MIT lista professor da UFG entre os dez brasileiros mais inovadores

Pesquisador desenvolveu teste de baixíssimo custo para análises clínicas.Entidade dos EUA pré-selecionou projeto para disputa internacional.

 

Vitor Santana Do G1 GO

Um professor de química da Universidade Federal de Goiás (UFG) foi classificado como um dos dez brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, graças ao desenvolvimento de uma tecnologia de baixíssimo custo para análises clínicas de amostras biológicas. O paranaense Wendell Coltro, 34 anos, é doutor em Química Analítica pela Universidade de São Paulo (USP) e leciona na UFG há cinco anos. Ele desenvolveu o projeto com alguns de seus alunos há cerca de um ano e meio e se sente orgulhoso de estar na lista. “É algo indescritível. Estou bastante honrado e orgulhoso do trabalho que desenvolvemos”, afirma o professor.

Coltro diz que não sabe quem indicou sua pesquisa ao MIT. Após esse primeiro contato anônimo, o instituto procurou o pesquisador e pediu para que ele enviasse o projeto no qual estava trabalhando para que fosse analisado e julgado. “Se eu encontrasse quem fez a indicação, eu agradeceria e diria que fiquei muito honrado por ser lembrado pela pesquisa que desenvolvemos”, disse.
O projeto do professor visa diminuir drasticamente o custo de análises clínicas de diabetes, trigliceres, colesterol e ácido úrico, por exemplo. No projeto, utiliza-se uma folha de papel comum, como um guardanapo, por exemplo, coberto com parafina e um carimbo metálico, pouco maior que uma moeda de R$ 1, com o os caminhos pelos quais o material analisado passará.

De acordo com Coltro, o a peça metálica custou US$ 50  e com esse único carimbo já foram feitos mais de 10 mil "chips de papel". O nome é uma analogia aos chips de computadores, que também possuem diversos caminhos por onde passam as correntes elétricas com informações. Somando o custo dos materiais e dividindo pela quantidade de testes que é possível fazer, o pesquisador estima que cada ensaio clínico custe R$ 0,01.

Testes clínico
Para realizar os testes, basta aquecer a base do carimbo metálico e pressionar contra o papel. Com o calor, a parafina derreterá, formando as trilhas. Nas extremidades do papel, são colocados diferentes tipos de reagentes, cada um para um tipo diferente de diagnóstico. “Basta colocar uma gota de sangue ou urina no centro do papel que ela irá percorrer as trilhas deixadas pelo carimbo e chegará até os reservatórios com os reagentes”, explicou o pesquisador. O resultado é instantâneo, o que é outra vantagem sobre os atuais exames.

A partir do momento que o material a ser analisado entrar em contato com esses reagentes, haverá a mudança de cor das substâncias. "A partir da tonalidade dessas cores, é possível fazer o diagnóstico dos elementos analisados . Assim, não é necessário mais coletar tubos com 10 mililitros de sangue para fazer os testes, pois com uma gota de sangue é possível fazer até oito ensaios", disse.

Tamanha simplicidade pode causar desconfiança quanto à precisão dos resultados, mas Coltro garante que o método é confiável. Em ensaios feitos pela equipe, a precisão nos resultados foi superior a 90% e alguns dos testes, mais de 95% se comparados com métodos atuais de diagnósticos.

O objetivo é criar um sistema portátil de análise de sangue, urina, soro e plasma de maneira acessível a toda população e, principalmente aos de baixa renda e que moram em lugares afastados, onde não é tão fácil realizar os exames devido à distância dos laboratórios que fazem as análises. “O objetivo é que o projeto chegue até o Ministério da Saúde e que ele seja distribuído para essas regiões distantes, que sofrem com condições precárias de saúde”, informou o pesquisador. Com isso, não será mais necessário a utilização de máquinas que custam milhares de dólares para realizar a análise de exames que são mais rotineiros à população.

Atualmente, alguns laboratórios já procuraram Coltro para sondagens iniciais sobre o projeto, mas ainda não há nenhuma negociação para levar os "chips de papel" ao mercado em um curto espaço de tempo. “Eu entendo que a ideia ainda é muito inovadora e que as empresas ainda são um pouco conservadoras diante de projetos como esse. Mas a meta é que esses ensaios possam atingir a toda população e ajudar a melhorar a saúde”, afirmou.

Próximas etapas
O MIT divulga a lista dos mais inovadores em diversos países como uma forma de pré-selecionar candidatos para disputar o prêmio internacional de inovadores com menos de 35 anos. No próximo dia 13, os dez destaques brasileiros apresentarão seus projetos em uma cerimônia no Rio de Janeiro, onde serão escolhidas as duas melhores pesquisas para que disputem a etapa internacional.

Por ser uma inovação na área da saúde, que representará uma melhoria direta na qualidade de vida da sociedade, Coltro está confiante que o seu projeto causará um grande impacto e uma boa impressão nos julgadores. E garante que o nível dos pesquisadores brasileiros está alto. "Independente de quais projetos forem selecionados, o Brasil estará bem representado na disputa internacional”, garantiu o professor.

Fonte: Portal G1