Capital fica mais quente em 50 anos

Data: 23 de outubro de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

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Goiânia tem temperaturas mínimas até 4ºC mais altas e estiagens mais longas, aponta pesquisa feita por climatologista

23/10/2015 06:00

Andreia Bahia

 

Se o calor está insuportável para quem trabalha abrigado por um teto, imagine o que está sofrendo quem tem de enfrentar o sol protegido unicamente por um chapéu. “A sensação que a gente tem é que está queimando”, relata Antoniel Santos, almoxarife de uma obra em Goiânia. Ele conta que o frescor da madrugada acaba logo que o sol nasce, por volta das 7 horas. A partir daí, o corpo vai só aquecendo à medida que o dia avança. Às 17 horas, quando o expediente termina, o calor persiste e se estende noite afora. “Esse é o ano mais quente da minha vida”, diz.

Esse calor tem uma explicação, segundo a climatologista Gislaine Cristina Luiz, do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG). É efeito de uma massa de ar seco e quente que vem do Atlântico Sul e está estacionada na Região Central do País. Ela tem um efeito anticiclone: movimenta-se da atmosfera para a superfície. Desta forma, o calor produzido na cidade pelos carros, pelas queimadas e pela exposição ao sol não consegue se dispersar. Nos últimos dias, as temperaturas superaram a casa dos 40°C.

A massa de ar quente vem sendo rompida lentamente com a chegada de uma massa de ar frio de baixa pressão que vem do Sul e que se movimenta da superfície para atmosfera. “Desde quarta-feira temos a formação de nuvens e chuvas isoladas em alguns pontos do Estado”, afirma Gislaine. Na capital, a chuva chegou ontem.

A impressão de Antoniel de que este ano está mais quente não contraria a realidade: Goiânia está ficando mais quente a cada ano, segundo uma pesquisa feita por Gislaine. Ela mostra que, no mesmo período em que Goiânia saiu de uma população de 150 mil habitantes (1960) para 1,3 milhão (2010), a temperatura média subiu de 23°C para 25,8°C.

“E não consideramos os picos de temperatura”, informa a professora. “O aumento do calor é consequência da retirada da cobertura vegetal do solo”, explica. Por isso a superfície mais quente da cidade não está na área construída, mas na periferia, onde o solo sofre maior incidência do sol.

Mínimas maiores

Ainda de acordo com o estudo, Goiânia ficou mais quente nos últimos 50 anos, mas não foram as temperaturas máximas que sofreram maior influência da expansão urbana. Foi a média da temperatura mínima que subiu mais: saiu de 11,8°C, em 1960, para 15,9°C, em 2010. Enquanto isso, a média da temperatura máxima subiu de 30°C para 32ºC. A pesquisa foi feita no inverno.

Em cinco décadas pesquisadas, Gislaine detectou também mudança no regime de chuvas de Goiânia. A quantidade não mudou, informa a pesquisadora, mas as precipitações ficaram mais intensas - devido ao aquecimento da superfície - e concentradas em menos dias do ano. “O período chuvoso está começando cada vez mais tarde e terminando cada vez mais cedo.”

A pesquisadora defende que o planejamento urbano deve considerar essa nova realidade.