PT-PMDB: união é só discurso

Aliança não acertou os ponteiros quanto à união no primeiro turno. Adversários comemoram desencontro e histórico condena chapas separadas

Sáb, 08 de Fevereiro de 2014 10:35

Murillo Soares - Estagiário do Convênio Tribuna do Planalto/UFG

 

Nos últimos dias, a oposição tem intensificado a agenda de dois pré-candidatos ao governo do Estado: o PT segue com o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, enquanto o PMDB aposta suas fichas no empresário Júnior do Friboi. Apesar de lideranças dizerem que é normal, no momento, cada partido tentar viabilizar o seu candidato, o clima é desunião. Isso porque se, no discurso, petistas e peemedebistas confirmam que os dois partidos estarão juntos já no primeiro turno, as atitudes de suas lideranças mostram que a tendência não é essa.

As ações até o momento têm sido de separação, deixando claro que a oposição ainda não tem um plano para caminhar unida. Desde que foi oficializado como pré-candidato do PMDB ao governo, Júnior do Friboi tem deixado o PT de lado. A ação de Júnior trouxe uma reação por parte dos petistas. O resultado foi o lançamento do prefeito Antônio Gomide como pré-candidato do partido. Nos bastidores, petistas comentam que se o candidato peemedebista for mesmo Friboi, o PT não terá outra saída a não ser lançar um candidato próprio.

 

União

O deputado estadual Mauro Rubem (PT), vê as atuais movimentações como naturais dentro de um processo de seleção de candidatos. “Cada partido apresenta seu nome positivamente. Isso é normal”, afirma. Segundo ele, a aliança começará a se afunilar de vez em março, até lá deve-se fazer um trabalho de ativação dos companheiros e divulgação do pré-candidato.

Mauro não vê qualquer possibilidade de desunião. Para ele, a intenção do partido, contando com a flexibilidade das agremiações da aliança, é apenas construir uma alternativa real para tirar o governo do poder. Céser Donisete (PT), presidente regional do partido, acredita que esse é o objetivo comum da oposição e ela deverá se unir em prol disso. “O mais provável, hoje, é que PT e PMDB saiam unidos”, ressalta.

O discurso dos peemedebistas, porém, é um pouco menos otimista do que o dos petistas. O deputado federal Pedro Chaves (PMDB) admite que os partidos podem até saírem em chapas separadas no primeiro turno (o que, historicamente é negativo – leia abaixo). Para ele, porém, o projeto gira em torno de uma aliança. “A união é o melhor”, afirma.

A opinião é partilhada pelo companheiro de Câmara e agremiação Leandro Vilela (PMDB). O peemedebista também reforça a ideia de largarem juntos e é categórico ao comentar sobre o assunto. “O trabalho é deixar PT e PMDB completamente unidos. O nosso esforço é para isso”, salienta. Segundo ele, a união é o melhor caminho para a vitória. Ele ainda completa, enaltecendo a candidatura de Friboi. “Júnior tem competência e ninguém chega onde ele chegou por acaso”, diz.

Os peemedebistas, no entanto, dizem que não há possibilidade de o partido apoiar Gomide, mesmo que o petista esteja em melhores condições para encarar o pleito estadual. Pedro Chaves deixa claro que sua agremiação não abre mão de ter a cabeça de chapa. “A história e a representatividade do PMDB dentro do Estado faz com que ele indique o candidato”, salienta. Ele diz que essa decisão é “irreversível”.

Leandro não ignora o fato de o nome de Gomide estar crescendo, assim como sua agenda. Segundo ele, o trabalho do prefeito de Anápolis é legítimo, mas a questão de passar a cabeça de chapa para o PT mal começou a ser discutida dentro do PMDB.

 

Ações contrárias

Apesar de pregarem a união, as ações dos partidos, sobretudo as declarações de Júnior do Friboi, provam o contrário. Em sua primeira entrevista de 2014, para a rádio Mil FM, o peemedebista afirmou que ainda não tem opinião formada sobre o apoio à candidatura de Dilma Rousseff (PT) em Goiás, prioridade para os petistas. Além disso, disse que a candidatura de Antônio Gomide é apenas especulação. Ele ainda sugere que, ao postular uma candidatura própria, o petista estaria descumprindo o acordo firmado com a agremiação que possibilitou a coalizão que elegeu o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), em 2012.

