Entre às 9h e 12 horas, o diretor do espetáculo e um dos criadores da Palimpsestos, Michel Mauch vai ministrar a oficina “Como Se Faz Um Elefante? Elementos construtivos da Interpretação Teatral”. Já na parte da tarde, a partir das 13h,  as atrizes Marina Regis e Janaina D’Freitas – as protagonistas de “As Mulheres Que Não Vestiam Calça” – são as responsáveis por falar sobre o tema “Materiais Ressignificados Para a Cena: Teatro Como Experiência Sensorial”.

Contudo, é notório que a participação da atriz Janaina D’Freitas dentro desta companhia é mais que expressiva. Além de montar, em 2011, a Palimpsestos juntamente com Michel Mauch, ela também é responsável pela elaboração do texto de “As Mulheres Que Não Vestiam Calça”. Em sua história, a atriz e autora tratou de transportar a sociedade repressora na qual vive, para um povoado fictício e que teve todos seus homens convocados para a guerra.

Em uma das casas deste local, as irmãs Francisca (Janaina D’Freitas) e Joaquina (Marina Regis) se veem sozinhas, quando a mãe se confina no quarto e precisam lidar com a nova situação. O ambiente é de tensão, já que a calça referida no título representa a figura rígida do pai desta família, que se torna visível mesmo sem sua presença física. Assim, o texto torna-se uma denúncia à submissão de muitas mulheres que, sustentando a ordem masculina, mostram paralisadas na hora de tomar as rédias de seu próprio destino.

A montagem, que estreou em 2014, na cidade de São Paulo, desde 2015 é apresentada pelo “Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz e em festivais nacionais. “A recepção dos espectadores tem sido normalmente calorosa, com perguntas e questionamentos densos nos debates que fazemos após as apresentações”, orgulha-se o diretor Michel Mauch.

Entrevista Michel Mauch

 “Nossa sociedade busca se desamarrar de uma educação patriarcal”

É o que disse o diretor do espetáculo Michel Mauch em entrevista ao DMRevista, na qual também falou das vertentes por trás do espetáculo. Confira o bate-papo a seguir.

DMRevista: Como foi dirigir uma peça na qual sua autora é também intérprete? Houve muita troca?

Michel Mauch: Sempre há troca entre o diretor e as atrizes. Com Janaina D’ Freitas, autora de “As Mulheres Que não Vestiam Calças”, não foi diferente. Mesmo antes de termos o grupo completo para essa encenação, sabíamos que, por parte das outras atrizes, poderia haver um certo desconforto em ‘debulhar’ o texto com a autora presente. Por isso, inicialmente, assumimos o pseudônimo de Verusca Caron, que apenas foi desvendado após a primeira temporada. Isso fez com que o processo de construção do espetáculo fluísse. Em relação à direção, o profissionalismo e as imersões de Janaina D’ Freitas como atriz a fizeram (re)descobrir texto por meio de sua corporeidade, uma vez que o processo de escrita do corpo não segue exatamente os da escrita no papel. Nesse sentido, nas conversas entre nós dois, ela brincava e expunha que às vezes o texto não parecia ser dela. Para mim, como diretor, claramente, Janaina D’ Freitas se despregou do texto como dramaturga para compreende-lo como atriz.

DMRevista: Qual foi a parte mais desafiadora de montar este espetáculo?

Michel Mauch: A produção foi uma questão desafiadora. Hoje estamos apresentando em Goiânia por meio do projeto aprovado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/2014. Fato que nos é uma vitória. Mas, nossa primeira temporada, em 2013, foi financiada pelas pessoas, muitas vezes desconhecidas, que assistiram o vídeo no site Catarse, acreditaram no projeto, tornando-o ‘bem sucedido’ nessa plataforma.

DMRevista: Me parece que o figurino também ajudaram na construção dos personagens.

Michel Mauch: “E se os figurinos viessem primeiro que a encenação?” Esta foi a proposta de Rafael Rios ao aceitar realizar a concepção visualdo espetáculo. Ideia essa, já trabalhada pelo figurinista ao longo de sua carreira e expressa em seu livro Teatro com Materiais Ressignificados na imagem Teatral.  Dessa forma, o primeiro contato das atrizes com as personagens foi através da escolha do tecido, da cor, da pedraria que iria compor cada figurino. Cada tecido carregava traços da personalidade das personagens. Portanto, desde o primeiro ensaio as atrizes estavam vestidas com as roupas, as armaduras de suas personagens.

DMRevista: A montagem fala de mulheres reprimidas, mesmo quando não há ninguém para “podá-las”. Já viu exemplos na sociedade de casos como este? Em que circunstâncias?

Michel Mauch: Nossa sociedade busca se desamarrar de uma educação patriarcal. As amarras são difíceis e os laços ainda são firmes. A repressão vem no e do cotidiano, nas ações mais simples, que ora fazem o próprio ser humano defender, de forma inconsciente e até ingênua, o(a) seu (sua) opresso (opressora) e não vestindo as suas calças. Aqui, a ideia de vestir calças pode ser interpretada como tomar para si o destino das mudanças e investir em novas ações e circunstâncias para que elas aconteçam em outros planos.

Serviço

Espetáculo Mulheres que Não Vestiam Calças

Quando: Amanhã e sábado (16), às 20h

Onde: Centro Cultural UFG (Av. Universitária – Setor Leste Universitário)

Ingressos: R$10