Tricô entre comadres

Data: 13 de agosto de 2015

Fonte/Veículo: O Hoje

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“Pá virada é inquietude, vontade de fazer, de cantar, de extravasar. Pá desvirada é água parada...’”

13-08-2015 00:00

  

Adalto Alves

Cláudia Vieira e Cristiane Perné estão com a pá virada. Entre significados inusitados, a expressão quer dizer que, além de impetuosa, a dupla é imprevisível. Uma combinação mirabolante. Pá Virada é o nome do show que elas apresentam, hoje, no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Cláudia e Cristiane são amigas de longa data, com hábitos em comum. Ambas acreditam no poder da voz como instrumento de sedução. Desde que a palavra tenha mais a transmitir que a vulgaridade ociosa. Para isso, é preciso cuidado no debulhe dos verbos. De Itamar Assumpção a Fabiano Lin, da Casa Bizantina, parece lógico que elas andam numa estrada de acalanto emocionado. Será que existe uma ligação entre a ousadia de Robinson Borba, contemporâneo de Arrigo Barnabé, e a picardia de Haroldo Barbosa, contemporâneo de Ary Barroso? A distância que liga Billy Blanco a Dolores Duran não é percorrida com menor intensidade. Caetano Veloso, Gilberto Gil e o ‘negro gato’ Luiz Melodia são inventores de uma sensibilidade moderna, que não exclui, mas engloba a antiguidade.

Para dar conta dos recados, Cláudia e Cristiane veem-se às voltas com uma turma do barulho. Can Kanbay (guitarra), Nonato Mendes (baixo), Fred Valle (bateria), Sérgio Pato (percussão) e Fred Praxedes (teclados) fabricam as melodias por onde as vozes passeiam com a desenvoltura imaculada de outros carnavais. Currículos extensos nem sempre são convites para experiências memoráveis. Neste caso, indicam uma parceria que não tem como dar errado. Até quando a seda roça, de leve, uma superfície áspera. Misturas disponíveis para ouvidos não satisfeitos com a hegemonia dominante.