Crisotila permanece menos tempo no organismo

Enviado em 16/02/2014 às 19h32, última atualização: 16/02/2014 às 19h35.

Thamyris Fernandes

 

Embora médicos da Saúde do Trabalho defendam que não há formas seguras de trabalhar com o amianto, estudiosos do minério alegam que essa afirmativa abre espaço para controvérsias. De acordo com o mestre em Engenharia Mineral e coordenador de Tratamento de Minérios da Universidade Federal de Goiás (UFG) de Catalão, André Carlos Silva, o fato de o Brasil só permitir a exploração do asbesto crisotila, ou amianto azul, já favorece a saúde dos trabalhadores.

Segundo o especialista, pesquisa realizada sobre os prejuízos do amianto no corpo humano mostrou que o crisotila tem a capacidade de permanecer, no máximo, três dias no organismo. Por outro lado, os demais tipos de asbestos não são eliminados em menos de três meses.

André Carlos explica que a principal forma de contaminação pelo amianto é a inalação de suas fibras. Dessa forma, se a pessoa estiver suscetível ao minério todos os dias e sua exposição à poeira da extração for prolongada, a quantidade de fibras no organismo é renovada e fica acumulada.

"As fibras do amianto se alojam, especialmente, nos alvéolos e causa lesões às paredes do órgão. Quanto mais prolongada for a exposição do indivíduo à poeira do asbesto, mais fibras vão entrar em seu organismo. Dessa forma, não dá tempo para o corpo eliminar os resíduos e o pulmão continua sendo machucado, sem tempo para cicatrização."

Conforme o mestre em Engenharia Mineral, se a extração do amianto for mecanizada e suas fibras devidamente enclausuradas, os riscos são neutralizados. "Para que a exploração do amianto seja feita, é preciso tomar inúmeros cuidados para evitar que suas fibras entrem na corrente de ar ou contaminem a água. Fatos como esses poderiam prejudicar a população inteira de uma região mineradora."

Conforme André Carlos, a forma como os asbestos são utilizados no Brasil também reduz as possibilidades de complicações. Explica que as telhas de amianto e as caixas d'água, por exemplo, recebem inúmeros outros componentes em sua composição, capazes de ajudar a manter o minério compactado.

"O risco está na falta de informação. Se um pedreiro cortar o material da caixa d'água ou perfurar a telha à seco e sem material de proteção, a longo prazo, os problemas podem aparecer. Mas a pessoa que consome a água que está armazenada em um recipiente que tem o amianto na composição não está correndo qualquer risco", comentou.

Na Europa, as pessoas exploravam as próprias fibras do amianto, especialmente em construções. Segundo André Carlos, antes da proibição, os europeus faziam o preenchimento de paredes com o minério. "Era um risco incalculável para quem estava trabalhando nas obras ou próximas às obras e demolições. A exposição ao amianto, nesses casos, era direta", ressaltou.

Fonte: Diário da Manhã