Melhores do Enem revelam abismo entre ensino público e privado

05 de agosto de 2015

Fonte: Diário da Manhã

Link da matéria: http://www.dm.com.br/cidades/2015/08/melhores-do-enem-revelam-abismo-entre-ensino-publico-e-privado.html

 

Incrível diferença das escolas privadas e estaduais revela um sistema desigual; melhor de Goiás tem mensalidade de quase 2 mil por mês

Colégio Olimpo Integral é o melhor de Goiás e terceiro colocado no País: unidade tem se destacado nas últimas provas do Enem

Jackeline Osório ,Especial para Cidades

A divulgação da pontuação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2014) costuma provocar aflição na comunidade acadêmica secundarista. Motivo: notas estigmatizam. As escolas espelham sua imagem a partir da avaliação e vivenciam variações de humor.

Mas a própria modificação nas colocações revela que não se pode levar em conta exclusivamente o resultado numérico. Hoje, entidades educacionais aparecem no topo. Amanhã, podem se afastar dos grupos de elite.

É o que ocorreu, por exemplo, com a escola WR, classificada na 42º posição nacional no Enem 2014 e que no passado apresentou bom desempenho ao se enquadrar na lista das dez melhores.

Da mesma forma, a celebração deve ser contida na unidade goiana melhor colocada deste ano: o Colégio Olimpo Integral conquistou a terceira colocação, atrás do primeiro, Colégio Objetivo Integrado (São Paulo/SP), e Colégio Farias Brito – unidade central (Fortaleza/CE), que arrebatou a segunda colocação. O Olimpo registrou média de 735,02 pontos – já a escola paulista obteve média 742,96.

Das unidades goianas, apenas Olimpo e WR aparecem na lista das 100 melhores classificadas. O WR entrou em uma polêmica recentemente, quando um dos seus diretores pediu uma cota para os goianos. O estabelecimento acredita que a chegada do Enem pode retirar vagas dos estudantes de Goiás. A UFG considerou que os 20% de cotas ‘regionais’ não estaria nos planos da instituição.

 

HUMANIZAÇÃO

Maria Ester Galvão, presidente do Conselho Estadual de  (CEE) diz que o resultado do Enem deve ser observado, mas existem outros fatores que necessitam ser avaliados. “Acredito em um modelo de educação mais voltado para o ser humano. A própria escola de São Paulo, que está em primeiro lugar, tem programa diferenciado. Os alunos recebem conteúdo programático pela manhã, mas a tarde podem praticar esportes, teatro, violão”, informa.

Exatamente para atender as recomendações dos especialistas na divulgação do Enem deste ano foi introduzido o indicador de permanência – que serve para avaliar qual a quantidade de participantes do Enem que cursou o ensino médio completo no mesmo estabelecimento. Com isso, isolam-se as escolas que utilizam de ações antiéticas, como seleção de alunos específicos para formar uma elite de 3º ano.

 

CATÓLICO

Os dados divulgados na manhã de ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) trouxeram o Colégio Jaó como o terceiro colocado das instituições goianas e na 106º classificação nacional. Todos os primeiros colocados atuam em tempo integral.

O Olimpo se define como escola “católica laica” e que oferece “curso pré-vestibular de excelência com preparação para as instituições de ensino superior mais exigentes do País”.

Os valores são puxados para a realidade brasileira: conforme site da instituição, o 3º ano do Olimpo custa R$ 22.860, com parcelas iguais de R$1.905. É uma das mensalidades mais caras da capital.

A unidade oferece turmas para ensino fundamental (após a 6º série) e médio. Na sexta série, a carga horária é composta por 30 aulas pela manhã mais duas aulas no período vespertino. A escola realiza simulados e provas sempre nas tardes de sexta-feira.

Colégio Estadual Eurípedes Barsanulfo, de Palmelo:  unidade que se saiu pior na avaliação do Enem tem boa infraestrutura e história no município

Colégio Estadual Eurípedes Barsanulfo, de Palmelo: unidade que se saiu pior na avaliação do Enem tem boa infraestrutura e história no município

OUTRAS

Na lista das goianas, o colégio Protágoras aparece na 194º colocação nacional e quarta do Estado de Goiás. O Agostiniano se classifica em seguida, com 224º colocação nacional e se posiciona como a quinta melhor escola de Goiás. Em seguida, o Olimpo de Anápolis, sexta colocação estadual e 230º nacional.

