Após queimadas, áreas de cerrado têm uso agropecuário

Data: 05 de setembro de 2015

Fonte/Veículo: O Hoje

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Terras, que deveriam ser de preservação, logo depois de serem atingidas pelo fogo viram pastagem área de cultivo

A relação entre queimadas de vegetação remanescente do Cerrado e desmatamento para uso agropecuário é demonstrada em estudos do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Em um dos estudos, os especialistas observaram que “parte considerável” das queimadas em vegetação foram “induzidas e associadas aos desmatamentos”, ou seja, ao longo do tempo, se tornaram espaço de pastagem e agricultura.

Outros dados, que avaliaram o período compreendido entre 2002 e 2011, apontam que: 65% das queimadas ocorreram em vegetação remanescente; 20% em áreas de agricultura e 15% de pastagem cultivada. A geógrafa e doutora em uso e ocupação do Cerrado, Elaine Barbosa da Silva, estudou a dinâmica socioespacial e as mudanças na cobertura e uso da terra no bioma, ocorridas entre 1975 e 2010. Ela acredita na relação queimada-desmatamento. “O que nós vemos é a forte relação. Quando você espacializa dados de queimada e estudo temporal, a ocorrência de desmatamento tem uma forte correlação com as queimadas. E muitas dessas áreas viram áreas para agropecuária”, afirma.

Um estudo do geógrafo e doutorando em Ciências Ambientais pela UFG, Fernando Moreira, comparou a porcentagem de área remanescente e o espaço de queimadas nos municípios goianos entre 2002 e 2011. Segundo o levantamento, a região norte é a que registrou as maiores áreas queimadas com 30%, atrás apenas do sul goiano com 27%. O município de Cavalcante, localizado na Região Norte do Estado, apresentou a maior proporção de área verde (96,3%) e a maior extensão da área queimada registrada (9.951 km²) no período. “Além das consequências para o meio natural do bioma Cerrado, temos que a sociedade civil também é bastante atingida pelos efeitos da queima da biomassa de forma indiscriminada, as quais causam o aumento de temperatura e potencializam os baixos níveis de umidade relativa do ar”, defendeu o geógrafo, Fernando Moreira, em sua dissertação de mestrado.

Perda

Em Goiás, sobraram apenas 34,5% do Cerrado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. O desmatamento do bioma no País foi de 4.535 km², em 2014, conforme o Lapig. Ao longo da última década, a derrubada de árvores na Amazônia diminuiu e cresceu no Cerrado.

Para complicar, o anúncio da presidente Dilma Rousseff, na última semana da meta de redução das emissões de gases do efeito estufa em 43% até 2030 em relação ao registrado em 2005 veio com o compromisso de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia. Para outros biomas, assim como o Cerrado, o mesmo não foi prometido. “É preocupante”, definiu Elaine que vê com desânimo o posicionamento dos governos. “Eu sou meio pessimista, a gente não vê ações de preservação, só de incentivo à destruição”, criticou.

Intenção

Este ano, aconteceram até setembro, 5.181 ocorrências de incêndios em vegetação segundo os números do Corpo de Bombeiros Militar (CBM). A estatística é ligeiramente maior que o do mesmo período de 2014. “O que eu posso informar é que 90% das ocorrências são de causas intencionais. A pessoa tem o objetivo de colocar fogo, e dessas, pouquíssimas têm autorização”, acredita o coordenador geral da Operação Cerrado Vivo 2015, Tenente-coronel Pedro Carlos.

Produzir sem expandir área é o caminho

O índice de produtividade agrícola brasileiro multiplicou-se em 3,7 vezes de 1975 a 2010, diz o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para a consultora técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural  (Senar) para área de meio ambiente, Jordana Sara, este ganho de produtividade é o caminho para encontrar o equilíbrio entre a produção de alimentos e a preservação ambiental. “Quando a gente fala em expansão, o que nós estamos falando é de aumentar a produtividade”, ressalta.

A consultora lembra que após 1970 houveram esforços governamentais no sentido de ampliar a produção agropastoril em Regiões do País, sobretudo a Norte e a Centro-Oeste. No entanto, após o ano 2000 tem acontecido uma mudança muito grande de visão sobre a agricultura e o Cerrado, no sentido de minimizar os impactos ambientais.

Para Jordana, as queimadas são algo “cultural”, mas os produtores têm demonstrado uma grande receptividade ao aprendizado e aplicação de novas técnicas. “Hoje a gente está aplicando a tecnologia nas áreas que foram abertas. Dessa forma, o agricultor está vendo a real necessidade de tecnificar e melhorar o cultivo dessas áreas que foram abertas”, salienta. (Deivid Souza)