Fechando o zíper

Data: 17 de outubro de 2015

Fonte: O Popular

Link da matéria: http://www.opopular.com.br/editorias/magazine/fechando-o-z%C3%ADper-1.969373

 

Fim das mulheres nuas na Playboy americana levanta debate e sinaliza mudanças na sociedade e na mídia

 

A modelo Kate Moss estampou a edição célebre dos 60 anos da Playboy



O anúncio de que a Playboy dos Estados Unidos não vai mais publicar fotos de mulheres nuas, feito nessa semana, mexeu com a imaginação de muita gente, de estudiosos da comunicação e comportamento a fãs da publicação. E não é para menos, pois a revista rompeu tabus nos conservadores anos 50 e foi, por um bom tempo, sinônimo de liberação sexual, ao menos para os homens do mundo ocidental. A justificativa da companhia foi a concorrência dos sites pornográficos.

Presidente-executivo da Playboy, Scott Flanders, disse ao jornal The New York Times que agora o público, com a internet, tem outra atitude. “Você está a um clique de distância de cada ato sexual imaginável, de graça”, comenta, acrescentando que, por isso, “publicar imagens de mulheres nuas hoje seria ultrapassado”, enfatizando o conteúdo gratuito dos sites especializados.

Para a antrópologa carioca Mirian Goldenberg, a decisão da revista se dá em função de um saturamento da nudez feminina em muitos espaços da mídia, especialmente na internet. “Já não é sedutor esperar a Playboy para ver lindas e famosas mulheres nuas. Basta um clique e você consegue ver a mesma foto no seu computador, sem pagar nada. Para se diferenciar, a revista precisa, então, ter outro tipo de conteúdo”, disse Mirian.

“Por outro lado, a nudez também perdeu seu caráter de transgressão, de libertação, já que inúmeras mulheres estão enviando e compartilhando fotos de seus corpos nus. Não é uma banalização, é uma certa naturalização da nudez feminina. Ela já não faz parte do mundo secreto, proibido, tabu. Faz parte da vida cotidiana de muitos brasileiros”, afirma a antropóloga, autora dos livros Nu e Vestido e de O Corpo como Capital.

Para o professor Daniel Christino, da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás, a reformulação editorial pode indicar uma questão maior da própria mídia impressa. “Talvez o problema não seja a pornografia, nem a oposição entre ela e o erotismo. Isso existe há muito tempo. Acho que o esgotamento está na mídia impressa, especialmente no modelo de revista mensal. A ideia de que se deve esperar um mês para ter acesso ao nu estilizado e ligeiramente vulgar da Playboy não faz mais sentido”, destaca o professor.

“Além disso, a internet oferece a possibilidade do audiovisual, coisa que a revista não é capaz de oferecer. A internet oferece vasto conteúdo audiovisual cobrindo uma gama virtualmente infinita de taras e fetiches pornográficos, com acesso gratuito e imediato. Não há revista mensal impressa capaz de competir com isso”, avalia Daniel Christino.

Apesar de opiniões divergentes, para muita gente o fim das mulheres nuas naPlayboy, alvo constante de críticas do movimento feminista, não é uma vitória do movimento. “A objetificação das mulheres e mercantilização do sexo estão vivos e bem, não importa o que Playboy publica”, escreveu a colunista Belinda Luscombe, na revista Time.