Eleições devem confirmar influência das igrejas

Disputas proporcionais evidenciam força de segmentos religiosos nas urnas

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014 | Por: Editoria

Flávia Guerra

Arepresentação das igrejas na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados deve continuar significativa após as eleições de outubro. Em Goiás, lideranças religiosas já trabalham, ainda que sorrateiramente, para manter os quadros já eleitos ou alavancar novos representantes em ambas as casas legislativas. Contando atualmente com pelo menos seis deputados declaradamente ligados a denominações religiosas, a Assembleia Legislativa de Goiás deve continuar abrigando políticos com trajetória erguida em templos religiosos e expressiva votação no segmento.

Em nível federal, o número de parlamentares ligados a instituições religiosas também deve crescer. “Com o crescimento da população evangélica no Brasil, fato já constatado em algumas pesquisas, é natural que o número de representantes da doutrina avance também nas esferas de poder”, analisa o professor Pedro Mundim, doutor em ciência política e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Segundo ele, o crescente número de votos pode ser conseqüência de um desejo arraigado de frear políticas que firam os preceitos defendidos por essa parcela da população.

Apesar da laicidade do Estado brasileiro, é cada vez mais notória a influência dos segmentos religiosos nas esferas políticas. “No entanto, esse avanço é mais comum e até mais fácil entre os cargos proporcionais porque o candidato pode segmentar seu discurso. O contrário ocorre numa eleição majoritária, quando o candidato precisa adotar um discurso que atinja um número maior de eleitores”, opina Mundim. Segundo o professor, o voto religioso está intimamente ligado à ideologia. “A pessoa enxerga no candidato os valores que ela mesma defende”, explica.

A confiança do voto em um candidato da igreja é algo que acontece naturalmente. Dessa opinião compartilham o já deputado estadual Luiz Carlos do Carmo (PMDB), membro da Igreja Assembleia de Deus, e o pré-candidato a deputado federal, vereador Tayrone di Martino (PT), católico praticamente, criado entre lideranças católicas de Goiânia. Para Tayrone, a igreja, enquanto instituição, não defende um nome específico, mas apenas prega um perfil de eleito que poderia ser adotado pelos fieis eleitores. “Estou na igreja desde criança, é minha comunidade. É natural que apoiem um nome que conhecem e confiam”, prega o vereador, eleito em sua primeira eleição com quase 6 mil votos.

Luiz Carlos do Carmo, que ainda estuda o projeto de reeleição, explica que, no caso da Assembleia de Deus, os membros são livres para votarem, embora a doutrina e as características defendidas “na palavra” acabem influenciando na escolha. A denominação, que tem um segundo representante no legislativo goiano (Daniel Messac/PSDB), deve apoiar novamente a reeleição do delegado e pastor João Campos à Câmara. Com discurso rígido e estreitamente ligado ao que é ensinado na igreja, Campos possui forte atuação no Congresso, fazendo parte da Frente Parlamentar Evangélica, que atualmente conta com três senadores e 70 deputados federais.

Para o professor Pedro Mundim, o eleitor católico apresenta um comportamento mais flexível, ao passo que o evangélico é fortemente influenciado pelos valores ligados à denominação a qual freqüentam. “Isso é só uma observação de estudioso. Não tenho base científica que comprove tal conduta”, pondera. Essa postura poderia favorecer a manutenção de representantes por sucessivos mandatos.  “O voto evangélico é pouco volátil. O candidato sabe que o eleitor vai ser fiel, por isso, faz campanha voltada para aquele nicho”, emenda. Esse tipo de comportamento pode ter garantido a eleição de parlamentares goianos.

O deputado estadual Fábio Sousa (PSDB), por exemplo, elegeu-se vereador e deputado estadual com uma enxurrada de votos oriundos das centenas de congregações da Igreja Fonte da Vida, presidida pelo seu pai, apóstolo César Augusto. Fábio, que ainda não se decidiu se tenta reeleição ou o desafio de uma eleição à Câmara federal, conseguiu ser o vereador mais votado da capital em 2004, com apenas 22 anos de idade. Trajetória parecida trilhou o deputado estadual Simeyzon Silveira (PSC), filho do líder da igreja Luz Para os Povos, Sinomar Fernandes, e dono de votação expressiva logo nos primeiros desafios políticos.

Fonte: O Hoje