Molière com cara do Brasil

16 de outubro de 2015

Fonte: Diário da Manhã

Link da matéria: http://www.dm.com.br/cultura/2015/10/206297.html

 

Grupo Plenluno Teatro “invade” ruas e praças da Capital e de cidades vizinhas

 

 


 

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Por Rariana Pinheiro

Grupo PlenLuno Teatro  inicia hoje em Goiânia, uma turnê, na qual seu espetáculo, “As Artimanhas de Scapino”, irá passar por diversas cidades próximas à Capital

Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Trindade, Nerópolis e Goianira também estão na lista das localidades que serão contempladas pela companhia. No entanto, esta montagem que já foi encenada pelo PlenLuno dezenas de vezes nos teatros, recebeu novo formato: desta vez, o palco será a rua e pontos culturais dos munícipios. Logo, neste sábado, às 17h, será o Lago das Rosas o responsável por receber esta espirituosa peça, inspirada no texto do dramaturgo francês Molière e que abusa dos recursos lúdicos da Commedia Dell’Arte e do circo.

A proposta da companhia é, claro, de divertir e de dar acessibilidade à arte. Mas, levar ao público reflexões também está no script. Este propósito, o grupo traz na adaptação da obra – na qual o contexto social foi agregado -, e também em uma discussão sobre teatro, que acontecerá após cada apresentação. Sobre a montagem, teatro, circo, Molière e transformação através da arte, conversamos com uma das fundadoras da companhia Alinne Mendes e com o ator do grupo Jackson Leal. Confira trechos da conversa a seguir:

DMRevista: Por que a escolheram adaptar o texto de Molière,Les Fourberies de Scapin

Alinne Mendes: Em 2011 nós  fizemos a leitura do texto na disciplina da professora Natássia Garcia, do curso de Artes Cênicas da UFG. Todo o grupo leu o texto junto se identificou muito, porque, apesar de ser um texto clássico, ele traz muito uma realidade que a gente enxerga no Brasil, que são as relações patrão e empregado, relações de poder, vícios e virtudes do ser humano. Além disto, esta é uma comédia que traz muitas piadas que são atemporais. Apesar de ser um texto escrito há muito tempo, por um autor francês, a obra contém cenas cômicas, que são engraçadas até nos dias atuais, nas quais podemos enxergar nitidamente reflexões sobre o cotidiano atual.

DMRevista: E a escolha pela Commedia Dell’Arte, como aconteceu?

Jackson Leal:Por a Commedia Dell’Arte  ser um tipo de trabalho que não exige um texto decorado, mas sim um roteiro estruturado, e sobre esse roteiro o trabalho de improvisação do ator, nós optamos por ela. E sendo assim, primeiramente não precisamos nos preocupar com o texto, mas sim com a composição do personagem pelo ator. Isso refletiu uma ideologia que é do grupo, de se preocupar com o trabalho do ator, de fazer um trabalho de qualidade. E aí nós fizemos as experimentações corporais e várias outras experimentações e improvisações.

DMRevista:  O circo também está presente né? Como o público recebe estas misturas?

Jackson Leal: A Commedia Dell’Arte tem também essa característica. Ela foi criada no sentido de abranger o público que não tinha a oportunidade de ir ao teatro. Então as peças sempre foram apresentadas nas feiras, nas praças e outros lugares alternativos. O circo também tem essa função, que é de apresentar arte para um público que geralmente não tem a oportunidade de ir ao teatro.

Além de também ser uma identidade do grupo, nós pensamos que o circo iria trazer às cenas mais dinamismo, virtuosismo, e até mesmo fazer com que as cenas fossem mais poéticas. Porque aí a gente já entra com as técnicas circenses, como o malabarismos, por exemplo. E quando é executada alguma técnica do circo, é perceptível para os atores a reação imediata do público. Os olhos brilham! O encanto é notório nos olhos do público.

DMRevista:  O que a PlenLuno acha mais interessante no Teatro de Rua?

Alinne Mendes: Esse é o nosso primeiro trabalho de rua. O grupo escolheu este formato porque o nosso diretor Newton Armani fez essa opção pela rua. Ele já tem um histórico de teatro de rua. E a gente foi percebendo, que na rua o espetáculo cresceu muito com a interação com a plateia. É um público que não é igual ao público de teatro. É um público que às vezes está passando ali e pararam para assistir o espetáculo e se envolve e interage.

Nós já tivemos vários casos de cachorros, ou um bêbado que interagiu com a gente. Ou ainda passou um carro do lixo, de som, uma viatura de polícia e tivemos que improvisar. Então, acreditamos que todas essas questões urbanas interferem no espetáculo de uma forma positiva, porque fazem com que nós passemos por uma evolução enquanto artistas e o espetáculo também vai se modificando, de acordo com essas intervenções.

DMRevista:  Após as apresentações vocês vão conversar com o público sobre a importância do teatro e das artes para a comunidade. Pode resumir um pouco sobre qual seria o papel disto, que chamam de  “Cidadania Cultural”?

Alinne Mendes:O Teatro é um fator muito importante de formação. Nós temos claro esta importância. Primeiro porque todo teatro é político, pois traz questões sociais, tanto do autor, que escreveu a peça em determinada época, quanto de nós artistas, que pegamos essa peça e adaptamos para nossa realidade. Então, todo teatro já traz essa formação política. “As Artimanhas de Scapino”, por exemplo, tem a relação entre patrão e empregado, que é um ponto importante do nosso sistema capitalista em que a gente vive. Então esse empregado precisa fazer várias artimanhas, ter jogo de cintura para sobreviver dentro do sistema que ele está inserido. Esse patrão que exerce o poder sobre esse empregado, é meio dono daquele empregado. E o teatro também traz uma formação estética.

“As Artimanhas de Scapino”, quando traz ritmos como o bolero, o samba, a valsa, quando usa as máscaras como elemento estético importante no espetáculo, também pretende gerar uma formação estética. E isso também é muito importante para o público, que às vezes nunca teve contato com essa forma de arte, ou, se teve, está tendo mais uma oportunidade de ter contato com essa estética do espetáculo. A Cidadania Cultural seria esse momento, do encontro entre uma obra de arte e o contexto em que ela se insere. Uma fusão que gera comunicação de algo além do que é visível, e que permite que as pessoas passem a enxergar seus mundos de uma forma diferente. A Cidadania Cultural poderia ser essa expansão do olhar, através das lentes do teatro.

Veja as datas e horários:

– Goiânia

Local: Lago das Rosas – 18h

Amanhã

– Aparecida de Goiânia

Local: Ponto de Cultura Cidade Livre – 18h

24/10

– Senador Canedo

Local: Jardim das Oliveiras – Praça Criativa – 18h

25/10

– Trindade

Local: Praça em frente à Prefeitura – 18h

– Nerópolis

Local: Praça São Benedito (Praça da Igreja) – 18h

– Goianira

Local: Praça da feira fechada – Setor Triunfo – 18h

Peça, que já foi apresentada várias vezes no teatro, foi transferida para as ruas

Peça une clássico ao contemporâneo