O Colégio Delta, também de Anápolis, está em 249º colocação nacional e sétima colocação estadual. O mesmo Colégio Olimpo, sem ser integral, aparece novamente na lista, na sétima colocação, com a 261º colocação, mas bem distante da escola que se coloca em terceiro lugar no país.

O Colégio Visão – 279º colocação nacional – é oitavo colocado do Estado. Na sequência, surge o Colégio Monsenhor, de Inhumas, como nono colocado em Goiás, com a 293º classificação no . O Colégio Simbios é o 10º melhor do Estado, com a 311º colocação nacional.

 

O ‘pior’ tem muito que ensinar

 

O Colégio Estadual Eurípedes Barsanulfo, de Palmelo, é a unidade que se saiu pior na avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem-2014). Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) colocam a escola na 15.632 º  posição do país. De trás pra frente, ela é a 9º colocada na lista.

Fundada em 3 de março de 1963, a escola tem um cunho doutrinador espírita, característico do município de Palmelo – fundado pelos espíritas.

A escola surgiu graças aos esforços de Jerônimo Candinho, aluno do educador e jornalista espírita Eurípedes Barsanulfo, que batiza o colégio.  Natural de Minas Gerais, Jerônimo  resolveu seguir pelo país afora e abrir escolas que falassem da doutrina espírita.  Foi aconselhado por Eurípedes e decidiu desbravar o sertão no início do século passado.

Em 1919, o pregador viajante fundou em Goiandira (GO) o primeiro colégio com o nome do professor espírita. Depois, o criador da escola de Palmelo seguiu para Caldas Novas, onde realizava tratamento de doentes.  Na década de 1930, Jerônimo Candinho resolveu se mudar para Fazenda Palmelo, no município Santa Cruz de Goiás.  Lá criou diversas unidades de ensino, lutou pela emancipação de Palmelo e tornou-se o primeiro prefeito.

Na cidade, uma das narrativas mais contadas é do encontro de Candinho com o ex-presidente Juscelino Kubistchek.  “Meu pai que me disse:  o presidente chegou, chamou Candinho  e falou: “Você é um herói, rapaz!”.

O espírita e fundador da escola retrucou: “Herói é o senhor, que construiu Brasília!”. A resposta de JK: “É, mas lá tive  ajuda dos candangos e  você construiu com as unhas e os dentes”, relata José Luís Borges, natural do município vizinho, Pires do Rio.

A realidade da escola não corresponde à performance no Enem. O colégio da rua 11 tem alunos como qualquer outra do país e de Goiás.  E todos são dedicados.  A unidade atende estudantes de ensino fundamental, médio e supletivo.  Oferece acesso à internet, fossa, água de rede pública. Em maio, a unidade realizou uma Noite Cultural, onde alunos, professores e pais discutiram aspectos artísticos para serem implantados no município.

Em uma rede social da escola, os responsáveis convocam os alunos para que retornem às salas de aula.  O texto bem escrito, sem erros de português, convida os alunos para novidades do semestre: “(…) Museu do Tempo, Quadra de Esporte pintada, Salão Nobre reformado e pintado, todas as Salas da EETI equipadas pedagogicamente com recursos tecnológicos, Sala de Arte e Leitura, Salas climatizadas, Sala de Recursos com mídia de ponta e recreios com Rádio Escola e Wi-Fi sinal aberto (…)”.

No dia a dia, o estabelecimento vive as rotinas comuns de outras escolas. Em junho, a unidade realizou sua festa junina, com atenção a cada detalhe comum da festa – das bandeirolas até a seleção das músicas de época.  O ambiente escolar é elogiado por diversos moradores da região. “ Meu filho estudou nela no ano passado. Foi o melhor ambiente de todos os anos”, diz Zilmar Bezerra. Roosewelt Rosa diz que “teve a honra de estudar” no Barsanulfo.

