Noite do gênio

Após cinco anos de ausência dos palcos goianos, Nelson Freire volta à cidade para concerto amanhã no Teatro Goiânia

20 de julho de 2014

 

Descrito dentro e fora do Brasil como gênio, o pianista Nelson Freire, após cinco anos, volta a Goiânia para uma noite que promete ser memorável. O concerto, amanhã, às 20h30, no Teatro Goiânia, faz parte de um projeto da Universidade Federal de Goiás (UFG), coordenado pelas professoras Gyovana Carneiro e Ana Flávia Frazão. No programa, peças de Beethoven (1770-1827), Debussy (1862-1918), Rachmaninov (1873-1943) e Schumann (1810-1856).

Radicado em Paris, Nelson desembarca no Brasil após uma vitoriosa turnê europeia. Em maio, tocou em Bruxelas, Londres, Moscou e Paris. Acompanhado de orquestra, interpretou o Segundo Concerto de Chopin sob a regência do maestro francês Lionel Bringuier em Lisboa. Em São Petersburgo e Moscou, tocou o Quarto Concerto de Rachmaninov sob a regência do maestro russo Valery Gergiev.

Um dos momentos de destaque da apresentação do pianista de 69 anos em Goiânia deve ser a interpretação da Sonata Opus 111, de Beethoven, desejo antigo do artista, que a colocou em seu repertório. O músico faz parte de um círculo diminuto, em que não mais de duas dezenas de nomes são apontados, em todo o mundo, como prodígios da técnica associada à expressividade.

Esta será a quarta vez que Nelson Freire vem a Goiás. Em sua última entrevista ao POPULAR, ele explicou sua relação com o Estado. “A primeira vez que estive em Goiás foi quando visitei minha professora Nize Obino, em Brasília, em 1966, e ela tinha uma aluna, Maristela Cunha, em Goiânia. Fomos visitá-la, de fusquinha, nos perdemos na estrada e não tinha ninguém, uma estrada árida”, relembrou.

CALDAS NOVAS

Chegando em Goiânia, Nelson foi parar direto na televisão. “Me levaram para a televisão e eu toquei, ao vivoRapsodia de (Johannes) Brahms. A segunda vez, em 1975, Goiânia foi incluída numa turnê que fiz chamada Sulamérica. Conheci a Belkiss (Spenzieri), uma pessoa muito importante, e sou muito amigo do professor Luiz Medalha. Lembro também de Caldas Novas, daquelas águas quentes. Quero voltar para poder visitar a cidade e outros lugares incríveis.” A terceira vez do pianista aqui foi para um concerto, com ingressos esgotados, no Teatro Goiânia em 2008, também promovido pela UFG.

Gosto de estar no Brasil, gosto muito de tocar aqui e não deixa de ser um reconhecimento ao meu trabalho quando o público faz questão de ver minha apresentação. É um amor correspondido”, definiu o pianista, que tem fama de tímido. A crítica especializada elogia a combinação equilibrada de espontaneidade, mistério, conhecimento, análise e honestidade da música de Nelson Freire. Até outubro, o artista tem apresentações agendadas na França, no México, Peru, na Colômbia e no Japão.



Um “leão” do teclado

20 de julho de 2014 (domingo)

Nascido na pequena cidade de Boa Esperança, em Minas Gerais, em 1944, o pianista tinha 3 anos quando começou a tocar, de memória, obras inteiras que ouvia sua irmã mais velha ensaiar ao piano. Percebendo o talento natural do filho mais novo de cinco irmãos, os pais se mudaram para o Rio de Janeiro, onde Freire começou a estudar piano.

Aos 4 anos, deu seu primeiro concerto, interpretando uma obra de Mozart. Aos 12, venceu o Concurso Internacional de Piano, no Rio de Janeiro, ao tocar o Concerto do Imperador, de Beethoven. Em 1959, Freire conseguiu uma bolsa do governo brasileiro e foi estudar em Viena, onde conheceu a pianista argentina Martha Argerich, sua acompanhante em dezenas de viagens musicais.

Seu grande début internacional foi aos 23 anos, em uma apresentação em Londres considerada pela crítica como sensacional. O crítico do jornal The Times o chamou de “o jovem leão do teclado”. Um ano mais tarde, ele estreou em Nova York com a Orquestra Filarmônica, concerto que lhe valeu o comentário da revista Time: “um dos maiores pianistas dessa ou de qualquer outra geração”.

Parte da trajetória do músico foi registrada em 2003 no documentário Nelson Freire, dirigido por João Moreira Salles. Um dos pontos altos do filme é a leitura das cartas que Nelson Freire recebeu de seu pai e de sua professora, ainda no começo da carreira.

Ao POPULAR, ele contou como foi ser um garoto-prodígio. “Tive pais maravilhosos que não deixaram que o fato de ser um menino-prodígio não tivesse uma infância igual a de qualquer outro garoto. Também tive professores que também sempre foram corretos no sentido de não deixar isso virar uma coisa problemática.”

TIMIDEZ

A reputação de maior pianista vivo do Brasil é tão propagada quanto a sua fama de tímido, calado e sabidamente avesso a entrevistas. “Sou uma mistura de tímido, arredio e introspectivo. Dependendo da situação, pode ser uma coisa ou outra”, admitiu.

Nelson não gosta muito de falar sobre o que toca. O comportamento o levou a dizer não a um pedido de entrevista do New York Times. Freire prefere sentar-se ao piano. É ali que se sente à vontade. “Minha relação com a música é de amor. É onde eu sou mais eu. Não há nada que não possa ser dito no palco”, costuma explicar.



Programa do concerto traz compositores essenciais

20 de julho de 2014 (domingo)

O pianista Nelson Freire interpretará em Goiânia um programa com nove peças relativamente curtas, escritas por quatro compositores essenciais: Ludwig van Beethoven (1770-1827), Claude Debussy (1862-1918), Serguei Rachmaninov (1873-1943) e Robert Schumann (1810-1856).

A primeira das duas peças de Beethoven será Andante Favori em Fá Maior (1803), de início escrito para integrar uma sonata e depois transformado em peça autônoma. Nelson Freire o gravou pela primeira vez em 1957, quando tinha apenas 13 anos.

Vem a seguir a Sonata op. 111, em dois movimentos, que foi a última das 32 que Beethoven compôs. Será a mais longa do programa, com duração de quase meia hora.

Após o intervalo, será a vez de Debussy com Les Collines d’Anacapri, Soirée dans Grénade ePoissons d’Or. De Rachmaninov, o artista interpreta dois Prelúdios op. 32, os de número 10 e 12. São duas peças, uma lenta e outra mais rápida, de uma sequência de 13 em que o pianista e compositor russo homenageia Chopin. Por fim, Nelson Freire encerra o concerto com os Estudos Sinfônicos de Schumann.

20 de julho de 2014 (domingo)

Concerto: Nelson Freire

Data: Amanhã, às 20h30

Local: Teatro Goiânia. Av. Tocantins, esquina com Rua 23, Centro

Ingressos: R$ 100 (antecipados)

Posto de venda: Tribo Restaurante. Rua 36, nº 366, Setor Marista

Mais informações: 3091-3210



Fonte: O Popular

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