“Cria Casulo”, uma economia criativa em formas, bordados e estampas

Data: 14 de junho de 2015

Veículo: Jornal Opção 

Link direto para a notícia: http://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/cria-casulo-uma-economia-criativa-em-formas-bordados-e-estampas-37967/

Com lançamento de coleções, exposição fotográfica e instalções, a Casulo Moda Coletiva realiza o projeto que valoria a cultura local, além da importante produção autoral na busca por peças únicas

 

Yago Rodrigues Alvim

O trabalho criativo autoral goiano das coleções “Selo Postal”, “Eldo­rado” e “Caleidoscópio de Emoções” parte dum projeto, cujo processo, além de valorizar a pesquisa e o labor coletivo de moda, valoriza a cultura local. O nome ganho foi “Cria Casulo”, dado pelas estilistas Milleide Lopes, Su Martins e Rochelle Silva. Junto a Maiene Horbylon, elas o elaboraram, com o financiamento pelo Fundo de Cultura do Estado de Goiás, e lhe deram procedência. Agora, “Cria Casulo” dá mais um passo e estampa sua coleção em fotografias e instalações na Vila Cultural Cora Coralina.

O projeto começou no segundo semestre de 2014 e abarcou acadêmicos das faculdades de moda das Universidades Federal e Estadu­al de Goiás (UFG e UEG) e Univer­so. Eles se juntaram às estilistas, que representam marcas já de destaque na capital goiana; a estilista Milleide é da Novelo, Su Martins da Salaman­dra de Fogo e Rochelle da Roch Design. Estas estão entre algumas das marcas que compõem a Casulo Moda Coletiva.

Assinando a produção do projeto, Maie­ne (Casulo) explica que as marcas são bem distintas uma da outra e que, a partir dum material iconográfico produzido pelo Ser­viço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque­nas Empresas (Sebrae), em 2011, as representantes teceram um fio condutor, frutificando uma coleção de sessenta peças – sendo vinte de cada marca. O labor envolveu ainda stylish, modelistas, costureiras, maquiadores e mais dois artistas –– Santhiago Selon desenvolveu estampas junto a Novelo; já a arquiteta Laila Loddi, da Dobra Ateliê e também professora da UEG, propôs a instalação de cardboard (papelão).

Além das coleções, a exposição traz uma instalação da arquiteta Laila Loddi e os registros de Raphaela Boghi do processo de criação do “Cria Casulo”, que teve início ainda em 2014 |

O Casulo Moda Coletiva foi vencedor na categoria Moda do último Prêmio Nacional Brasil Criativo, realizado pelo Ministério da Cultura. A estilista Milleide bem pontua que ganhar o prêmio é muito importante para a moda goiana, pois é um elemento de reconhecimento. Há alguns anos no mercado, o Coletivo tem refinado seu trabalho, não abandonando seus princípios iniciais. Nesse sentido, ela ressalta que a cidade tem muitas coisas boas e que a valorização do local, apropriação da própria cultura é algo que deve ser incentivado, bem cuidado.

–– A moda ainda é encarada como algo superficial e não é. Nós a levamos enquanto profissão, estilo de vida; e reconhecimento é primordial. O prêmio do Ministério da Cul­tu­ra é para todos que trabalham conosco na loja, que colocam seus produtos lá e para todos os profissionais que acreditam no Casulo, nesta economia criativa e que Goiânia pode ser sim um polo de cultura e criatividade, diz Milleide.

Quanto à superficialidade que envolve a moda, a estilista explica que é uma questão cultural, ainda que não tão enraizada mais. Goiânia é um polo de confecção e produção. “As pessoas costuram em alta escala, recebem encomendas que seguem para outros estados e lojas e que, depois, são distribuídas pelo Brasil. Por exemplo, tem uma regata na novela das oito e todos a querem; portanto, eles a fazem e são todas iguais.”

O Casulo acredita que cada um tem seu estilo, sua personalidade, gosto, cheiro e percebe o mundo de maneira diferente. A massificação que a indústria vive na capital é algo que foge aos princípios do Coletivo. “Quere­mos que as pessoas se identifiquem com detalhes que transcrevem, descrevem seu dia a dia, seu gosto”, diz.

–– Temos muitas marcas que produzem pequenininho. Você não encontra ninguém com a mesma peça, como as que vêm de lojas de departamento, fast fashion. E existe a validade da peça. Quando são produzidas em larga escala, as pessoas não procuram qualidade e sim preço; isso é muito ruim, pois elas veem a moda como algo descartável. Você preenche a imagem e, depois, a joga fora. Nós queremos que as peças durem, que sejam de qualidades, boa costura, bons tecidos. Isso não é copia, larga escala. Isso sim é design, é moda.

O lançamento do “Cria Casulo” é no dia 15, às 20h, na Vila Cora Coralina. As peças do designer Rodolfo Brasil se junta à instalação de Loddi, a coleção criada pelo Casulo e ain­da as fotografias de todo processo, registradas pela fotógrafa Raphaela Boghi. A entrada é franca e a exposição permanece do dia 16 a 22 de junho. Fica o convite para este novo olhar para moda e, mais especificamente, para moda goiana. Um convite de valorização.