Nessa entrevista, o empresário foi ainda mais categórico que os companheiros de partido ouvidos pela Tribuna ao falar sobre o PMDB possivelmente abrir mão da cabeça de chapa e cedê-la ao PT. Conforme disse, o partido é resoluto em relação ao seu nome próprio e, caso o partido do prefeito de Anápolis não tenha flexibilidade quanto a isso, eles sairão em chapas diferentes. “O PMDB vai sozinho, isso é fato, não abre mão, esquece”, salientou na emissora. Friboi ainda disse que Iris Rezende (PMDB) já teria informado o petista sobre isso.

Céser Donisete rebate as declarações de Júnior do Friboi, afirmando que não há discussão quanto ao apoio ao PT, pelo menos nacionalmente. “O PMDB é parte importante da chapa de Dilma. Não há como não apoiá-la em Goás”, ressalta. Além disso, ele é categórico ao dizer que quem fala pelo partido são os presidentes regionais. “Claro que há opiniões divergentes, mas os presidentes votam pela união e assim será”, ressaltou.

Passado condena união apenas no segundo turno

Desde 1998, a oposição coleciona derrotas nas eleições para o governo do Estado. A história mostra que um dos motivos é a desunião. Em todas as quatro eleições que acontecera de lá pra cá, as duas agremiações concorreram separadas, com exceção de 2010 (veja quadro acima). Nesse ano, PT e PMDB estiveram juntos. O que não significou, no entanto, a união de todo o grupo contrário à base aliada de Marconi Perillo, já que o empresário Vanderlan Cardoso também foi candidato com o apoio do ex-governador Alcides Rodrigues.

O mesmo pode acontecer este ano, segundo o cientista político e professor na Universidade Federal de Goiás (UFG), Robson Almeida. De acordo com o docente, quando as forças se dividem, o eleitorado também segue em caminhos separados. “Eles se dividem em dois ou três, levando em consideração que há aqueles eleitores que votam olhando o partido, não o nome”, afirma. Sendo assim, a possibilidade de vitória diminui consideravelmente.

Robson lembra que, separados, seus tempos de TV e a incidência de suas ideias na sociedade acaba sendo menor. “Analisando o cenário de hoje, olhando para Júnior do Friboi (PMDB) e Antônio Gomide (PT), que são os possíveis candidatos dos partidos, eles devem se fazer conhecidos para empolgar o eleitorado, antes de qualquer coisa”, frisa.

Para o professor, só com um bom marketing eles conseguiriam ocupar o espaço vago na política que clama por um nome inédito. Ele ainda lembra que, enquanto eles teriam uma exposição menor, o governador Marconi Perillo tem a máquina do Estado a seu favor, além de um bom tempo de TV e o fato de já ser amplamente conhecido.

Segundo Turno
Robson não se mostra otimista com a possibilidade de união da oposição apenas no segundo turno. Para ele, a transferência de votos pode não acontecer como planejado e isso não trazer o resultado esperado. “Pode-se contar apenas com os votos daqueles eleitores que não votam em hipótese alguma no Marconi”, ressalta. Quanto aos indecisos, há uma possibilidade de o tucano ganhar seus votos, de acordo com o professor, o que complicaria a missão do grupo opositor.

O presidente regional do PT, Céser Donisete, que também acredita na união e lembra que, em 1998, o ex-governador Iris Rezende (PMDB) era o favorito. No entanto, quando a oposição da época se uniu ainda no primeiro turno, conseguiram derrotá-lo.

Robson, no entanto, deixa claro que a situação de 2014 é outra, já que, hoje, há duas oposições: uma com a aliança PT/PMDB e outra liderada pelo PSB. E ele acredita que uma aliança com o pré-candidato da Terceira Via, Vanderlan Cardoso (PSB) é muito improvável, por questões de cúpula nacional. “O PSB não se juntaria ao PT, já que Eduardo Campos e Marina Silva, que concorrem à Presidência da República, não aceitariam uma aliança com o partido de Dilma”, completa.

Fonte: Tribuna do Planalto