E Clara Almeida afirma não ser nada demais a nota do Enem. “Na vida é assim: um dia estamos de um jeito e no outro de outro.  Com certeza teremos um futuro cada vez mais brilhante na escola e na cidade”

 

Melhores escolas públicas de Goiás

  1. Instituto Federal de Itumbiara – 1115
  2. Instituto Federal Luziania – 1656
  3. Intituto Federal – GO – 2097
  4. Instituto Federal – Formosa – 2521
  5. Colégio Municipal Castro Alves Posse – 2622
  6. Instituto Federal Iporá – 2727
  7. Instituto Federal de Aparecida de Goiânia – 2773
  8. Instituto Federal de Uruaçu – 2980
  9. Instituto Federal de Anápolis – 3021
  10. Instituto Federal Inhumas – 3422
  11. Colegio Militar Polivalente Modelo Vasco dos Reis – 3478
  12. Instituto Federal Jatai – 3509
  13. Colégio da Polícia Militar Dr. Cesar Toledo Anápolis – 3670
  14. Colégio Genserico Gonzaga Jaime – Anápolis – 4077
  15. Centro de Pesquisa e ensino aplicada a Educação (Goiânia) – federal 4150
  16. Instituto Federal Morrinhos – 4313
  17. Instituto Federal Ceres – 4435
  18. Hugo de Carvalho Ramos – 4447
  19. Colégio Militar Carlos Cunha Filho – 4842
  20. Instituto Federal Goiás – 4864

 

Escolas familiares agrícolas estão entre melhores

 

No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014, as escolas familiares agrícolas estão entre as melhores instituições privadas do país que atendem alunos de nível socioeconômico baixo ou muito baixo.

Elas fazem parte do recorte do Inep de escolas privadas que atendem alunos de nível baixo ou muito baixo, ou seja, os mais vulneráveis socialmente.

O ministro da Educação, Renato Janine, disse que foi uma surpresa para o Ministério da Educação (MEC) e o Inep o destaque dessas escolas no Enem. “Não sabíamos da grandeza do trabalho delas [das escolas familiares agrícolas] e é interessante quando uma pesquisa mostra algo inesperado, porque normalmente elas mostram confirmações do que já existe”, disse.

Segundo Janine, o MEC vai agora dar mais visibilidade e ir atrás da experiência dessas escolas para “aprender com elas”. São instituições comunitárias geridas por associações de moradores e sindicatos rurais vinculados à comunidade. “Nesse sentido é a melhor escola privada do Brasil e merece nosso destaque”, ressaltou Janine.

O presidente do Inep, Chico Soares, destaca que as escolas avaliadas são muito heterogêneas entre si e que é possível a construção de muitos rankings. “Um único ranking produz um quadro distorcido da realidade”, disse ele, explicando que é preciso considerar o porte e estratégia da escola de seleção de alunos e as características socioeconômicas dos estudantes.

 

Veja as 20 escolas com as maiores médias nas PROVAS OBJETIVAS do Enem 2014

 

1º) Colégio Objetivo Integrado (São Paulo/SP) – privada – média 742,96

2º) Colégio Farias Brito – unidade central (Fortaleza/CE) – privada – média 737,88

3º) Colégio Olimpo Integral (Goiânia/GO) – privada – média 735,02

4º) Christus Colégio Pré-Universitário (Fortaleza/CE) – média 731,38

5º) Colégio Bernoulli – unidade Lourdes (Belo Horizonte/MG) – privada  – média 730,33

6º) Colégio Ari de Sá – unidade Major Facundo (Fortaleza/CE) – privada – média 725,09

7º) Colégio e Curso Ponto de Ensino unidade Tijuca (Rio/RJ) – privada – média 720,73

8º) Colégio Elite Vale do Aço (Ipatinga/MG) – privada  – média 719,81

9º) Coleguium (Belo Horizonte/MG) – privada – média 719,71

10º) Colégio Objetivo Integrado de Mogi das Cruzes (Mogi/SP) – privada – média 718,66

11º) Colégio Bionatus II (Campo Grande/MS) – privada – média 712,91

12º) Colégio Santo Antônio (Belo Horizonte/MG) – privada – média 711,95

13º) Colégio e Curso Ponto de Ensino (Niterói/RJ) – privada – média 711,36

14º) Colégio Vértice Unidade II (São Paulo/SP) – privada – média 710,99

15º) Colégio e Curso Ponto de Ensino – Vila da Penha (Rio/RJ) – privada – média 709,43

16º) Instituto Dom Barreto (Teresina/PI) – privada – média 705,26

17º) Colégio São Bento (Rio de Janeiro/RJ) – privada  – média 704,94

18º) SEB COC Unidade Álvares Cabral (Ribeirão Preto/SP) – privada – média 701,70

19º) Colégio Anglo Leonardo da Vinci (Carapicuíba/SP) – privada – média 701,11

20º) Colégio Lerote Ltda (Teresina/PI) – privada – média 700,86