Câncer de mama metastático é malvisto pela sociedade

Data: 29 de junho de 2015

Fonte: Diário da Manhã

Link da matéria: http://www.dm.com.br/cidades/2015/06/cancer-de-mama-metastatico-e-malvisto-pela-sociedade.html

 

Pesquisa revela que 70% das pessoas acham que nesse estágio a doença é terminal. Contudo diversas experiências de vida mostram que é possível enfrentar as turbulências e viver

 

Divania Rodrigues,Da editoria de Cidades

O que é câncer de mama metastático? Talvez você faça parte da estatística dos brasileiros que entendem o que é essa doença, mas saiba que quatro entre dez mulheres e seis entre dez homens disseram nunca ter ouvido falar sobre o assunto. Além disso, 46% não sabiam a diferença entre o câncer de mama inicial e o avançado, é o que revelou pesquisa inédita divulgada esse mês.

Realizada pelo Instituto Datafolha, a pesquisa demonstrou que apesar do desconhecimento sobre o estágio metastático da doença a população a vê sob um prisma negativo. Mais de dois terços dos entrevistados, 70%, associaram o câncer de mama metastático a má qualidade de vida dos pacientes, além de acreditarem que é uma doença que o sentencia a pouco de vida.

Por muito tempo o diagnóstico de câncer foi encarado como uma sentença de morte. Ainda hoje existem tipos da doença em que o tratamento é difícil e o paciente acaba não resistindo. A falta de acesso a tratamento adequado ou procurado tardiamente também pode ser o diferencial entre vida e morte. Além disso, depois de vencer o câncer em sua fase primário ainda há risco, a metástase – fase em que a doença se espalha para outras partes do corpo.

O estigma de que o câncer é uma sentença morte ou que, quando a metástase é descoberta, resta pouco tempo de vida ao paciente ficou gravado no imaginário social e aterroriza os recém-diagnosticados. Cerca de 60% dos pesquisados acreditam que o câncer é a doença que mais mata no Brasil, depois pensam nas enfermidades cardíacas (17%) e HIV (8%). Porém, acordo com dados do Ministério da Saúde, as doenças do coração são as mais mortais.

Hoje, com novas tecnologias, procedimentos e tratamentos, os médicos alertam que estas afirmações sobre o câncer não são verdadeiras. Tratamentos específicos para cada tipo de câncer podem proporcionar mais tempo e melhor qualidade de vida. Porém os especialistas lamentam que não seja disponibilizada a grande parte das pacientes a maioria das inovações científicas.

 

Informação

Diante do desconhecimento de muitos brasileiros a respeito do câncer de mama metastático, uma campanha foi lançada com a proposta de informar a sociedade sobre a doença. “Por Mais Tempo” tenta sensibilizar a sociedade quanto à necessidade de ofertar os tratamentos mais adequados e recentes no sistema público de saúde e conscientizar a respeito da importância do “valor do tempo” nesses casos em que a luta é contra o tempo.

A campanha Por Mais Tempo informa a sociedade sobre essa realidade por meio de uma série de ações e a pesquisa, realizada entre março e abril de 2015, sobre o que os brasileiros sabem a respeito o câncer de mama metastático é uma delas. A iniciativa é realizada pela Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), pelo Instituto Oncoguia e pela Roche e entrevistou 2.907 pessoas, em 174 municípios das cinco regiões brasileiras. Os entrevistados eram homens e mulheres, com 25 anos ou mais, de todas as classes econômicas e que não tem ou nunca tiveram câncer.

 

Exemplo

Eny Rodrigues está viva e leva uma vida normal depois de 14 anos da descoberta de um câncer de mama e prova, depois de vencer a fase inicial e a metástase, que nem sempre o paciente é vencido pela doença. Acessível pelas redes sociais, ela dá conselhos a quem a procura na mesma situação. Em 2001 descobriu o câncer maligno e disse ter perdido o chão.

Depois da mastectomia, cirurgia para retirada da mama, de tratamento radioterápico e cinco anos de acompanhamento pensou ter ficado livre da doença, porém Eny foi surpreendida por uma dor que a deixou quase sem andar. “Pensei que não tinha nada a ver com a mama e continuei em casa até a dor atingir a perna e ser tão forte que não conseguia mais andar.”

O diagnóstico mostrou que Eny estava com metástase nos ossos, no fígado e pulmão, e corria o risco de que a doença alcançasse o cérebro: “Fique desesperada, chorei muito. Entrei em pânico. Tinha filhos pequenos.”

Hoje, depois de um tratamento específico contra o tipo de câncer que a acometia, diz não ter mais metástases ou sentir dores. “Quando recebi o diagnóstico, eu não imaginei que fosse viver tanto tempo. [Agora] Tenho cabelo grande, levo uma vida normal, cuido da minha casa, lavo, passo, vou à feira.”

Metade das mulheres descobre doença em estágio avançado

O câncer de mama é uma doença que acometerá aproximadamente 57 mil novas mulheres em 2015 no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Porém, pesquisas demonstram que cerca de 50% das pacientes brasileiras atendidas pelo sistema público de saúde só descobrem a doença em fase avançada. Na Europa, esse índice fica entre 5% e 10%. Além disso, cerca de 30% dos casos em todo o mundo evoluem para a fase metastática.

De acordo com o mastologista Roberto Hegg, chefe do departamento de pesquisa do Hospital Pérola Byington, Centro de Referência da Saúde da Mulher em São Paulo, o diagnóstico tardio ainda é uma das complicações que podem levar a mulher ao óbito. Por isso alerta que é importante realizar mamografias regularmente e manter em dia os exames.

A pesquisa proposta pela campanha Por Mais Tempo também revelou que 15% das mulheres com idade entre 40 e 69 anos disseram nunca ter feito uma mamografia. As usuárias do setor público, com idades entre 40 e 69 anos – faixa etária fundamental para a detecção precoce – eram 19% das mulheres que nunca fizeram esse exame, já o número das que tinham convênio era de 5%.

Um estudo publicado pela revista científica Oxford University Press, com participação de pesquisadores ligados à Agência de Saúde Pública do Canadá e ao Canadian Breast Cancer Screening Iniciative afirma que a mamografia é o exame mais eficaz e de custo mais baixo para o diagnóstico precoce e diminuição da mortalidade por câncer de mama. A mamografia é indicada a partir dos 40 anos de idade e a Lei 11.664/2008 que entrou em vigor em 29 de abril de 2009 estabelece que todas as mulheres tenham direito à mamografia pelo Sistema Único de Saúde. Porém, muitas mulheres, por desconhecimento, utilizam como pretexto para não realizarem o exame o medo de sentir dor.

 

DOR

A mastologista Rosemar Macedo Sousa Rahal, professora na Universidade Federal de Goiás (UFG), aponta que um estudo, efetivado pela instituição, demonstrou que a quantidade de pacientes que disseram sentir um nível de dor considerado insuportável durante a mamografia foi de apenas 2%. A grande maioria, 98% das mulheres, alegou sentir apenas um desconforto, o qual as faria deixar de realizar o exame em outras oportunidades. Para a profissional, uma das coisas que mais impedem as mulheres de se submeterem ao mamógrafo é o medo do resultado que o exame possa apresentar: “Elas temem ter câncer, mas esquecem que ele é curável se detectado precocemente.”