Estudo questiona vinculação às drogas

Data: 03/11/15 

Veículo: O Popular

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03/11/2015 06:00

 

Em sua tese de mestrado defendida em 2014, o sociólogo Guilherme Borges da Silva, vice-coordenador do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal de Goiás (UFG), questiona o discurso das polícias - reforçado, segundo ele, pela mídia - de que os homicídios em Goiás são consequência do tráfico de drogas. Intitulada “Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia”, a tese mostra que a maior parte dos casos julgados de homicídios que estavam na Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em 2014, tinha como causa conflitos interpessoais.

Silva não nega, em sua dissertação, que há cometimento de outros crimes, incluindo homicídios, entre traficantes ou grupos rivais, mas acredita que não há dados que comprovem ser este o motivo de até 90% dos assassinatos no Estado, como sustentam agentes da área de segurança pública.

Um contra-argumento é dado pelos delegados Elexandre Rossignolo e Marisleide Santos. Para eles, homicídios vinculados ao tráfico são de difícil elucidação, já que há um temor das vítimas ou testemunhas de auxiliarem nas investigações. “Muitas vezes os autores de vários crimes morrem durante o tempo da investigação, por ter essa disputa”, diz Marisleide.

Apuração

Guilherme Borges, por sua vez, afirma que a vinculação ao tráfico é dada com base em informações iniciais colhidas por militares na cena do crime, onde um vizinho, por exemplo, relata que a vítima seria usuária de drogas. “Não há uma investigação futura que vá comprovar se a pessoa era mesmo usuária e até mesmo se o caso tem vínculo com o tráfico ou por alguma desavença pessoal, por exemplo. Apenas as peças iniciais do processo não consegue resolver isso.”

Guilherme afirma ainda que o discurso do tráfico de drogas é usado como válvula de escape pelas forças policiais, já que o uso das substâncias é também um problema social e de saúde pública. “Esse discurso é reproduzido pela mídia fortemente e isso reflete no discurso das pessoas.” Para o sociólogo, se as mesmas fontes afirmam que a vítima “dava trabalho”, isso já bastaria para vincular o comportamento dela ao uso ou tráfico de drogas, criando um ciclo sem fim.