Manifestação contra prisões

Grupo fez passeata entre Praça Universitária e TJ-GO contra detenção de manifestantes presos na sexta

Janda Nayara

28 de maio de 2014 (quarta-feira)

 

Jovem defendeu “atos radicais” como tentativa de se fazer ouvir

 

Viaturas da Polícia Militar acompanham protesto contra a prisão dos estudantes

Estudantes, professores, representantes de partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos se reuniram na tarde de ontem na Praça Universitária para manifestar contra a prisão dos estudantes Heitor Vilela, de 20 anos, Ian Caetano, de 20, e João Marcos Aguiar, de 18. No protesto, faixas e palavras de ordem repudiavam as prisões, que segundo eles, são políticas e tentam criminalizar os movimentos sociais. Segundo os manifestantes, o movimento reuniu quase mil pessoas, já para a Polícia Militar (PM), foi pouco mais de 300.

Os três estudantes foram detidos, dois deles em casa e outro em um ponto de ônibus, na manhã de sexta-feira, dia 23, por agentes da Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) na operação batizada de 2,80, uma alusão ao preço da passagem de ônibus. Desde sexta-feira os jovens estão na Casa de Prisão Provisória (CPP) do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. O estudante de Jornalismo da UFG Tiago Madureira Araújo, de 33, também teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Oscar de Oliveira Sá Neto, a 7ª Vara Criminal da comarca de Goiânia, mas ainda está foragido.

Para o professor do curso de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), Alexandre Aguiar dos Santos, não existem fundamentos técnicos legais para a prisão dos estudantes. “Não existe risco de continuação dos danos ao patrimônio, como alegaram, pois não existem provas de que eles são os responsáveis. Eles estão tentando calar a juventude diante da arbitrariedade e isso é ilegal”.

O presidente da União Estadual dos Estudantes de Goiás (UEE), Lucas Marques, compartilha da mesma opinião e diz que o público está disposto a continuar os protestos caso os estudantes não sejam soltos. “São prisões sem justificativa, dignas de ditadura”.

REUNIÃO

Os manifestantes seguiram de forma pacífica pela Rua 10, passando pela Praça Cívica em direção ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), onde os advogados e outros representantes se reuniriam com o presidente do tribunal. “Fomos entregar um manifesto com mais de 2 mil assinaturas contra as prisões. Foi uma reunião proveitosa e ele se comprometeu a levar o documento até a desembargadora responsável por julgar o pedido de habeas corpus”, informou o advogado Bruno Pena, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Segundo o advogado, ao tentar conversar com a desembargadora Avelirdes Almeida Pinheiro de Lemos, os advogados foram acompanhados por pelo menos três policiais militares do tribunal. “Achei isso um absurdo, pois é uma atitude que faz parte do nosso dia a dia e é garantida por lei. Foi um constrangimento e no final, ela não estava lá”.

Para o porta-voz da PM, Coronel Divino Alves, a atitude foi adequada. “Esta é a função deles e se eles entenderam a necessidade, não vejo problemas.

DESESPERO

A mãe de Heitor, a dona de casa Neuzeli de Aquino Ferreira, esteve presente no protesto e falou que não se conforma com a prisão do filho. “Meu filho está sendo tratado como bandido, mas não é. Tenho orgulho dele, porque ele tem coragem de lutar pelo direito de todos”. Segundo Neuzeli, em conversa com o filho, ele demonstrou a preocupação com o rumo das manifestações. “Ele não incitava ninguém a queimar ônibus, inclusive isso ocorreu em algumas vezes que ele estava em casa”.

Jovens são suspeitos de incitação ao crime e formação de quadrilha

28 de maio de 2014 (quarta-feira)

A Operação 2,80, deflagrada na última sexta-feira, prendeu os três estudantes sob suspeita de dano qualificado, formação de quadrilha e incitação ao crime nas manifestações pela melhoria das condições do transporte coletivo da região metropolitana.

No dia da operação, o titular da Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Alexandre Lourenço, disse que as investigações eram amplas e complexas e que as ações da semana passada eram apenas as primeiras de uma série que estaria por vir.

O foco da operação são os membros do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), em que, segundo a Polícia Civil, atuam os quatro estudantes. No entanto, amigos de todos eles, familiares e membros do grupo afirmam que eles não participam do MEPR, sendo membros apenas da Frente de Luta GO. Embora os grupos tenham integrantes em comum, a maioria dos participantes do MEPR deixou de frequentar as reuniões da Frente em outubro.

Fonte: O Popular