, sorrindo e segurando uma taça de champanhe e tendo o Parque Vaca Brava ao fundo. Também em destaque, aparece a reprodução, em frente e verso, de uma nota de mil cruzeiros, moeda brasileira anterior ao real. Na página de Facebook Goiânia $urreal, batizada como sua similar famosa, a Rio $urreal, o humor tem vez, mas os assuntos que se seguem são sérios. Como a página carioca, sua função é descrita sem delongas: “Esta página divulga preços extorsivos praticados por bares, restaurantes e similares de Goiânia.”

A mensagem é mais um indicativo do poder de mobilização das redes sociais. Neste caso específico, o objetivo é externar a indignação dos frequentadores de bares, restaurantes e lanchonetes, entre outros estabelecimentos similares da capital, com o que consideram um aumento generalizado de preços nesses locais e que refletem um fenômeno econômico geral em Goiânia nos últimos anos: o aumento do custo de vida. “Hoje podemos afirmar que Goiânia tem um patamar alto de preços”, constata o economista e professor da UFG Everton Rosa.

Em um levantamento feito pelo POPULAR, entre consumidores e estabelecimentos, foi possível constatar aumentos de preços de certos produtos e serviços de até 40% dentro do período de um ano. Outras práticas abusivas, como a cobrança de 15% a mais sobre o preço de um prato do cardápio, em uma cantina italiana, porque ele seria dividido entre duas pessoas, também são relatados.

Rapidez

Quem acessa a página Goiânia $urreal e nota suas mais de 1.300 curtidas, número relativamente alto, mal imagina que ela foi criada na terça-feira. Isso significa que uma média diária de 400 goianienses se interessam em acompanhar os assuntos da página. “Curtir” uma página no Facebook significa passar a receber todo o conteúdo postado nela. A página é subproduto de um grupo aberto homônimo, criado em 29 de janeiro. Em 10 dias já são cerca de 3 mil membros, que aumentam em um boca a boca virtual que estimula o crescimento do grupo em progressão geométrica.

No Rio de Janeiro, cidade turística que vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a página local ganhou visibilidade por destacar preços abusivos como o de uma omelete simples que custa incríveis 99 reais. Já são 180 mil curtidas. Outras capitais já têm suas respectivas páginas (algumas mais de uma): Belo Horizonte (42 mil curtidas), Brasília (11,2 mil), São Paulo (10 mil), Salvador (635) e Porto Alegre (606).

A ideia original de causar pressão por preços mais justos já existia na comunidade BoicotaSP, criada há 10 meses, que propõe “listar os lugares que exploram demais e criar um grande guia de boicote”. A comunidade tem 65 mil curtidas.

As páginas já tentam se mobilizar de maneira conjunta e até apresentar uma identidade visual parecida. A de Goiânia em breve pode adotar um padrão distinto. “Mandei mensagem pro pessoal do Rio, pra saber como fazemos pra usar o mesmo logo que ele, mas ainda não me responderam”, disse ao POPULAR a jornalista Elisa França, um das moderadores da Goiânia $urreal.

Elisa conta que a ideia da página goianiense partiu de uma amiga, a também jornalista Bia Tahan. Diante do questionamento se alguém se habilitava a criar a versão $urreal de Goiânia, Elisa se prontificou a colocar a ideia em prática. “Pouco mais de 24 horas depois já tinha mil integrantes.”

Hoje o grupo original tem quatro administradores, incluindo ela. Para não perder o foco, eles resolveram moderar postagens do grupo e fazer uma triagem daquelas que destacam preços abusivos em estabelecimentos citados nominalmente para que sejam republicadas na página. “No grupo, apagamos as mensagens que não têm relação com o tema proposto, ou que não apresentam o preço”, explica Elisa.

Fonte: O Popular