Poucas mães com muitos filhos

Data: 15 de junho de 2015

Veículo: O Popular

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Cada vez mais brasileiras optam por terem menos descendentes. Mas há exceções e essas grandes matriarcas se dizem mais fortes por causa da prole.

 

A jornalista e psicóloga Júlia Rinald, de 49 anos, faz parte de um grupo de mulheres cada vez mais raro de se ver em Goiás: o da grande matriarca. Ela está na contramão de uma tendência em Goiás e no Brasil, de queda na taxa de fecundidade. Em 2013, a mulher goiana registrou uma média de 1,66 filhos durante o período fértil, ficando até mesmo abaixo da taxa nacional.

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Goiás, Daniel Ribeiro de Oliveira diz que a taxa de fecundidade no Brasil apresenta uma queda constante há 45 anos e, atualmente, está abaixo da taxa de reposição da população, e a tendência é cair ainda mais. “No levantamento de 2013, Goiás apresentou média abaixo do índice nacional. Apesar de não termos os dados consolidados de 2014 e 2015, o IBGE faz trimestralmente em todos os cartórios o levantamento dos nascimentos e óbitos, para calcular a taxa de fecundidade. Pelo que se está notando, a tendência de queda vai persistir”, avalia.

Para Oliveira, a queda da taxa de fecundidade está ligada à mudança do perfil das brasileiras, principalmente nos grandes centros urbanos. A redução é tida como positiva para o Brasil, momentaneamente, pois permitiu a melhora de indicadores socioeconômicos. “Com um número menor de filhos, a família pode dar melhor assistência de saúde e cuidado, impactando redução da mortalidade infantil, e mais acesso à educação”, avalia.

Mas o pesquisador destaca ser importante ter mães que fogem à regra. “As mães com maior número de filhos contribuem para manter a média próximo à taxa de reposição. Estão compensando aquelas que não tiveram nenhum filho, o que está aumentando também. Em 2002, no grupo de mulheres de 25 a 29 anos, em 2002, 32,2% não tinham nenhum filho. Em 2012, esse indicador atingiu 40,5%”, explica.

Para Oliveira, a quantidade de filhos está relacionada à renda e escolaridade da mãe. “Geralmente, as maiores taxas de fecundidade estão entre as mulheres de baixa renda, na periferia e zona rural”, diz. Na avaliação do pesquisador, cados como o de Júlia, uma mulher urbana com três cursos superiores, são exceções.

 

Outra realidade

Doutor em saúde coletiva e professor do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), o médico Otaliba Libânio de Morais Neto lembra que nos anos 70 e 80 havia uma teoria que relacionava a alta taxa de fecundidade à pobreza do país. “Essa teoria não se aplica hoje à realidade brasileira”, argumenta o pesquisador.

"As mães com maior número de filhos contribuem para manter a média próxima à taxa de reposição. Compensam aquelas que não tiveram nenhum filho, o que está aumentando também” Daniel Ribeiro de Oliveira, pesquisador do IBGE

 

Cultura da baixa fecundidade

Para o médico e professor Otaliba Libânio de Morais Neto, a maioria das mulheres não quer ter muitos filhos porque a sociedade introjetou a questão da baixa fecundidade na cultura.

Ele concorda que a situação confortável do Brasil é transitória. “Hoje, vivemos uma situação chamada bônus demográfico, com alta proporção de pessoas em idade produtiva, baixa proporção de crianças e de pessoas em idade inativa. Isso é ótimo. Mas ao mesmo tempo está aumentando o contingente de idosos”, alerta. Segundo o professor do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da UFG, a tendência é que a população envelheça a médio prazo.

“O número de idosos passará a ser maior, gerando uma sobrecarga econômica. As pessoas em idade produtiva precisam trabalhar mais para manter aquelas em idade improdutiva. Essa é a realidade atual dos países europeus”, destaca ele.