Praças recortadas perdem o uso

16 de outubro de 2015

Fonte: O Popular

link da matéria: http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/pra%C3%A7as-recortadas-perdem-o-uso-1.968648

 

Marcos urbanos alterados dificultam acesso da população e muitos já foram tomados pelo uso privado, como estacionamentos

Praça no cruzamento das avenidas 90 com a 136, no Setor Sul

 

Nas discussões sobre a ação da Prefeitura de Goiânia na Praça do Relógio, que será recortada para dar continuidade à Avenida Jamel Cecílio e à Rua 12, os argumentos favoráveis se basearam no fato de o espaço público não ser aproveitado para convívio dos cidadãos. Sem esta utilidade, poderia dar lugar ao trânsito de veículos. Restaria à praça as funções de auxiliar na drenagem urbana, um respiro na paisagem densa e a organização do cruzamento.

O geógrafo Tadeu Arrais, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que esta é uma consequência das praças que não receberam, do Poder Público, o acesso à população. Na Praça do Relógio, por exemplo, não havia qualquer faixa de pedestre que ligasse a ela e nem mesmo um equipamento, como um banco, para que houvesse a aproximação das pessoas. “As praças são tomadas pelo movimento dos carros e passa a ser difícil o acesso das pessoas, que deixam de usá-la fisicamente e, depois, o Poder Público usa este argumento para destruí-las.”

A Praça do Cruzeiro, no Setor Sul, é um exemplo da falha no acesso à população. O uso é restrito ao espaço de um pit-dog, enquanto todo o restante da praça fica vazio. Apesar de toda a relevância histórica do local, além da importância de ser referência e suavizar a paisagem, não há atrativos para o ponto se tornar um local de convivência. O mesmo ocorre na Praça do Setor Nova Suíça e no cruzamento das Avenidas 90 e 136.

Ilhas

O arquiteto e urbanista Bráulio Vinícius explica que as pessoas não utilizam as praças porque elas já estão ilhadas. “As praças começam a ser usadas apenas como rotatórias.” Ele conta que cresceu nas proximidades do Setor Coimbra, na Praça Walter Santos, antes dela ser recortada. “Para ir na casa do meu primo, eu circulava a praça inteira porque era muito perigoso atravessar e caminhar pelo meio. Uma tia já tinha sido atropelada lá.” Sem a convivência, a praça foi mutilada.

Arrais reforça que as praças são úteis mesmo sem o uso físico, mas admite que existe esse pensamento errôneo sobre suas funções. Para ele, as praças que resistem às necessidades do trânsito são aquelas de convivência social, como a Praça Universitária e Praça do Avião, no Setor Aeroporto, já que a comunidade impede o fim do espaço.

Bráulio diz que mesmo os espaços que restam das praças recortadas podem ter uso público, desde que haja o acesso. “Havendo o espaço, sempre é possível usar, mas o que vemos é que eles deixam esses recortes para acompanhar a geometria da via e não para dar alguma destinação.”

Sebastião Nogueira

Corte na Praça Walter Santos, no Setor Coimbra

Diomício Gomes

Máquinas e caminhões removem terra que formava a Praça do Relógio, na Avenida Deputado Jamel Cecílio, no Jardim Goiás