Pragas cada vez mais resistentes

Data: 11 de dezembro de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

Link direto para a notícia: http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/pragas-cada-vez-mais-resis

 

Produtores de grãos constatam que controle químico vem perdendo eficiência a cada safra

Bartolomeu Braz Pereira, da Aprosoja: perda grande para o produtor e a economia do Estado

O cultivo da soja em Goiás ainda está em desenvolvimento inicial, em razão da ocorrência tardia das chuvas, mas o ataque de lagartas, ainda que esteja ocorrendo de forma pontual em algumas lavouras do Estado, já preocupa os produtores, sobretudo em relação à falsa-medideira e à Helicoverpa armigera, cuja presença já foi constada em todo o Estado. Por enquanto, a praga ainda se mantém em população reduzida e o que mais preocupa no momento são as lagartas de solo.

Na Região Centro-Norte do Estado, com destaque para os municípios de Niquelândia, Uruaçu e Porangatu, os efeitos do El Nino, mais severos nesta safra, ainda fazem o produtor esperar por condições mais adequadas para o plantio, pois as chuvas ainda são insuficientes para semear a terra, informa Bartolomeu Braz Pereira, produtor de grãos e presidente da Associação Goiana dos Produtores de Soja (Aprosoja Goiás).

Segundo Cristiano Palavro, engenheiro agrônomo e consultor técnico da Aprosoja Goiás, o regime de chuvas neste início do ciclo da soja, marcado por precipitações irregulares, tem favorecido o ataque de lagartas de solo, a exemplo da falsa-medideira e da lagarta elasmo. Cristiano Palavro explica que essas lagartas também afetam a soja em seu ciclo vegetativo, atacando o caule e até matando as plantas neste período em que estão mais frágeis, reduzindo a produtividade das lavouras.

Por ser mais nova e ter o potencial de causar grandes danos às lavouras de soja, como aconteceu na safra 2012/13, e ter cerca de 180 plantas como hospedeiras, com destaque para a soja, o algodão e o milho, a lagarta Helicoverpa armigera é a que mais preocupa. A praga encontra alimentação abundante durante praticamente todo ano e por isso é mais difícil de ser controlada. Na região do Cerrado, no período mais seco do ano, no entanto, sua população decresce.

Segundo Cristiano Palavro, a lagarta ataca preferencialmente a parte reprodutiva das plantas, posicionando-se, principalmente, nas flores e vagens. Além disso, uma única mariposa deposita mais de 1 mil ovos, um dos motivos que explicam sua grande disseminação.

Os primeiros relatos de grandes prejuízos nas lavouras de soja provocados pela praga aconteceram em janeiro de 2013. O Estado que mais sofreu com a praga foi a Bahia, na safra 2012/13, com prejuízos estimados em cerca de R$ 2 bilhões. Em Goiás, somente nos últimos dois anos, os prejuízos com a Helicoverpa armigera são avaliados em R$ 300 milhões. “É uma perda muito grande, tanto para os produtores, quanto para a economia do Estado”, destaca Bartolomeu.

Segundo Cecília Czpack, professora de Manejo Integrado de Pragas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e que conduz o Projeto Manejo Integrado da Helicoverpa, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa de Goiás (Fapeg), a lagarta está presente em todo o estado causa danos em várias culturas , mas ainda sob controle na soja. Sem a adoção de práticas corretas de manejo, como a não adoção de áreas de refúgio, no entanto, a situação pode fugir ao controle.

Cristiano Palavro diz que o produtor deve ficar atento à população de lagartas nas lavouras e se preparar investindo em mecanismos de proteção. Em relação aos defensivos, segundo ele, o que o produtor tem nas mãos são os produtos contra a lagarta falsa-medideira e que são indicados para o complexo de lagartas que afetam a soja.

Para um controle mais efetivo das lagartas, a Aprosoja, a Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa) e a Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) estão pedindo ao Ministério da Agricultura a prorrogação do Estado de Emergência Sanitária e liberação junto à Agrodefesa do uso do inseticida benzoato de emamectina.

Bartolomeu Pereira diz que os defensivos disponíveis no mercado não são eficazes para o controle da falsa medideira, que tem se tornado cada vez mais resistentes, e que, em caso de grande infestação da Helicoverpa, as perdas serão muito grandes sem que o produtor possa contar com um produto que promova o controle. “O benzoato é usado em todos os países produtores de grãos em clima tropical e é um produto que tem um efeito residual maior, capaz de deter o avanço da praga.”

Segundo Bartolomeu Pereira, os produtores de soja vêm se sentindo mais inseguros também em relação à ferrugem asiática, pois os produtos disponíveis no mercado já não se mostram eficientes para o controle do fungo. “Neste período, em que a umidade aumenta, as temperaturas ficam entre 27 graus e 30 graus, o que propicia o surgimento do problema.”