Uma vida nem um pouco fácil

Data: 06/11/15

Veículo: O Popular

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Pesquisa traça perfil de prostitutas da capital; maioria está vulnerável a doenças e violência

06/11/2015 06:00

Beatriz (nome fictício) começou a se prostituir aos 33 anos. Como não conseguia arrumar emprego, optou por vender o próprio corpo. Procurou se informar com conhecidas e, munida de alguma coragem e outro tanto de receio, anunciou em espaço reservado para acompanhantes no jornal. Hoje, dois anos depois, fatura cerca de R$ 4,5 mil por mês - um dinheiro que nunca conseguiu quando trabalhava como balconista.

Beatriz faz parte do universo analisado por uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos em Epidemiologia e Cuidados em Agravos Infecciosos, com Ênfase em Hepatites Virais (Necaih), da Universidade Federal de Goiás (UFG). O estudo traçou o perfil das profissionais do sexo em Goiânia e mostrou a vulnerabilidade, tanto do ponto de vista da saúde quanto social, destas mulheres. A grande maioria delas apresenta doenças relacionadas ao sexo e estão em ambientes que facilitam a violência (veja quadro).

Beatriz fica com tudo o que ganha. Vive sozinha, numa casa na divisa entre Goiânia e Aparecida de Goiânia, e diz que tem o poder de escolher os clientes. “Não deixo entrar em casa clientes com envolvimento com drogas nem alcoolismo”, diz. Sempre exige o uso do preservativo e procura regularmente o médico. “O tipo de gente que atendo varia: de jovens a senhores de 70 anos. O importante é que posso escolher e nunca fui agredida.”

Pesquisa

A pesquisa do Necaih teve duração de um ano e procurou pulverizar a forma de acesso às profissionais. Para isso, utilizou um sistema de origem norte-americana chamado Respondent-Driven Sampling (RDS), no qual convites eram distribuídos entre algumas profissionais que repassavam para outras.

Assim, os pesquisadores conseguiram acesso a chácaras de luxo, bares, boates, além de casas de show erótico e espetáculos, bordéis e cinema. Eles chegaram a estes locais com abordagem direta, por meio do repasse de convites-formulários e autorização dos donos. Coletaram sangue e fizeram exames de saúde.

A invisibilidade é a grande barreira enfrentada por essas mulheres. A pesquisa identificou doenças como hepatite B e C, HIV e HLTV em maior incidência neste grupo de mulheres do que na população geral. Para piorar, a presença da saúde pública é mínima, deixando as mulheres desassistidas nesta área. Por isso, junto com os formulários, a equipe de pesquisa, coordenada pela professora Sheila Araújo Teles, fez um trabalho de aplicação de vacinas e encaminhamento médico.

Trabalho de risco - Clique para visualizar

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