Os vários centros de Goiânia

Data: 22 de fevereiro de 2016.

Fonte/Veículo: O Popular

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Crescimento da capital criou pelo menos 7 pontos que influenciam toda a cidade e carecem de planejamento

22/02/2016 05:00Cristiano Borges

Otávio Pereira, comerciante: “Mais uns 5 anos e ninguém consegue andar nesse Jardim Goiás”

Vandré Abreu

 

Goiânia é uma cidade em que pelo menos sete regiões são centros. Campinas é um centro. Os outros são os setores Bueno, Universitário, Pedro Ludovico, Jardim Goiás, Avenida Rio Verde e até o próprio Centro. Locais que influenciam todo o município, sendo polos geradores de tráfego, eles carregam um simbolismo da cidade, geram integração entre moradores e possuem maior valor do solo. São chamados de subcentros ou centralidades. Surgem com o desenvolvimento urbano e devem ser considerados no planejamento da cidade.

Estes subcentros foram identificados na pesquisa Centralidades & Mobilidade Urbana, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação Projeto e Cidade da Universidade Federal de Goiás (UFG), coordenado pela arquiteta e urbanista Erika Cristine Kneib, doutora em Planejamento de Transportes, com pós-doutorado em Mobilidade Urbana.

Historicamente, não houve qualquer planejamento para a criação das centralidades em Goiânia. Afora o próprio Centro, que recebeu infraestrutura suficiente para servir como espaço de integração da população, todas as outras centralidades citadas surgiram espontaneamente. O Setor Campinas, por exemplo, era município independente até a criação da capital, servindo como polo comercial nos primórdios da nova cidade. Foi a primeira centralidade de Goiânia.

Há estudos históricos que afirmam até mesmo ser Campinas o primeiro centro da capital, antes mesmo da configuração do Setor Central. Proprietário de uma oficina mecânica na Avenida Mato Grosso, Adail Santana, de 69 anos, mora no bairro desde 1955 e diz que “até hoje Campinas é melhor que Goiânia”. Santana conta que há mais de cinco anos não vai ao Centro, resolvendo tudo da sua vida no bairro, que, lembra ele, influencia diversos outros ao redor.

Também comerciante, Ademilton Ávila dos Santos, de 59, afirma que Campinas nunca vai deixar de ser um centro para Goiânia, sobretudo pelo forte comércio da região, que sofre mudanças ao longo do tempo. “Antes tinha muita mecânica, até a chegada dos atacadistas. O comércio aqui nunca vai morrer, mas vão mudando as lojas, os setores, os clientes. Hoje é um bairro que funciona o tempo inteiro, não dorme”, diz.

Mudanças

O que os moradores de Campinas vivenciam há décadas é uma novidade para quem habita a região do Jardim Goiás, por exemplo. O bairro era pouco atrativo e não possuía movimento ou atividades locais, até a criação do Parque Flamboyant. Foi então que a quantidade de moradores e polos atrativos fez com que a área se tornasse mais um subcentro de Goiânia, influenciando diversos setores ao redor, como a Vila Redenção e o Alto da Glória.

Com a construção do parque, o então metalúrgico Otávio Pereira, de 57 anos, resolveu deixar a profissão e apostar no próprio negócio, montando uma lanchonete ao lado da unidade ambiental, há oito anos. Morador há 30 anos do bairro, ele lembra quando não havia qualquer movimentação por ali. “Agora é muito carro, mais uns cinco anos e ninguém consegue andar nesse Jardim Goiás”, diz. Com isso, veio também a sensação de insegurança. “O bairro ficou muito visado.”

Erika Kneib afirma que outras áreas também podem ser consideradas centralidades, mas em graus diferentes, sendo essas sete já citadas as mais consolidadas. “Por isso é importante identificá-las, para inseri-las dentro de um processo de planejamento e fomentar as que são desejadas; ou frear o crescimento das que não devem crescer, seja por questões ambientais, por exemplo, ou outras a serem investigadas.” Nesse caso, há potenciais centralidades na Região Norte, na área do Aeroporto de Goiânia e do Câmpus da UFG, fortalecido com o surgimento do Shopping Passeio das Águas.

Para ela, é preciso incentivar o desenvolvimento sustentável da localidade, diferente do que ocorreu nas centralidades já consolidadas. O exemplo é o próprio Jardim Goiás, cujo adensamento populacional gerou também problemas viários e ambientais. Bueno e Pedro Ludovico também enfrentam problemas. “As centralidades deveriam guiar a metodologia de trabalho do próximo Plano Diretor de Goiânia, contribuindo para que ele seja desenvolvido integrado e articulado nas diversas escalas necessárias, que vão da metrópole, passando pelo município, pelo bairro e pela centralidade. Não se pode parar na escala do município”, diz Erika.

Diomício Gomes

Adail Santana, proprietário de oficina mecânica: “Até hoje Campinas é melhor que Goiânia”